A UNITA despediu-se do general Chilingutila, que morreu no passado domingo, elogiando “um dos melhores filhos de Angola”, após uma semana de cerimónias fúnebres em memória do ex-vice-ministro da Defesa e dirigente do partido do “Galo Negro”. Leia, aqui, o texto «“Até breve, “Dilúvio”», assinado por William Tonet.
O elogio fúnebre do partido em honra e memória do general, destacou um dos “melhores filhos de Angola, um patriota que amou profundamente a sua pátria e a sua gente”.
“Foi um homem que não só participou, mas também fez a História de Angola dos últimos 47 anos”, referiu Augusto Domingos Lutock Liahuka “Wiyo”, que assinou o elogio em nome da direcção da UNITA.
“Senhor General Chilingutila, orgulhaste-nos a todos em todas as batalhas militares, políticas, diplomáticas e administrativas. Foste o melhor!”, sublinhou o general “Wiyo”, assinalando que “a UNITA e Angola jamais esquecerão os seus feitos e os sacrifícios livremente consentidos”.
As cerimónias fúnebres dividiram-se entre o Huambo, onde o militar e dirigente morreu, aos 74 anos, vítima de um enfarte agudo do miocárdio, e Luanda, encerrando na capital angolana com uma homenagem do partido ao seu correligionário, que decorreu na quinta-feira.
Demóstenes Amós Chilingutila nasceu em 30 de Novembro de 1947, na localidade de Bémbua, Missão Evangélica de Kamundongo, Província do Bié.
Chilingutila, nome atribuído pela avó paterna, significa em português “o que as crianças fazem, os adultos não entendem”, segundo uma nota biográfica distribuída pela UNITA.
Ingressou na vida militar, no Exército Colonial, em Julho de 1968, e foi perseguido mais tarde pela polícia política colonial PIDE, tendo sido obrigado a abandonar Luanda.
Em 1974, após o 25 de Abril filia-se na UNITA. Foi nomeado por Jonas Savimbi para Comandante Provincial do Cunene, sendo depois promovido a capitão e aí permaneceu até à retirada estratégica da UNITA das cidades, em 1976, tendo subido progressivamente na hierarquia militar até ao grau de general, em Novembro de 1986.
No quadro do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional, formado em 1997, no âmbito da implementação do Protocolo de Lusaka, o general Demóstenes Chilingutila foi indicado pela UNITA para o cargo de vice-ministro de Defesa Nacional.
Desde 1976, integrou sempre os órgãos de Direcção da UNITA e, até à sua morte, foi membro da Comissão Política Nacional e do Conselho Presidencial. Foi eleito deputado pelo círculo nacional, nas eleições de 2008 e reeleito em 2012, tendo pertencido à 2.ª Comissão de Trabalho Especializada da Assembleia Nacional, onde ocupou o cargo de secretário.
Também o Ministério da Defesa e Veteranos da Pátria, liderado por João Ernesto dos Santos “Liberdade” manifestou, na segunda-feira, consternação pela morte do nacionalista, destacando o seu envolvimento na luta anticolonial, nos acordos de Bicesse e na formação das Forças Armadas Angolanas (FAA) entre outros processos que conduziram à paz e reconciliação nacional.
ATÉ BREVE, “DILÚVIO”!
Foi-se mais um Amigo: Demóstenes Amós Chilingutila “Dilúvio”, general reformado das FAA.
Parido nas margens sul do Rio Kwanza, orgulhosamente, lá se fez homem e intrépido comandante militar, primeiro nas fileiras da UNITA e, depois, fruto dos acordos de cessar-fogo de 1991, entre a UNITA e o MPLA/Governo, as Forças Armadas de Angola, onde serviu, fiel e ordeiramente, em respeito a Constituição, em vigor.
Até os últimos minutos do seu relógio biológico, foi um oficial comprometido, mais e sobretudo com o país do que com a ideologia partidocrata, em homenagem ao juramento de bandeira, ao rigor e à disciplina militar, enquanto importantes munições do acervo mental dos condutores de homens armados.
Hoje, Janeiro de 2021, a notícia, vinda do interior do boletim clínico de um hospital, do Planalto Central, Huambo, confirma ter recebido uma sublime ordem do Criador, para uma nova missão, desta vez, celestial. E, como bom filho e oficial militar disciplinado e íntegro, partiu na vertical, como é apanágio dos grandes chefes militares e, quis a ironia do destino, que a sua ida para o além, fosse, também, com a força dos ventos do Sul, seu berço identitário. Aleluia!
Como desconsigo expressar, por palavras, os momentos de intensa cumplicidade, vividos com este monstro de humildade e simplicidade, nos húmus libertários desta nossa Angola profunda, onde a cultura, a tradição e as línguas angolanas, são solenes e perenes, fico-me pelo dito, brilhantemente, pelos que me antecederam, nos elogios e com ele foram mais cúmplices, no teatro das operações militares, política e social.
E, quando assim é, torna-se desnecessário, mais eloquência, pois identificamos com a sinceridade do testemunho de gente com fibra, como os generais Gato, Kandanda e Nunda, este último, que uma vez mais emprestou higiene intelectual, no elogio ao seu companheiro de trincheira.
Nunda, que havia abandonado o tio/pai, para se juntar às fileiras do então inimigo: FAPLA/Governo, onde chegou a chefe do Estado Maior General das FAA, ao reconhecer os muitos feitos do general Chilingutila, não deixando de reverenciar, pese todos os erros, um homem que foi líder de ambos: Jonas Savimbi.
Elevação intelectual, que distingue muitos dos que vieram das matas: UNITA, muitas vezes, demonstrando, apesar das divergências, possuírem maiores valores morais e éticos, que o próprio MPLA, cuja mentalidade, infelizmente, deixa muito a desejar, ao vilipendiar, em praça pública, os seus símbolos e dirigentes!
Sachipengo Nunda deu um grande exemplo, na hora de se despedir do companheiro de armas.
Por tudo isso, não penses nunca, que como teu amigo, aceitarei não revisitar o teu disco duro mental. Falo-ei, muitas vezes, pois a tua ausência é apenas um ATÉ BREVE, pois, logo, logo, estaremos juntos na esquina principal do Morro do Mbave, no bar do velho Kassinda, sem máscaras, porque já vencido o COVID–19 a bebermos uma boa Tchissangua!
Um abraço forte do Chefe Indígena.
TAMOJUNTO!
William Tonet