O superministério do novo (mais um) executivo angolano que junta Cultura, Turismo e Ambiente vai gerir um orçamento menor do que o que estava adstrito às três pastas, assumiu a ministra Adjany Costa. Nada de anormal se levarmos em conta o tempo que estiver no cargo, desde logo porque a especialidade do Titular do Poder Executivo é mascarar a sua incompetência com exonerações, remodelações e estratégias similares.
“O orçamento vai ser único. Com a situação que estamos a viver vai haver um corte ainda maior, mas vai haver negociações e vamos ver o que se pode fazer”, disse Adjany Costa aos jornalistas após a cerimónia formal de passagem da pasta da ministra do Turismo cessante, Ângela Bragança para a nova ministra da Cultura, Turismo e Ambiente.
“São três sectores gigantes, universais, que agora vão trabalhar juntos, por isso, o orçamento vai ser reduzido”, declarou. É, aliás, uma originalidade típica de quem (João Lourenço) não sabe o que anda a fazer. Lá vamos ter, se “haver” necessidade, a cultura a fazer turismo e o ambiente a ministrar cultura.
As prioridades serão, assim, fazer uma “reestruturação orgânica” e “identificar os objectivos comuns. Como o orçamento vai ser único e vai ser limitado, há que criar um mecanismo para que os três sectores se desenvolvam em simultâneo e em equilíbrio”, sublinhou Adjany Costa.
Na área do Turismo, Adjany Costa defendeu que o turismo interno é o primeiro passo para “estabelecer uma indústria robusta e depois criar um mercado externo”, salientando que “como angolana, gostaríamos todos de conhecer mais o nosso país e nós somos a chave para isto”. Quem diria? Finalmente, ao fim de 45 anos, o MPLA descobriu o “ovo de Colombo”?
Adjany Costa vai trabalhar com as suas antecessoras nas pastas do Ambiente e Cultura, Paula Coelho e Maria da Piedade de Jesus, que são as novas secretárias de Estado das respectivas áreas.
Quanto a Ângela Bragança, mostrou-se disponível para colaborar com a sua sucessora para “tornar o turismo mais forte”. “Não me considero uma pedra fora (…) A Ângela de sempre está convosco para trabalhar”, afirmou.
Adjany Costa adiantou ainda que terá um secretário de Estado para o Turismo, mas ainda não foi nomeado.
Ao assumir as pastas, a nova ministra declarou o seu compromisso (não terá sido antes, citando a ex-ministra da Educação, Ana Paula Elias, um cultural… “compromíssio”?) e empenho no cargo, esperando poder contar “com as enciclopédias vivas” que estiveram no sector anteriormente e combinar a experiência “com o espírito inovador da juventude angolana” para criar “um patamar de excelência para o Turismo baseado na integridade e protecção dos ecossistemas”.
Os símios das enciclopédias vivas
O texto que se segue, intitulado «Fórum Mundial do Turismo elogia Angola, espaço “virgem” e “ideal” para investimentos» é da autoria do jornalista José Sousa Dias, da Lusa, publicado em 24 de Maio de 2019 e a seguir transcrito “ipsis verbis”. O que nós pensamos sobre o assunto aparece depois, de forma bem assinalada, para não gerar confusões.
«O presidente do Fórum Mundial do Turismo disse hoje à agência Lusa, em Luanda, que, em termos de turismo, Angola é “virgem” e que isso a torna um dos principais países da África Austral para investir.
Bulut Bagci, de nacionalidade turca, está em Angola onde organizou a reunião anual do Fórum Mundial do Turismo (WTF, na sigla inglesa), destacou que o território angolano tem um potencial “muito grande”, quer ao longo dos mais de 1.600 quilómetros de costa quer no interior, em que os parques nacionais dominam.
“Angola é um país virgem. Muito, muito virgem. Há imensos produtos em África, especialmente na África do Sul, onde há o [Parque Nacional do] Kruger, no Quénia, que tem outros parques nacionais, o mesmo se passando na Tanzânia, mas Angola tem a vantagem de juntar os três num só [parque], o que Quissama”, defendeu, salientando a aposta que o governo angolano está a fazer no país.
No entanto, referiu, “falta uma das coisas mais importantes”, que são as infraestruturas, “que não são desenvolvidas”.
“A primeira coisa que Angola deve fazer é focar-se na construção de infraestruturas nos destinos turísticos [estradas, aeroportos e transportes]. Há um enorme parque nacional em Quissama, mas não existem infraestruturas apropriadas.
Mas obtivemos um claro comprometimento do Presidente [angolano, João] Lourenço”, salientou Bulut Bagci.
Sobre o fórum, iniciado quinta-feira e que encerra sábado, o presidente do WTF insistiu também no potencial costeiro de Angola.
“Angola tem uma enorme zona costeira. Mais de 1.600 quilómetros. Isso é bom para o país. Podem ser construídos ‘resorts’ nessa zona”, referiu, lembrando que Angola tem apenas um hotel de cinco estrelas e não conta com as grandes multinacionais do setor, como os grupos Hilton ou Marriot.
“Angola tem de se focar também na atração das principais cadeias de hotéis mundiais. Pode ser que, até ao fim do ano, uma das grandes cadeias internacionais possa instalar-se em Angola”, referiu Gulut Bagci, não adiantando pormenores, mas questionando-se por que razão não há investimento das empresas portuguesas no setor.
Para o presidente do WTF, o futuro do turismo em África é “bom”., uma vez que “o futuro do mundo está em África”, perspetiva que considera “óbvia”, face à numerosa existência de locais por explorar.
“É altura de os países virem para Angola investir, não só em Angola, não só em Moçambique, mas também na Namíbia, no Botsuana. Há muitos locais por explorar na África Austral e Angola é um dos ideais para o investimento”, frisou.
Sobre o memorando de entendimento assinado com o Ministério do Turismo angolano, em que ficou garantido que o WTF vai investir nos próximos cinco anos cerca de 910 milhões de euros no desenvolvimento do setor turístico em Angola, Bulut Bagci referiu que a aposta no país é “grande”.
“Não tencionamos ficar por aqui, só com o Fórum. Há planos para trazer para Luanda vários eventos em contínuo nos próximos cinco anos. Ao longo desse período vamos trazer eventos paralelos, menores que o Fórum, para promover o destino Angola.
Estamos muito satisfeitos com Angola, graças ao Presidente e ao Governo”, sublinhou.
Sobre a realização do Fórum, Bulut Bagci manifestou-se otimista face ao número de delegados presente, cerca de 1.500, maioritariamente da Europa, mas também da “sua” Turquia, dos países árabes e das Américas.
“É uma oportunidade para todos eles para saberem o que está a acontecer no país, observar o ambiente, porque isso é muito importante observar o ambiente local.
Se o ambiente de negócios for apropriado então isso é bom”, referiu.
O acordo com o governo angolano prevê a intervenção em vários projetos de investimento, destacando o polo de turismo proporcionado pelo Parque Nacional da Quissama, no litoral a sul da província de Luanda, já na do Bengo.
O presidente do WTF manifestou também interesse no Polo de Desenvolvimento Turístico de Cabo Ledo, cerca de 120 quilómetros a sul de Luanda, estando em estudo a possibilidade de se construir infraestruturas turísticas que incluam campos de golfe.
Bulut Bagci destacou ainda que o Fundo tem em carteira um projeto de investimento ligado ao turismo no centro da cidade de Luanda e citou experiências do Dubai e de países como a Turquia, Espanha e África do Sul, que implementaram modelos de desenvolvimento turístico e tiveram sucesso.
Nesse sentido, chamou a atenção para a necessidade de o setor do Turismo ser visto, para além da construção de hotéis, na perspetiva da educação e formação de recursos humanos.»
Agora escreve o Folha 8
O presidente do Fórum Mundial do Turismo, Bulut Bagci, almoçou no passado dia 12 de Março, à beira mar, em Luanda. Ementa? Para tão (i)lustre figurão o repasto só poderá ter sido trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e bebendo de Château-Grillet 2005.
Com ele estavam os nossos anfitriões, vestindo – é claro – Hugo Boss, Ermenegildo Zegna e usando relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex…
“Que grande, enorme, maravilhoso é este país”, terá pensado (e bem) Bulut Bagci. Vai daí não esteve com meias medidas. Anunciou que o Fórum Mundial do Turismo iria investir nos próximos anos 1.000 milhões de dólares (870 milhões de euros) para apoiar o desenvolvimento do sector turístico em Angola.
Ali bem perto estavam alguns dos 20 milhões de angolanos pobres que subsistem com peixe podre, fuba podre, panos ruins e porrada se refilarem. Mas esses não contam. São (se é que são) apenas uma espécie menor de angolanos…
O anúncio foi feito à imprensa no final do “Breakfast Meeting”, alusivo ao “Presidential Golf Day – Angola 2019”, evento que antecedeu a realização do Fórum Mundial de Turismo, que Luanda acolhe agora.
“Ao longo dos próximos anos, o Fórum Mundial do Turismo vai investir 1.000 milhões de dólares no sector do Turismo em Angola, cujo destino será definido durante os trabalhos do Fórum a realizar em Angola”, afirmou então Bulut Bagci, acrescentando (depois de um discreto arroto a marisco) que, nas reuniões que já manteve com as autoridades angolanas, ficou decidido que o investimento vai obedecer ao Plano de Desenvolvimento do Turismo Nacional, integrado, por sua vez, no Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2918/22.
O presidente do Fórum Mundial de Turismo esteve em Luanda em Fevereiro (2019), e foi recebido, na ocasião, pelo chefe de Estado João Lourenço, bem como pelo Presidente do MPLA (João Lourenço) e pelo Titular do Poder Executivo (João Lourenço), tendo considerado que Angola tem grandes potencialidades no sector do Turismo e indicado que a realização do fórum na capital vai trazer oportunidades de investimento para os sectores da construção, transportes e na criação de empregos.
Por outro lado, no encontro de Março, Bulut Bagci assinou com a então ministra do Turismo, Ângela Bragança, um protocolo de cooperação destinado a atrair investimento e impulsionar o turismo nacional.
Na ocasião, Ângela Bragança disse tratar-se de um acordo de parceria com a organização que detém a marca, onde estão definidas as responsabilidades do Fórum Mundial de Turismo e do ministério que tutelava no quadro da organização do fórum deste mês.
Segundo a ministra, o evento, em que estimava a presença de 1.500 delegados, “envolve uma máquina organizativa e logística forte”, pelo que os responsáveis do sector em Angola estão a desenvolver o trabalho necessário para mostrar o potencial turístico do país.
O “Presidential Golf Day” é uma iniciativa mobilizadora que presta um tributo aos esforços para atrair investimentos multi-sectoriais para a economia e promover oportunidades de negócios, com particular realce a dinamização do turismo.
A então ministra considerou que o “Presidential Golf Day – Angola 2019” e o fórum apresentam-se como uma “excelente oportunidade” para fechar negócios e conhecer melhor o potencial turístico de Angola.
Segundo Ângela Bragança, o sector estava já a gerar sinergias com outras áreas da esfera económica, dado a transversalidade que apresenta, pois, com a prática do golfe, podem-se unir-se várias valências, “como turismo, desporto, saúde, ambiente saudável, parceria e negócio, amizade e desenvolvimento”.
Ângela Bragança disse que, com o evento, que terá um carácter anual, “abre-se uma oportunidade para o turismo do golfe como um nicho do mercado bastante promissor”.
“O golfista tem como característica o desejo de viajar e, neste ponto, Angola apresenta vantagens pela diversidade de clima, paisagens, topografia e belezas naturais”, sublinhou.
Enquanto isso, tínhamos a então ministra da Educação, Maria Cândida Teixeira, a admitir que há no país, particularmente em Luanda, crianças entre os 13 e 16 anos a frequentarem o ensino nocturno, por escassez de escolas.
Isso até é bom para o turismo porque não as impede de, embora de barriga vazia, estar à beira da fogueira, fazer continhas engraçadas de somar e saber quanto custou o “Presidential Golf Day” ou a escola de equitação do clube Mangais…
Folha 8 com Lusa