(Jorna)listas do MPLA

O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) repudiou hoje a “violência policial” contra os jornalistas durante a cobertura de manifestações e instou o comandante geral da polícia angolana (do MPLA) a “explicar as constantes agressões” aos profissionais, receando por mortes. Explicar o quê? O ministro Eugénio Laborinho esclareceu, há muito, que a polícia não está nas ruas para distribuir chocolates e rebuçados.

“A situação é grave e nós entendemos que os órgãos competentes, no caso o senhor comandante geral, deveria dignar-se explicar à sociedade por que razão é que a polícia nacional tem estado a agredir, tem estado a violentar os jornalistas no exercício das suas funções”, afirmou hoje o secretário-geral do SJA, Teixeira Cândido.

O sindicalista referiu que com as “recorrentes agressões” policiais corre-se o risco de se ver “um jornalista morto, simplesmente porque se deslocou para a cobertura de uma manifestação, que é um facto de interesse público”. Aliás, no ADN do partido que desgoverna o país há 45 anos, o MPLA, está a definição de que jornalista que seja mesmo jornalista só é bom se estiver…morto.

O secretário-geral do SJA falava hoje em conferência de imprensa, em Luanda, em que condenou as violações das liberdades dos jornalistas, no exercício da sua actividade, sobretudo em cobertura de manifestações.

“O mais assustador é que as autoridades do país não se predispõem em prestar esclarecimentos ou reparar os danos”, lamentou. Pois é. Mas quem somos nós para pensarmos que merecemos explicações de quem é dono dos escravos, jornalistas incluídos?

Pelo menos seis jornalistas foram agredidos e detidos, em Luanda, quando faziam a cobertura da manifestação de 24 de Outubro, que resultou na detenção de mais de 100 activistas, que uma semana depois foram submetidos a julgamento sumário.

Compreende-se que os polícias não consigam distinguir quem é jornalista. Nós bem gritamos “somos jornalistas”. Nós mostramos a identificação como jornalistas. Mas não resulta. Muitos polícias, para além de não saberem ler, são autómatos que só falam a linguagem do cassetete e das pistolas.

Na sequência desta manifestação, cuja repressão policial foi repudiada em diferentes círculos sociais e políticos do país (até mesmo, em surdina, dentro do próprio MPLA), o Governo decidiu que em próximas manifestações irá considerar a possibilidade de reforçar… o nível de violência.

O Presidente João Lourenço, tal como o Presidente do MPLA e o Titular do Poder Executivo, lamentou, em 29 de Outubro, a detenção de jornalistas, que cobriam a manifestação frustrada pela polícia nacional, e disse esperar que “detenções de jornalistas devidamente credenciados e no pleno exercício das suas funções não voltem a acontecer”.

No entanto, na última manifestação de 11 de Novembro, em que jovens protestavam por melhores condições de vida, mais dois jornalistas foram detidos, inclusive um correspondente da Reuters que ficou com a câmara fotográfica danificada. E o que fez João Lourenço? Nesta altura está a pensar se deve pensar de modo a que se pense que ele pensa em pensar… no assunto.

Teixeira Cândido, que classifica de gravíssimos os últimos acontecimentos, recordou também que no dia 10 de Novembro o jornalista angolano Cristóvão Luemba, correspondente da Emissora Católica de Angola na província de Cabinda, foi obrigado a apresentar-se no Serviço de Investigação Criminal (SIC) local, “por entrevistar manifestantes”.

“O SIC não tinha nenhuma ordem judicial, tão pouco disse a razão que esteve na base de obrigar o jornalista a ir até ao SIC. Ficou lá por alguns minutos, não foi ouvido e esse tipo de intimidações condenamos”, frisou.

É claro que ao entrevistar manifestante os jornalistas estão a exorbitar as suas funções. Em caso de dúvida, nada como ver o que se passa nas democracias que para o MPLA são verdadeiros paradigmas da liberdade de imprensa, casos da Guiné Equatorial e da Coreia do Norte.

O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos anunciou que o jornalista vai dar entrada hoje de uma acção judicial contra os efectivos do SIC, em Cabinda. Acção que, como é hábito, terminará arquivada por ser movida contra os donos do reino.

O responsável recordou também as agressões físicas de que foram alvo os jornalistas Leo Bogotá, correspondente da Reuters, e Fernando Guelengue, detidos na manifestação de 11 de Novembro, considerando serem “actos reprováveis”.

O líder sindical disse igualmente já ter abordado o assunto com o antigo ministro do Interior e actual comandante geral da polícia, “mas infelizmente”, realçou, as agressões contra os jornalistas “não pararam”.

O apelo do Presidente da República, observou, “transmitiu alguma tranquilidade para a classe jornalística, mas infelizmente a própria polícia nacional ignorou completamente o apelo do senhor Presidente”.

“Infelizmente estamos a ver a polícia nacional a agredir profissionais e a pergunta que colocamos é que como podemos encarar uma polícia que deveria agir com base na lei, mas não o faz”, apontou.

“Não se consegue reparar o dano da agressão física, o que entendemos é que de facto a polícia nacional terá de reparar esse dano, o sindicato vai escrever para o comando geral da polícia para reparar o dano feito ao colega Leo Bogotá”, assegurou.

Folha 8 com Lusa

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