Lembram-se do Quinino?

Pesquisadores dos Estados Unidos da América, seguindo o exemplo de cientistas de outros países, iniciaram estudos para descobrir se remédios genéricos amplamente disponíveis e de baixo custo podem ser usados para ajudar a tratar a doença causada pelo novo Coronavírus (Covid-19).

Actualmente, não existem vacinas nem tratamentos para a doença respiratória altamente contagiosa Covid-19, por isso os pacientes só podem receber cuidados paliativos por ora.

Mas um teste com 1.500 pessoas liderado pela Universidade de Minnesota visa verificar se a hidroxicloroquina, usada para tratar a malária, pode evitar ou reduzir a severidade do Covid-19.

O medicamento para a malária, também a ser testado na China, Austrália e França, foi já elogiado pelo executivo-chefe da Tesla, Elon Musk, que se recuperou da malária em 2000 depois de usá-lo.

Além de ter um efeito antiviral directo, a hidroxicloroquina suprime a produção e liberação de proteínas envolvidas nas complicações inflamatórias de várias doenças virais.

“Estamos a tentar alavancar a ciência para ver se podemos fazer algo além de minimizar os contactos”, disse Jakub Tolar, reitor da Escola de Medicina da Universidade de Minnesota.

A maioria das pessoas infectadas com o novo Coronavírus só desenvolve sintomas leves semelhantes aos da gripe, mas cerca de 20% pode ter doenças mais graves que podem levar a uma pneumonia, exigindo hospitalização.

Especialistas dizem que pode demorar um ano ou mais para se preparar uma vacina preventiva, por isso tratamentos eficientes são necessários com urgência.

Uma equipa francesa disse que os resultados iniciais de um teste de hidroxicloroquina com 24 pacientes mostrou que 25% dos que receberam o remédio ainda portavam o Coronavírus depois de seis dias – a taxa foi de 90% entre os que receberam um placebo.

O princípio activo Hydroxychloroquine, objecto do trabalho dessa equipa francesa, também está a ser testado contra o Covid-19 por cientistas japoneses.

É óbvio que ainda não há nenhum fármaco aprovado para tratar especificamente os casos de infecção por SARS-Cov-2. É demasiado cedo. Mas há velhos medicamentos aprovados para outras doenças que têm provocado algum optimismo junto da comunidade médica e científica. E há laboratórios (no meio empresarial e na academia) que estão a tentar encontrar novas moléculas para atacar o novo Coronavírus. Isto além do incrível esforço à escala mundial para encontrar uma vacina. É preciso ter cuidado com as falsas esperanças, mas também é fundamental que exista alguma esperança.

A palavra “cloroquina” entrou em vários títulos de notícias nos últimos dias. Trata-se de um medicamento usado no tratamento da malária, doenças reumáticas que tem demonstrado alguns resultados positivos quando é usado para doentes com o Covid-19.

A ideia não é nova. Na altura da SARS, um outro coronavírus identificado em 2002, foram publicados alguns artigos que concluíam que a cloroquina seria um “potente inibidor” da infecção e disseminação do vírus. Ainda que esse registo do passado não signifique forçosamente que também será eficaz no combate ao novo Coronavírus que soma agora vítimas em todo o mundo, os cientistas e clínicos parecem estar optimistas com alguns sinais de um possível efeito positivo.

Adoptar um fármaco já aprovado pelas autoridades do medicamento tem algumas vantagens. A etapa dos estudos da segurança do medicamento estaria completa, faltando só provar a eficácia nesta indicação. Na verdade, apesar de não se encontrar aprovado para esta indicação, os médicos podem solicitar autorizações para o seu uso off-label (uma opção que existe apenas para casos em que o doente corre risco de vida e não existem outras opções disponíveis).

O ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o país “já validou” e está a fornecer a cloroquina, medicamento que mostrou resultados promissores em testes para tratamento contra o Covid-19, para pacientes mais graves.

“Temos capacidade de produção, já estamos produzindo e está na prateleira dos pacientes graves”, disse durante conferência com presidente Jair Bolsonaro e empresários.

O medicamento é registado no Brasil para tratamento de artrite, lúpus e malária. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que, apesar dos resultados dos testes em relação à nova doença, “não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento”.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) quer que a venda de medicamentos que contêm cloroquina e hidroxicloroquina seja autorizada apenas com receita médica. A entidade argumenta que a compra e o uso indiscriminado dos medicamentos não é recomendada.

Na falta de uma vacina e de antivirais específicos para tratar o novo coronavírus, pesquisadores em todo o mundo têm investigado, desde o início do ano, se drogas já existentes podem também actuar contra o Covid-19. Uma das candidatas é a cloroquina, usada há 70 anos contra a malária, e a hidroxicloroquina, um derivado menos tóxico.

Também o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pressionou a FDA – entidade responsável por controlar os alimentos e medicamentos no país – a liberar medicamentos com potencial de tratamento contra o novo coronavírus. Trump alegou que, assim, poderia se chegar a um avanço no tratamento enquanto a vacina contra a doença ainda está a ser desenvolvida. Trump mencionou dois medicamentos. O Remdesivir, que é um medicamento antiviral ainda em fase experimental pela Gilead Sciences Inc’s, e a hydroxycloroquina.

Folha 8 com Público

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