O ministro de Estado para a Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, registou hoje a patente de mais uma descoberta que poderá levar a que ganhe um prémio Nobel. Diz ele na “definição” dessa descoberta, que um verdadeiro Estado de Direito é “essencial” para que haja confiança no país. Como Angola não é um Estado de Direito, a “descoberta” referia-se, presume-se, à Guiné Equatorial.
“Precisamos de ter em Angola um verdadeiro Estado de Direito. Consideramos que o Estado de Direito é o elemento essencial para que haja confiança dos agentes na sociedade em que estamos inseridos”, afirmou aos porta-microfones à margem da cimeira de Investimento Reino Unido-África, um dia depois de vários jornalistas terem revelado esquemas financeiros que, alegadamente, permitiram à empresária Isabel dos Santos retirar cerca de 100 milhões de euros da petrolífera Sonangol para consultoras que supostamente controlava directa ou indirectamente.
Manuel Nunes Júnior, um ministro que (como o seu chefe) só chegou a Angola há pouco mais de dois anos, diz que “ninguém pode estar acima da lei” e que “a lei tem de ser igual para todos”. É claro que, no âmbito do MPLA (partido que comprou Angola há 44 anos), há sempre uns que estão acima de lei.
O ministro Manuel José Nunes Júnior só chegou a Angola há pouco mais de dois anos. Isso não impediu de desde 1976 ter sido membro da Comissão Directiva da JMPLA no Lobito; membro Fundador e Primeiro Presidente da Associação dos Estudantes do Ensino Superior (AEES); colaborador da Comissão da Assembleia do Povo para a Educação, Cultura, Desporto, Juventude e Religiões; Director da Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto; Fundador e Coordenador da Célula Única do MPLA na Inglaterra; presidente do Conselho de Administração da ENANA; Vice-Ministro das Finanças; Secretário do Bureau Político do MPLA para a Política Económica e Social; Ministro da Economia; Ministro de Estado e da Coordenação Económica; Presidente da 5.ª Comissão-Comissão de Economia e Finanças e Presidente do Conselho de Administração da Fundação Sagrada Esperança.
João Lourenço sucedeu em 2017 a José Eduardo dos Santos, que foi – aliás – quem o escolheu, pai de Isabel dos Santos, na chefia de Estado do país e, desde então, tem promovido uma campanha mediática e de alto cariz propagandístico de suposto combate à corrupção a par de várias medidas que até agora nada mais foram do que fogo-fátuo que para mudar o modelo económico do país.
Manuel Nunes Júnior disse que o país está a viver um novo paradigma de governação para promover a instalação “de uma economia de mercado devidamente estruturada”, que deixe de estar dependente do petróleo. O ministro repete, aliás, o que o MPLA anda a dizer há 44 anos.
O ministro considera que o Reino Unido, enquanto um dos principais centros financeiros do mundo, pode desempenhar um papel na canalização de investimentos necessários em áreas como a agricultura, agro-indústria, turismo, indústria transformadora, extractiva ou telecomunicações.
“Estamos nesta cimeira para passar esta mensagem e que mais investimentos fluam para Angola em vários domínios”, vincou o ministro, repetindo até à exaustão a tese de que no país os jacarés que agora estão no poder são… vegetarianos, se bem que os investidores internacionais continuem cépticos, não acreditando que mudar seis por meia dúzia signifique progresso.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), que integra vários órgãos de comunicação social, entre os quais os portugueses Expresso e SIC, detalhou (o que não é sinónimo de investigação) uma série operações financeiras (apontadas no guião do dossier) para empresas offshores e consultoras, nalguns casos quando a empresária era administradora da petrolífera pública do MPLA. Convirá lembrar que que Isabel dos Santos esteve a liderar a Sonangol apenas durante 18 meses.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse hoje no discurso de abertura que quer tornar o Reino Unido o “parceiro de investimento favorito” dos países africanos e urgiu os líderes presentes a aproveitar as oportunidades oferecidas pelo pós-Brexit.
A ambição do Governo britânico é fazer do Reino Unido o maior investidor estrangeiro em África até 2022 entre os membros do G7, que inclui também Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos da América.
Mais de 2.000 empresas britânicas operam actualmente em África, cujo investimento é estimado em 36 mil milhões de libras (42 mil milhões de euros).
Para esta primeira Cimeira de Investimento, Boris Johnson conseguiu a participação de 21 dos 54 países africanos, incluindo 16 chefes de Estado, da Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Egipto, Gana, Guiné, Marrocos, Moçambique, Nigéria, Quénia, Malaui, Mauritânia, Ilhas Maurícias, Ruanda, Senegal, Serra Leoa e Uganda.
Folha 8 com Lusa