CESTA BÁSICA… RELATIVA

O Ministério da Indústria e Comércio tem (segundo diz) em marcha, a partir de hoje, para todo o país, o plano operacional de funcionamento da Reserva Estratégica Alimentar, numa operação em que deverá introduzir, de forma imediata mas relativa 352 mil toneladas de açúcar em sacos de 50 quilogramas (kg), arroz (25 kg) e coxas de frango (caixas de 10 kg).

Com esta medida, o Governo prevê-se um impacto na redução dos preços, em até 5%, para o consumidor final, segundo revela o órgão oficial do MPLA, Jornal de Angola. A operacionalização efectiva da Reserva Estratégica Alimentar (REA) é uma iniciativa do Governo, que (diz-se) visa regular o mercado e influenciar a baixa de preços de produtos alimentares essenciais que integram a cesta básica, numa parceria com a empresa Gescesta, entidade gestora.

De acordo com uma nota do Gabinete de Comunicação Institucional do Ministério da Indústria e Comércio, o arranque relativo desta operação é marcado com uma visita do ministro Victor dos Santos Fernandes, às instalações do Entreposto Aduaneiro de Angola.

O documento refere que a Reserva Estratégica Alimentar vai garantir a aquisição, armazenamento e distribuição relativa de mais de 520.000 toneladas de produtos alimentares, parte deles já produzidos e transformados localmente.

O início da operação coloca de imediato no mercado, já nesta primeira fase, até 354 mil toneladas de alimentos e, progressivamente, vai efectuar aumentos até chegar-se às 520.000 toneladas.

No decorrer das próximas semanas começam a ser distribuídos os restantes nove produtos, dos 11 que integram a gestão da REA, em alinhamento com os compromissos assumidos pela Gescesta, no sentido de garantir operacionalidade e rigor relativos na oferta e disponibilidade destes produtos ao mercado, como forma de permitir o acesso a estes, em condições justas, por parte da generalidade da população.

A Gescesta é a empresa responsável pela gestão do processo, que envolverá a participação de muitas outras entidades, e que vai permitir a aquisição, recepção, armazenamento e distribuição destes produtos, para todos os diferentes agentes do mercado (armazenistas/grossistas e retalhistas), em resultado de um concurso internacional e das necessárias garantias de capacidade, operacional e financeira, numa lógica que envolve o Ministério da Indústria e Comércio e o Entreposto Aduaneiro de Angola.

A nota refere que vários factores impossíveis de controlar, como a Covid-19, e outros, do conhecimento geral, tiveram efeitos muito negativos nas cadeias de produção relativa e sistemas logísticos dos produtos alimentares básicos, em todo o mundo, resultando na escassez e aumento significativo dos preços.

Cita que, pelas circunstâncias, o Governo de Angola tem tomado importantes e relativas medidas para proteger e melhorar a vida das famílias e empresas, como a aceleração da industrialização do país, o aumento da produção nacional, tais como esta da Reserva Estratégica Alimentar, bem como das acções de fiscalização da Autoridade Nacional de Inspecção Económica e Segurança Alimentar (ANIESA), confiando que os angolanos vão começar a sentir de imediato os efeitos benéficos destas medidas.

Com a actuação da Reserva Estratégica Alimentar, os diversos agentes da distribuição alimentar do mercado nacional vão, finalmente, poder adquirir e disponibilizar produtos da cesta básica aos preços de referência do mercado internacional, melhorando, assim, o nível de vida das famílias angolanas.

Para quem é… farelo basta

A Comissão Económica do Conselho de Ministros de Angola aprovou no dia 30 de Março de 2021 dois documentos relativos à alimentação, um com o objectivo de minimizar os impactos da estiagem na produção agrícola e pecuária e outro sobre estabilização dos preços dos bens alimentares.

Depois dessa aprovação, bem que os membros da comissão mereceram um jantar relativamente frugal, tipo trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas e umas garrafas de vinho Château-Grillet 2005.

Segundo o comunicado final da reunião, foi adoptado um memorando que prevê medidas de curto, médio e longo prazo, que visam mitigar os efeitos da estiagem “de modo a deter o aumento da pobreza das comunidades afectadas e evitar a sua emigração para outras regiões”.

Nos últimos tempos, famílias afectadas pela seca no sul de Angola, tentam escapar à fome fugindo para a vizinha Namíbia e muitas dependem da ajuda de familiares ou ofertas ocasionais para se alimentarem.

O memorando de entendimento então aprovado previa a atribuição de insumos agrícolas, disseminação e vulgarização da prática de culturas de raízes e tubérculos como mandioca e batata doce nas regiões com seca severa, distribuição de pequenos equipamentos de rega, reabilitação e construção de pequenos e médios esquemas de regadio, introdução de culturas forrageiras nas regiões semiáridas, construção de açudes e barragens, transvase dos rios e capacitação no uso de novas tecnologias e formas de maneio de gado nas comunidades pastorícias.

Foi também aprovado um documento relativo aos bens alimentares com propostas de medidas “pontuais, temporárias e urgentes” para a redução dos respectivos preços.

“Face ao carácter emergencial deste problema, a Comissão Económica adoptou algumas medidas transitórias e urgentes, que deverão vigorar num período de quatro meses, nomeadamente uma maior flexibilidade no processo de importação dos produtos da cesta básica; a realização de encontros de concertação com os principais produtores e importadores de produtos alimentares e a criação de condições efectivas para a implementação da Reserva Estratégica Alimentar”, lê-se no documento.

Trufas e caviar no jantar

Recorde-se que, em Julho de 2008, os líderes das oito economias mais industrializadas do mundo (G8), reunidos no Japão numa cimeira sobre a fome, causaram espanto e repúdio na opinião pública internacional, após ter sido divulgada pelos órgãos de comunicação social a ementa dos seus almoços de trabalho e jantares de gala.

Reunidos sob o signo dos altos preços dos bens alimentares nos países desenvolvidos – e consequente apelo à poupança -, bem como da escassez de comida nos países mais pobres, os chefes de Estado e de Governo não se inibiram de experimentar 24 pratos, incluindo entradas e sobremesas, num jantar que terá custado, por cabeça, a módica quantia de 300 euros.

Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas eram apenas alguns dos pratos à disposição dos líderes mundiais, que acompanharam a refeição da noite com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005, que estava avaliado em casas da especialidade online a cerca de 70 euros cada garrafa.

Não faltou também caviar legítimo com champanhe, salmão fumado, bifes de vaca de Quioto e espargos brancos. Nas refeições estiveram envolvidos 25 chefs japoneses e estrangeiros, entre os quais alguns galardoados com as afamadas três estrelas do Guia Michelin.

Segundo a imprensa britânica, o “decoro” dos líderes do G8 – ou, no mínimo, dos anfitriões japoneses – impediu-os de convidar para o jantar alguns dos participantes nas reuniões sobre as questões alimentares, como sejam os representantes da Etiópia, Tanzânia ou Senegal.

Os jornais e as televisões inglesas estiveram na linha da frente da divulgação do serviço de mesa e das reacções concomitantes. Dominic Nutt, da organização Britain Save the Children, citado por várias órgãos online, referiu que “é bastante hipócrita que os líderes do G8 não tenham resistido a um festim destes numa altura em que existe uma crise alimentar e milhões de pessoas não conseguem sequer uma refeição decente por dia”.

Para Andrew Mitchell, do governo-sombra conservador, “é irracional que cada um destes líderes tenha dado a garantia de que vão ajudar os mais pobres e depois façam isto”.

A cimeira do G8, realizada no Japão, custou um total de 358 milhões de euros, o suficiente para comprar 100 milhões de mosquiteiros que ajudam a impedir a propagação da malária em África ou quatro milhões de doentes com Sida. Só o centro de imprensa, construído propositadamente para o evento, custou 30 milhões de euros.

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