Repressão? Onde, onde?

A organização não-governamental (ONG) angolana Friends of Angola manifestou hoje “preocupação e apreensão” com a repressão da manifestação de quarta-feira, lamentando as detenções, espancamentos e morte de manifestantes que, contudo e citando a Polícia, não existiram…

“A repressão brutal contra manifestantes pacíficos por parte da Polícia Nacional viola o conjunto de valores e princípios que se consubstanciam no espírito da independência nacional, alcançada com enorme sacrifício consentido por angolanos e angolanas de diversos estratos sociais”, declarou, em comunicado, a Friends of Angola (FoA).

Segundo a ONG, várias pessoas foram detidas e espancadas em confrontos com a polícia durante a tentativa de manifestação que estava prevista, coincidindo com a celebração dos 45 anos da independência nacional de Angola.

A FoA afirmou que se registou ainda “a morte do cidadão e manifestante Lando Lukombo”, morto a tiro por volta das 11:00 e endereçou “sentidos pêsames” à família.

Na quarta-feira, alguns activistas relataram a morte de pelo menos um manifestante, mas a polícia afirmou que o jovem se encontrava hospitalizado. Aliás, como se sabe, o jovem tropeçou na sua própria sombra, caiu e bateu com a cabeça na sombra de um Polícia que, aliás, prontamente o socorreu. Só mesmo mentes mal intencionadas podem afirmar que na quarta-feira houve violência…

A FoA considerou ainda que o Governo do Titular do Poder Executivo, João Lourenço, por sinal também Presidente da Re(i)pública e do MPLA, tem estado “a revelar uma deriva totalitária” que remete para a “era dos Santos”, numa alusão ao antigo presidente José Eduardo dos Santos que, recorde-se, foi quem escolheu João Lourenço para o substituir, “marcada por uma quantidade industrial de violações dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos”.

A bem da verdade, importa recordar à FoA e – já agora – a todo o mundo, que as violações dos direitos, liberdades e garantias são aconteceram em relação aos angolanos de segunda, os que não são do MPLA.

Os acontecimentos trágicos, acrescentou a nota, “revelam igualmente que as promessas de reforma do Presidente João Lourenço são vazias e revelam-se mentirosas na medida exacta em que, a par de outros casos, os cidadãos são impedidos de exercer o direito à manifestação, consagrado na Constituição”.

Nova correcção. Só são impedidos de exercer o direito à manifestação os angolanos de segunda, ou seja, os que não são do MPLA. A todos os outros (numa população de 30 milhões são mais de… 40 milhões) esse direito é mesmo um direito.

A ONG apelou ao Presidente da Coreia do Norte, perdão, de Angola, para que “mude a postura que tem tido para com os manifestantes” e alertou para os riscos que a repressão das manifestações apresenta para a estabilidade política em Angola.

Essa questão da estabilidade política é para o lado que João Lourenço dorme melhor. Por alguma coisa são cada vez mais os dirigentes do MPLA a dizer que o 27 de Maio é sempre que o Presidente quiser…

A tentativa de manifestação em defesa de coisas perfeitamente inadequadas e injustas, como sejam melhores condições de vida e eleições autárquicas em 2021, que tinha sido proibida pelo governo de Luanda, ficou marcada por confrontos, com a polícia a usar gás lacrimogéneo, tanques de água, cães polícias e fogo com balas reais contra grupos de jovens que tentavam aproximar-se do centro da cidade.

Em relação às balas reais, registe-se que o Folha 8 (que esteve lo centro do furacão) confirma que foram usadas essas balas, não tendo – contudo – conseguido certificar-se de que não seriam balas que andavam perdidas desde 1992, altura em que o MPLA tentou decapitar a UNITA.

A polícia garantiu ter usado apenas meios não letais, próprios “neste tipo de eventos”. É verdade. Por alguma razão o que se viu no local, e que foi confundido com invólucros de balas, mais não eram do que vestígios dos rebuçados e chocolates que o Ministro Eugénio Laborinho entregou aos polícias para distribuir pelos manifestantes…

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