Crescimento da inflação não atinge a comida fornecida nas… lixeiras

A consultora Fitch Solutions reviu em alta a estimativa de evolução da inflação para este ano em Angola, devido ao aumento das taxas de juro pelo banco central (BNA) e prevê agora que os preços subam 23,5%. Valha, ao menos, que não haverá aumento dos preços no sistema de acesso livre ao “self-service” alimentar criado pelo MPLA, as lixeiras…

“Acreditamos que no resto do ano o banco central vai manter a taxa de juro referência nos 20%, embora os riscos sobre a nossa previsão sejam ascendentes”, escrevem os analistas desta consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings, que puxaram de 21,5% para 23,5% a previsão sobre a evolução dos preços.

Na nota enviada aos clientes, os analistas ressalvam, no entanto, que “a moderação dos preços mais lenta do que o antecipado, em conjunto com o compromisso renovado do Banco Nacional de Angola de controlo da inflação, pode levar a um aumento da taxa ainda este ano”.

O Banco Nacional de Angola subiu as taxas de juro directoras em 450 pontos base (4,5 pontos percentuais) para 20% na reunião deste mês, o primeiro aumento em mais de três anos, o que, para a Fitch, “reflecte a decisão do parlamento, no mês passado, de rever o mandato do banco central para lhe dar um foco maior na estabilidade dos preços”.

Este aumento levou a Fitch a rever a previsão sobre a evolução da taxa, que os analistas antecipam que vá manter-se nos 20% até final do ano, já que a inflação ficou nos 24,9% em Maio, a maior taxa desde Dezembro do ano passado, quando registou 25,1% e a segunda maior dos últimos quatro anos.

Inflação é como a fome. Não pára de crescer

Em Maio, os preços em Angola tinham aumentado 24,82% nos últimos 12 meses, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano, depois de ter visto um aumento de 2,09% nos preços entre Março e Abril.

“A variação homóloga situa-se em 24,82%, registando um acréscimo de 4,01 pontos percentuais com relação a observada em igual período do ano anterior”, refere o Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN).

Já desde o início do ano, a inflação em Angola somava 7,65%, valor semelhante ao registado nos primeiros quatro meses de 2020, quando alcançou os 7,89%. Em relação a 2019, isto representa um aumento de 3,25 pontos percentuais face aos 4,40% então registados.

Na proposta do Orçamento Geral do Estado angolano para 2021, Luanda estimou uma taxa de inflação acumulada anual de 18,27% para este ano.

Em Janeiro, a consultora NKC African Economics estimou que a inflação angolana deverá aumentar dos 22,2% registados em 2020 para 22,6% este ano, devido à depreciação da moeda e à crise económica no país.

Entretanto, devido à pandemia de MPLA-45 (uma simbiose de Covid-19, petróleo e incompetência), o Governo continua a acreditar que a mina de fiado é inesgotável, apostando que vamos continuar, com sucesso, a pedir dinheiro aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres.

No final de Novembro, o Comité de Política Monetária do Banco Nacional de Angola manteve a previsão de 25% de inflação para o presente exercício económico “pelo que continuará a monitorizar todos os factores monetários determinantes da inflação”.

A consultora NKC African Economics considera que a inflação em Angola, que está no valor mais alto desde 2017, vai continuar elevada em 2021 devido à forte dependência dos produtos importados e à depreciação do kwanza. Ou seja, tudo normal segundo a superior definição estratégica do MPLA.

“A inflação aumentou apesar das fracas condições económicas globais e locais, que resultaram principalmente da queda dos preços do petróleo este ano (2020) e da liberalização cambial de 2019 e que fizeram com que o kwanza tenha perdido 26% do seu valor desde o princípio do ano”, escrevem os analistas.

“A depreciação do kwanza vai continuar a colocar pressão nos preços dos consumidores, devido à forte dependência de Angola dos bens importados, que é evidente pelo facto de a maior parte da inflação ser motivada pelo aumento dos preços alimentares”, acrescentam os analistas numa nota enviada aos clientes.

Provavelmente Matias Damásio, embaixador da Produção Nacional, que criou uma música específica para incentivar a massificação da produção nacional (Semear, mais Angola, mais produção nacional), terá de adubar melhor o Prodesi – Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações.

Recorde-se que o Prodesi foi aprovado pelo Decreto Presidencial n.º 169/18 de 20 de Julho e é um programa Executivo para acelerar a diversificação da produção nacional e geração de riqueza, num conjunto de produções com maior potencial de geração de valor de exportação e substituição de importações, designadamente nos seguintes sectores: alimentação e agro-indústria, recursos minerais, petróleo e gás natural, florestal, têxteis, vestuário e calçado, construção e obras públicas, tecnologias de informação e telecomunicações, saúde, educação, formação e investigação científica, turismo e lazer.

O resultado mais imediato da desvalorização do kwanza é o aumento dos preços. Uma moeda fraca (e não é chipala de Agostinho Neto que lhe dará robustez) é uma moeda sem circulação monetária fora das fronteiras de Angola, longe de afectar exclusivamente os preços dos bens e serviços importados, afecta também todos os preços internos, inclusive dos bens produzidos nacionalmente. A razão é óbvia: se a moeda enfraquece face a outras moedas congéneres estrangeiras, isso significa, por definição, que passa a ser necessário ter uma maior quantidade de moeda nacional para adquirir o mesmo bem ou serviço importado.

Bens produzidos nacionalmente também encarecem, pois as indústrias produtoras utilizam bens e serviços importados ou, no mínimo, peças importadas. Uma simples empresa que utiliza computadores e precisa continuamente de comprar peças de reposição vivenciará um grande aumento de custos.

Pior ainda: os preços dos alimentos são directamente afectados pela desvalorização da moeda. Com a desvalorização do Kwanza, no mercado internacional, a aquisição de petróleo, café, bananas, diamantes, etc. ficou muito mais barata para os estrangeiros com moeda mais forte.

Consequentemente, as empresas e produtores angolanos dessas matérias-primas passaram a vendê-las em maior quantidade para o mercado externo, gerando uma diminuição da sua oferta no mercado interno e um aumento dos seus preços pela escassez de bens e serviços em Angola.

A desvalorização cambial mexe com toda a estrutura de preços da economia, aumentando a taxa de inflação, reduz o poder de compra dos consumidores, gera aumento das taxas de juro do banco central, encarecendo o preço do dinheiro na banca comercial, entre outras consequências directas e indirectas.

Folha 8 com Lusa

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