O Presidente da República, João Lourenço, defende uma industrialização do continente africano assente numa nova perspectiva de aceleração, ancorada no “Plano Marshall da Alemanha com a África”. Em síntese, o que o se pretende é, por inépcia própria, que se peça dinheiro aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres.
O Chefe de Estado angolano assumiu essa posição quando participava, por vídeo-conferência, na Terceira Edição da Cimeira Global de Manufacturação e Industrialização.
No evento promovido pela Agência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI), João Lourenço sublinhou que o desenvolvimento económico, industrial e tecnológico de África dependerá de uma aposta séria na formação massiva de quadros qualificados nos mais diferentes ramos do saber. Estratégia que, ao fim de 45 anos de poder absoluto, o MPLA não conseguiu concretizar, prevendo-se que precise de mais 55 anos para lá chegar.
Segundo o Presidente angolano, a aposta na formação deve ser acompanhada da criação de políticas que motivem a permanência desses quadros nos respectivos países. La Palice não diria melhor.
O Presidente fez notar que “África é um dos continentes com as maiores reservas mundiais de recursos naturais como a água dos rios e lagos, terras aráveis, florestas e abundantes recursos minerais, entre os quais alguns raros e estratégicos, mas que, apesar disso e paradoxalmente, é o continente menos desenvolvido do ponto de vista económico, industrial e tecnológico”. E quem são os culpados? Os outros, é claro! Ser dono de todas essas riquezas durante 45 anos não foi suficiente. É o resultado de em vez de se produzir riqueza apenas produzir… ricos.
João Lourenço considerou que “para a actual situação contribuiu negativamente a colonização a que o continente esteve submetido ao longo de séculos e as actuais relações entre África e o mundo industrializado, nas injustas trocas comerciais das matérias-primas por nós produzidas e os bens de consumo manufacturados pelos mais desenvolvidos”.
Como tudo o que é exagerado é moléstia, continuar ao fim de 45 anos a culpar, no caso de Angola, os portugueses é uma forma de branquear a incompetência do MPLA.
Vejamos um texto de Carlos Pinho, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto que, embora seja angolano, não pode (como muitos outros) ser angolano por ter cometido o “crime” de ser branco, não ser do MPLA, não ter o cérebro no intestino nem coluna vertebral amovível. O artigo foi publicado aqui no Folha 8 no dia 6 de Julho, com o título “Antes havia. Hoje não há. Culpado há só um”:
«Caro Senhor Presidente João Lourenço. Gostei de saber que V. Exa., na altura da inauguração do novo Instituto Geológico de Angola, em Luanda, tenha referido, no seu discurso que Angola tem muito mais recursos minerais além de petróleo, gás natural e diamantes.
Pois tem, e mais ainda, tem, ou devia ter outro tipo de recursos, tais como agrícolas, silvícolas, pesqueiros, turísticos e humanos. Mas a fixação nos recursos naturais minerais é uma fixação mórbida. Como dá imenso trabalho actuar noutras áreas, nesta dos recursos minerais é só escavar e há sempre estrangeiros dispostos a tal. Portanto toca a cavar.
Pois lá no antigamente, no tempo colonial, havia maior disparidade de recursos, a começar pela gente, que apesar de serem uns patifórios colonialistas, olhavam para Angola com outros olhos. Refiro-me ao que se passou de 1961 a 1974, por força da guerra colonial, pois, como já disse em escrito anterior, os governantes coloniais, em pânico porque iam perder a jóia da coroa, meteram pernas a caminho. Foi um esforço inútil para se conseguirem os objectivos de controlar e manter a tal jóia da coroa, mas foram esforços bem conseguidos para o bem-estar dos angolanos. Sim, com muitas contingências sociais, económicas e rácicas, ou seja, um interesse oportunista do regime colonial. Mas quando houve a oportunidade de se corrigir o tiro foi o disparate que se sabe. Sei que estou sempre a dizer o mesmo, mas sabe Senhor Presidente, eu tinha e tenho a esperança que água mole em pedra dura…
Mas a persistência obstinada do partido que governa, melhor dizendo, desgoverna o país, já para mais de 45 anos acaba por levar a situações caricatas e vergonhosas.
Continuando nisto de “há mais do que petróleo, gás natural e diamantes” gostaria de relembrar a V. Exa. que:
– Angola em 1974 era o terceiro maior produtor mundial de café;
– Angola em 1974 era o quarto maior produtor mundial de algodão;
– Angola em 1974 era o primeiro exportador africano de carne bovina;
– Angola em 1974 era o segundo exportador africano de sisal;
– Angola em 1974 era o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe;
– Angola em 1974, por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África;
– Angola em 1974 tinha o CFB – Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo-RDC, o CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela;
– Angola em 1974 tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME;
– Angola em 1974 tinha pelo menos, que eu saiba, três fábricas de salchicharia;
– Angola em 1974 tinha, que eu saiba, quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes;
– Angola em 1974 tinha, que eu saiba, pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas;
– Angola em 1974 tinha, que eu saiba, pelo menos duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas;
– Angola em 1974 tinha, que eu saiba, pelo menos seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito;
– Angola em 1974 tinha a fábrica de pneus da Mabor;
– Angola em 1974 tinha três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande. Sendo que, como estas fábricas depois começaram a criar ferrugem por culpa dos malandros dos colonos que se foram embora, os amigos cubanos do MPLA lá as empacotaram e as levaram para a terrinha deles. Corrijo, deixaram as paredes. Vá lá, sempre deixaram algo;
– Angola em 1974 era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco.
E falta falar da linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum, e…, e… Bom, acho que já chega!
Mas Senhor Presidente, a rapaziada do seu partido, capitaneada por esses dois patifórios que foram os dois primeiros presidentes do país, desbarataram alegremente esta malfadada herança colonial da qual, foi por mim, nos parágrafos atrás referida uma parte não despicienda. Deixei propositadamente de lado a parte da educação e da saúde, simplesmente por razões humanitárias da minha pessoa em relação a V. Exa. e à digníssima colecção de mandraços que constitui o Bureau Político do MPLA, doravante designada por BPMPLA, já que a prosa vai longa e custa-me escrever um palavrão assim tão complicado.
É que eu queria falar-lhe do BPMPLA, já que V. Exa. fez por lá, na abertura dos últimos trabalhos do dito BPMPLA, um discurso choroso, sobre os mauzões que malham, malham, sem respeito por tais augustas pessoas. Mas então V. Exa, após ver o rol do “há mais do que petróleo, gás natural e diamantes” que acabei de enunciar, ainda acha que os que malham, malham é que são os malandros? Não se convenceu do que os mauzões são outros e que andam de paredes meias consigo?
Então eu passo a explicar! Mas olhe que não preciso de ir ao Folha 8, vou apenas ao Correio Angolense e refiro unicamente duas das suas mais recentes crónicas. Uma intitulada “MPLA inaugura precedente revisionista da História” e outra intitulada “Em Lisboa e Porto a “farra” está no ponto”. Para já, vou começar pela segunda. Neste texto está mais do que provado e explicado por onde anda a malandragem que vem impunemente saqueando Angola. A fonte é por demais conhecida, e por isso não me alongo mais. O partidão está para durar!
Mas o primeiro texto, Ah! O primeiro texto! Que depois até foi publicado pelo Folha 8. Aí subiu-me a mostarda ao nariz.
Então os senhores do BPMPLA, e já agora do MPLA como um todo, e os seus simpatizantes, e cantadores de loas, não têm um pingo de vergonha na cara e votam ao ostracismo mais abjecto, o Viriato da Cruz e o Mário Pinto de Andrade? A coisa é tão nojenta que a esposa do Viriato da Cruz, em desespero de causa pediu ao Governo Português que lhes dessem passaportes para que pudessem sair da China, onde estavam retidos por ordens da direcção do MPLA. Ao que os senhores do MPLA chegaram, mormente o A. A. Neto e sua pandilha para levaram a senhora a pedir socorro ao regime colonial. Que falta de humanidade! E o Mário Pinto de Andrade que teve na Guiné-Bissau a dignidade que lhe foi recusada por Angola?
E podia ainda falar do tratamento que o A. A. Neto deu ao Dr. Hugo Azancot de Menezes, mas a conversa já vai longa. Isto é uma espiral infinda de maldades e esquecimentos propositados que só mostra a falta de nível daqueles que se apoderaram do poder em Angola
Só um à parte, para haver justiça a Universidade de Luanda devia ter sido baptizada como Universidade Viriato da Cruz, enquanto aquela do Huambo se devia chamar Universidade Mário Pinto de Andrade. Mas a vida é o que é, e a falta de vergonha dos homens é por demais conhecida.
Concordo consigo, Senhor Presidente João Lourenço. Em Angola “há mais do que petróleo, gás natural e diamantes”, e há principalmente muita gente muito ordinária que não merece o mínimo de respeito e consideração. E segundo o artigo do Correio Angolense “Em Lisboa e Porto a “farra” está no ponto”, eles pegaram no seu pé. Não vai sacudi-los? Ou será que o senhor está conivente com eles?»