O Presidente da República de Angola, João Lourenço, cancelou a participação na Cimeira de Investimento Reino Unido-África, que se vai realizar em Londres, por “questões de calendário”, indicou uma fonte governamental. Se calhar, se “haver” necessidade, em breve o calendário será exonerado e os seus bens confiscados…
O chefe de Estado, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo será representado no evento, que vai ter lugar em 20 de Janeiro, pelo ministro de Estado para a Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, que estará acompanhado de uma delegação, acrescentou a mesma fonte.
O Governo britânico quer fazer do Reino Unido o maior investidor estrangeiro em África até 2022 entre os membros do G7, que inclui também Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos da América.
A cimeira que vai ser presidida pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, pretende mostrar exemplos das mais de 2.000 empresas britânicas a operar em África, cujo investimento é estimado em 38 mil milhões de libras (45 mil milhões de euros) para promover mais oportunidades e parcerias.
Foram convidados líderes políticos, empresários e dirigentes de organizações multilaterais, estando confirmada a presença dos presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e do Egipto, Abdel Fattah el-Sisi, e do primeiro-ministro das Ilhas Maurícias, Pravind Jugnauth.
Numa visita a Angola, na semana passada, o secretário de Estado britânico para a África, Andrew Stephenson, destacou o potencial económico e o interesse do Reino Unido em aumentar o investimento no nosso país.
Durante a sua viagem de dois dias, Andrew Stephenson reuniu-se com a ministra das Finanças, Vera Daves, e o governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano.
Recorde-se que, no final do ano passado, o antigo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, elogiou o Presidente João Lourenço pela “coragem” de tomar (isto é como quem diz!) medidas difíceis, mas necessárias, para empreender reformas no país, sublinhando que a comunidade internacional está atenta ao programa em curso.
Na sua primeira visita a Angola, o ex-político britânico e actual director do Instituto Tony Blair para a Mudança Global, mostrou-se “muito interessado no que o Presidente tem feito” salientando a importância de Angola para a região e para África e assinalando que o país vive um momento importante da sua história.
“Esteve dominada pelo petróleo, mas sabe que é preciso diversificar a economia e que o futuro do país é difícil e desafiante” e implica novos investimentos, desenvolvimento de infra-estruturas e da agricultura, criação de emprego, “coisas que levam tempo”, declarou Tony Blair à saída de uma audiência com João Lourenço.
O importante, acrescentou, “é que o Presidente percebe o que tem de ser feito e tem a coragem de tomar as decisões difíceis para que o país lá chegue”.
Tony Blair destacou que o instituto que lidera “ajuda os países a fazerem mudanças que vão ser boas, a longo prazo”, afirmando que um dos motivos que o atraiu a Angola foi a existência de “uma liderança realmente focada em mudar o país para melhor, a longo prazo”.
Este foi um dos assuntos discutidos com o Presidente, a par das suas ambições para o país, revelou, adiantando que existe muito interesse internacional no que acontece hoje em Angola.
“As pessoas vêem que há um processo de mudança e as mudanças são sempre difíceis. Isto é o mais difícil de fazer”, continuou o antigo primeiro-ministro, indicando que o facto de João Lourenço estar a tomar decisões difíceis tem merecido um crescente apoio da comunidade internacional.
Questionado sobre a cimeira de Investimento em África, que se realizará em Londres no próximo dia 20, Tony Blair sublinhou que o Reino Unido é um parceiro importante para vários países africanos, lembrando que a diversificação económica vai atrair investidores britânicos para Angola.
“O Reino Unido tem muitas empresas interessadas em investir em África e, por isso, a cimeira servira para que as nações africanas se juntem com o Reino Unido e explorem as oportunidades de investimento e transacções comerciais”, referiu.
Recorde-se que João Lourenço foi convidado pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, para participar na cimeira de Londres, um convite entregue pela embaixadora do Reino Unido em Angola, Jessica Hand, numa audiência concedida pelo chefe de Estado angolano.
Angola e o Reino Unido têm as suas relações de cooperação cimentadas no Acordo Geral de Cooperação assinado em 1986. Em 2015 foi lançada em Luanda a Câmara de Comércio Angola/Reino Unido, que visa incrementar as trocas comerciais entre os dois países.
No âmbito da cooperação com Londres, recorde-se que Governo do Reino Unido pretendia discutir em Setembro de 2018 a adesão de Angola à Commonwealth, durante a visita a Luanda da enviada especial da primeira-ministra Theresa May, anunciou Lindsay Northover. A pretensão de adesão à Commonwealth foi manifestada em Junho de 2018, pelo Presidente João Lourenço.
“Acolho com muita satisfação o interesse de Angola em aderir à Commonwealth e espero que o assunto seja um tópico de conversação relevante durante a minha próxima visita, em Setembro. Em três anos esta será a minha oitava visita a Angola no cargo de enviada da primeira-ministra britânica para o Comércio com Angola”, lê-se num artigo de opinião, então publicado no Jornal de Angola por Lindsay Northover.
“O objectivo da minha visita será, conforme as anteriores, promover uma maior cooperação empresarial entre Angola e o Reino Unido. Porém, desta vez o foco será no sector agrícola de Angola”, acrescentou a baronesa Lindsay Northover.
Durante a visita oficial que realizou a Paris no final de Maio de 2018, João Lourenço manifestou, no Palácio do Eliseu, o interesse de Angola em ser membro da Organização Internacional da Francofonia e recebeu o apoio do seu homólogo francês, Emmanuel Macron.
Dias depois, a 1 de Junho, o Presidente angolano acrescentou que pode seguir-se um pedido idêntico para a Commonwealth, comunidade que junta os países anglófonos.
“A exemplo do que se passa com Moçambique, que está ali encravado entre países anglófonos (…) e acabou por aderir à Commonwealth, também Angola está cercada, não por países lusófonos, mas por países francófonos e anglófonos. Portanto, não se admirem que estejamos a pedir agora a adesão à francofonia e que daqui a uns dias estejamos a pedir também a adesão à Commonwealth”, apontou João Lourenço.
No artigo publicado no Jornal de Angola, Lindsay Northover recordou que a Commonwealth é uma “associação voluntária de 53 estados soberanos, independentes e iguais”, com 2.400 milhões de pessoas “e que inclui tanto economias desenvolvidas como países em desenvolvimento”.
“Os países da Commonwealth têm um grande desempenho e compõem sete dos 10 principais países do Índice Ibrahim de Governança Africana; os custos bilaterais para as trocas comerciais são em média 19% mais baixos para os países da Commonwealth do que para os países não-membros; e na África Subsaariana, os países da Commonwealth compõem sete dos 10 países com melhor desempenho em igualdade de género”, aponta Lindsay Northover, no mesmo artigo.
Recorda que, “assim como Angola”, os dois últimos países que se juntaram à Commonwealth, Ruanda e Moçambique, “não têm laços históricos com o Império Britânico”.
Segundo Lindsay Northover, a Agência do Reino Unido para o Financiamento de Exportações (UKEF) tinha na altura uma disponibilidade de até 750 milhões de libras esterlinas (850 milhões de euros) para apoiar projectos em Angola.