Os Estados Unidos da América garantem que a relação com Angola “não depende do que a China faz”, alertando – contudo – – para o que está em jogo quando o Partido Comunista chinês propõe um negócio. Nesta altura, entre os dois venha o Diabo e escolha. No caso, o Governo do MPLA escolhe… os dois.
Morgan Ortagus que falou à Lusa a partir de Washington, uma semana depois da visita do secretário de Estado norte-americano (Mike Pompeo) ter visitado Luanda, reafirmou que a inclusão de Angola no seu roteiro africano serviu para apoiar o presidente angolano, João Lourenço, no combate à corrupção, mostrando que o diálogo entrou numa nova fase.
“Era muito importante ir. Houve corrupção endémica em Angola durante muito tempo, por isso quisemos ir e mostrar apoio pelas iniciativas que o Presidente [de Angola] tem vindo a levar a cabo para acabar com a corrupção e tornar o ambiente de negócios em Angola mais favorável às empresas norte-americanas”, destacou.
Quanto ao facto de o novo proprietário do reino ter visto roubar, ter ajudado a roubar e ter beneficiado do roubo, nem uma palavra. Não admira. Equipa de Donald Trump também considera que há ladrões bestas e outros bestiais. A diferença está apenas no facto de o ladrão estar, ou não, no Poder.
Questionada sobre se os EUA pretendem conquistar terreno à China em Angola, actualmente o principal parceiro comercial do MPLA, salientou que a relação com Angola “não depende do que a China faz ou deixa de fazer”.
“Dissemos a mesma coisa em Angola que dizemos noutros sítios: respeitamos a soberania do país, respeitamos a capacidade de os governos tomarem as suas próprias decisões e pedimos apenas que as pessoas pensem de forma realista sobre o que o Partido Comunista da China põe em cima da mesa quando propõe os seus negócios”, respondeu.
Morgan Ortagus defendeu, por outro lado, que os EUA oferecem “parcerias de primeira qualidade” realçando a transparência e o estado de direito: “[as pessoas] sabem exactamente com o que estão a lidar quando se trata dos Estados Unidos, os nossos negócios são conduzidos sob regras éticas e o presidente dos Estados Unidos protege as pessoas. Não temos o mesmo tipo de protecção quando lidamos com o Partido Comunista Chinês e foi esse facto que quisemos apontar”.
Sobre a relação dos EUA com Angola, afirmou que se entrou “numa fase em que o diálogo se tornou muito mais produtivo, mais relacionado com os direitos humanos, acabar com a corrupção e tornar o ambiente mais convidativo”, uma relação “duradoura” quer a China “esteja ou não esteja”.
Morgan Ortagus destacou que Angola “está a trabalhar na direcção certa”, embora o governo precise de continuar a trabalhar nas reformas.
“Quando vemos um governo que luta pela democracia, luta para acabar com a corrupção e ser responsável perante o seu povo, é com esse tipo de governos que queremos trabalhar”, continuou a porta-voz, referindo que Mike Pompeo quis também encorajar o investimento do sector privado americano e encontrou receptividade.
“Temos uma cooperação robusta no que diz respeito à energia, mas acreditamos que podemos encontrar muitas outras maneiras de trabalhar juntos”, sublinhou.
Ter Angola no… bolso
No dia 14 de Fevereiro de 2019, Donald Trump felicitou as reformas e o combate à corrupção levados a cabo pelo seu homólogo angolano, João Lourenço, garantindo que Washington iria apoiar e financiar Angola.
As felicitações foram transmitidas pelo assistente especial de Trump e director sénior para os Assuntos Africanos do Conselho de Segurança Nacional, Cyril Sartor, durante uma audiência concedida pelo chefe de Estado angolano.
“Viemos cá com o espírito de amizade e reconhecer os grandes passos que o Presidente e a nova liderança de Angola têm estado a calcorrear para transformar o país, no âmbito do combate à corrupção, e abri-lo ao comércio internacional”, disse o responsável, em declarações aos jornalistas, no Palácio Presidencial.
Cyril Sartor acrescentou que Angola é um “país chave” na nova estratégia da política externa dos Estados Unidos para África, salientando esperar um reforço das relações nos sectores económicos e na melhoria da governação.
O diplomata norte-americano lembrou que os EUA incluirão Angola no grupo de três países africanos – ao lado da Nigéria e do Quénia – que, nos próximos tempos, vão beneficiar de financiamento e apoio técnico para impulsionar a actividade económica.
O enviado de Donald Trump afirmou que a ajuda visa, essencialmente, desenvolver a capacidade empreendedora africana, fornecer a assistência técnica e os valores envolvidos.
Segundo Cyril Sartor, os Estados Unidos estão abertos a receber sugestões dos empresários angolanos para que se possam identificar os sectores que vão beneficiar do apoio.
“Queremos ser para Angola uma alternativa à China no âmbito do financiamento dos projectos. Por isso, dos mais de 50 países africanos, Angola integra esta lista”, destacou, acrescentando que há dois anos não seria possível estar em Luanda para fazer esta declaração “porque não existia vontade política para efectuar as actuais reformas”.
O representante acrescentou que os Estados Unidos apoiam as reformas em curso em Angola e sentem-se confortados por verem o empresariado norte-americano a começar a investir no país.
Cyril Sartor, mestre em história africana, já foi director adjunto do Centro de Missão da Agência de Inteligência Americana (CIA) em África.
Angola é um dos três principais parceiros dos Estados Unidos na África subsaariana e dos poucos países com quem Washington D.C. possui um acordo de parceira estratégica.
Recorde-se que em Maio de 2017, Os governos dos Estados Unidos da América e de Angola afirmaram que queriam reforçar a cooperação no domínio na Defesa, na sequência da assinatura, em Washington, de um memorando de entendimento.
O documento foi subscrito no Pentágono pelo secretário de Defesa dos EUA, James Mattis, e pelo ministro da Defesa Nacional de Angola, João Lourenço que afirmou tratar-se de um entendimento que representa “algo de muito sério” para o lado angolano e que “ambos os países sairão a ganhar” que “vai permitir estreitar cada vez mais os laços de cooperação no domínio da Defesa entre os nossos países”.
Na altura, em declarações aos jornalistas, o ministro da Defesa, hoje Presidente da República, fez questão de sublinhar que foi dada “autorização por escrito do Presidente da Republica”, José Eduardo dos Santos, para a assinatura deste memorando de entendimento na capital norte-americana.
O secretário de Defesa, James Mattis, explicou que os Estados Unidos têm partilhado informação com as autoridades de Angola e já apoiam na formação de oficiais, parceria que pretendem elevar de nível. “Esperamos construir uma parceria mutuamente benéfica”, apontou James Mattis.
Folha 8 com Lusa