(Con)tributo a Sebem

Ausente dos palcos desde 2013, por questões de saúde, o cantor angolano Sebem foi agora homenageado em Luanda, durante um espectáculo solidário, organizado pela TV Zimbo e pelo portal Platina Line. O evento serviu para angariar apoios para o artista, que há sete anos padece de uma doença de foro neurológico.

O show solidário teve a participação de vários artistas, em representação de diferentes gerações do género musical kuduro, que interpretaram temas clássicos do homenageado. O espectáculo teve a participação dos kuduristas Katana, Rey Ta Nice, Agre G, Zoca Zoca, Fofandó, Bobany King, os Namaair, Puto Lilas e W king.

Sebem é um dos expoentes máximos do kuduro, juntamente com Tony Amado, com quem trabalhou na afirmação de um género musical que ganhou a lusofonia com a sua sonoridade.

Autor de vários temas clássicos, como “Felicidade”, “Coveiro Filipado”, “Bandeiroso”, “Tua Boca é Esquadra”, “Kandimba”, “Macumba” e “Falta um Parafuso na Cabeça”, Sebem inspirou dezenas de seguidores. Liderou, com Tony Amado, uma geração de artistas que lutou pela afirmação do kuduro num contexto social complexo em Angola, da qual se destacam, também, Queima Bilhas, Virgílio Fire, Dj Manya, Dj Costelinha, Dog Murras, Nekaf Brothers, Camilo Travassos, Rey Ta Nice, Smal, Dj Nike e Rey Webba, Bruno de Castro, alem dos Radicais.

Além destes, emergiram outros nomes, como Dj Znobia, Salsicha e Vaca Louca, Katana, Come Todas, Fofando e Puto Saborosa, Noite e Dia e Puto Prata, Máquina do Inferno, Pai Disel, Bobany King, Os Lambas, Nacobeta, Puto Português, Caixa Baixa, Da Beleza, entre outros.

Sebem também foi, aliás, “protagonista” das últimas eleições. Os políticos podem tudo, até dizer as maiores barbaridades, quando em causa está a conquista de mais uns votos. É assim no mundo e, para nossa desgraça colectiva, Angola não foge à regra, pois, principalmente, em época de eleição, até condomínio e terrenos, no céu, prometem, com alguns a darem já o título de Direito de Superfície, com pastores dos supermercados da fé (igrejas político-corruptas).

O cantor Sebem enfrenta há anos uma doença parasitária rara, “neurocisticercose fatal” (infecção do sistema nervoso central), detectada quando ainda se encontrava a serviço da TPA, mais propriamente, no Canal II, sob gestão, face à ascendência, das empresas dos filhos do Presidente da República, Welwitcha dos Santos (Tchizé) e José Eduardo Paulino dos Santos (Coréon Du), onde apresentava um programa musical de Kuduro “Sempre a subir”.

Por ironia do destino, durante uma digressão artística, em Cuba, para participar nas comemorações da independência daquele país do Caribe, o cantor começou a sentir fortes dores de cabeça. Socorrido de imediato numa das unidades hospitalares foi-lhe diagnosticada a doença de que agora padece e necessita, acompanhamento médico permanente.

Infelizmente, por falta de recursos e apoio regular da entidade patronal (fê-lo no início), fizeram com que tivesse de regressar ao país onde o acompanhamento é precário. Ciente dessa realidade, um grupo de amigos e colegas de profissão, destacando-se os radialistas Miguel Neto e Almir Agria, levaram a cabo uma campanha de solidariedade, visando a recolha de fundos e não só, para permitir que o cantor prossiguisse o tratamento médico no exterior, de preferência em Cuba.

Recordemos este apelo do radialista Miguel Neto feito em 2017: “Até ao momento ainda não conseguiram angariar fundos suficientes para comprar o gerador. Este que é necessário para ajudar na fisioterapia do cantor e também devido aos cortes excessivos de energia, na região em que o músico reside actualmente”.

Quando se esperava mais dos políticos, principalmente daquele que era na altura candidato a cabeça-de-lista do MPLA, a doença de Sebem serviu como moeda de propaganda enquadrada na sua campanha política (acompanhado da esposa, Ana Dias Lourenço e de uma delegação do MPLA), quando visitou o cantor na sua residência em Viana, no dia 25.03.2017, onde, pasme-se, fez a “mesmice” de lhe oferecer uma geleira, um fogão e um televisor plasma de 62 polegadas. Esqueceu-se, contudo, de também ter levado um gerador…

Não estava em causa o televisor, mas sim, a análise do estado de saúde de Sebem, feita por João Lourenço, para na realidade, verificar se ele, no momento, era de um televisor que mais carecoa. Seguramente que não. E, não, por tudo ter cheirado a um baixo aproveitamento sobre a “desgraça” alheia, precisamente, misturado no dia em que presidiu a um comício nas redondezas.

Foi deplorável. As pessoas sabem, ou pelo menos deveriam saber, que seria mais nobre pagar, por exemplo, duas anuidades do “Seguro de Saúde na ENSA” ou levar uma carta de comprometimento da TPA, da “Semba Comunicação” ou mesmo do governo, comprometendo-se a garantir essa assistência médico-medicamentosa.

Mas havoa mais. Se os médicos, no caso, até aconselhavam pouca presença do paciente, diante do televisor, porque carga de água, João Lourenço a ofereceu?

Voluntária ou involuntária a acção incrimina, pois, seguramente, ficaria registado nos anais dos gestos políticos, se o candidato por exemplo, em seu nome, pagasse o equivalente a um “Plano Completo+c/Farmácia COP da ENSA”, no valor de Kwz: 421.805,45 (quatrocentos e vinte e um mil, oitocentos e cinco mil e quarenta e cinco cêntimos), anual. Este pacote incluía na altura, inclusive evacuação e repatriamento, no exterior, podendo haver um consumo de gastos do paciente até o equivalente a USD 1.000.000,00 (um milhão de dólares), que inclui os seguintes serviços:

a) todas as acomodações no hospital (inclui cirurgias, medicamentos, consumíveis, tratamentos e serviços relacionados);
b) tratamento de fisioterapia como paciente interno;
c) tratamentos médicos (quimioterapia, radioterapia e hemodiálise);
d) tac´s e ressonâncias magnéticas (incluindo como paciente externo);
e) serviços locais de ambulância;
f) internamento e cirurgias no exterior do país;
g) despesas fora da rede prestadoras (em caso de urgência);
h) despesas do estrangeiro (em caso de emergência);
i) serviços de enfermagem ao domicílio (a seguir à hospitalização – até 180 dias);
j) tratamentos dentários (em caso de acidente);
k) transplante de órgãos (exclui custo de aquisição dos mesmos).

Como se pode verificar este pacote nem chegava a 5% do que o despesismo do MPLA gastou com o aluguer, por meio dia, dos Hiaces dos candongueiros (taxistas), que rondou os USD 1.300.000,00 (um milhão e trezentos mil dólares), só para pagar a estes profissionais.

E em quanto ficou o comício no Zango?

Na altura uma fonte oficiosa do MPLA disse ao F8, ter ficado tudo avaliado, em cerca de USD 11.800,000,00 (onze milhões e oitocentos mil dólares), gastos só em metade de um dia. É muita fartura, quando partidos não conseguem gastar, sequer um milhão de dólares por ano e hospitais públicos, não têm fármacos para acudir pacientes ou escolas, carteiras, giz, portas e janelas, para uma aprendizagem eficaz dos alunos. Por este andar nada nos retira da rota do abismo financeiro.

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