Aposta total(itária) e (uni)pessoal

Os anos passam rápido mas, à velocidade da fome, essa pandemia angolana, infelizmente, não alimentada pelo refrão corrupção exige, cada vez mais e por ser a única alternativa possível, um maestro de ímpar sensibilidade e sabedoria. Não basta dizer que o actual combate, contra os crimes de corrupção, trará resultados positivos, se houver uma forte condenação das práticas nocivas de gestão do consulado de José Eduardo dos Santos, isentando a direcção do MPLA de responsabilidade, nuns casos total e noutros numa perspectiva total(itária), no desvario financeiro e patrimonial público.

Por William Tonet

O MPLA não é parte, é o problema: O coronavírus que, ainda assim, perante a crise, provocada pelo seu xará, persiste em gerir ou ter gestores incompetentes em órgãos públicos, discriminando e combatendo a competência apartidária ou em outros partidos, quando o país, clama por uma reconciliação entre todos, para vencer a crise.

Se o Presidente da República não tiver latitude, humildade e capacidade para desafiar uma política tacanha, institucionalizada pelo seu partido, que transcenda o actual cerco a Eduardo dos Santos, filhos & Cª, poderá correr o risco de repousar, também, na galeria dos ditadores, para o que já não falta muito.

A adopção de políticas (ou de meros ensaios políticos), sem prévia consulta popular e incumprimento das promessas eleitorais, como a dos 500 mil empregos, mesmo pensando serem boas, facilmente são desvalorizadas na bolsa mental do cidadão, por falta de eficácia na sua vida quotidiana.

A não renúncia dos ultra poderes de José Eduardo dos Santos, que vilipendia, são um mau indicador, quando se quer passar como paladino da mudança, sem abdicar do casaco (ou de toda a indumentária) ditatorial, possível com uma revisão ou reforma da Constituição.

Dois passos importantes de estar a pensar o país acima do partido, seriam, também, alterar os símbolos nacionais: bandeira, hino, brasão, seguido da moeda. E a construção de um monumento onde figurariam os três país da Independência Nacional.

Estes actos libertariam das masmorras outros heróis para a luz da dignidade cidadã e patriótica e calaria no íntimo de muitas franjas populacionais que se revêem (com inteira justiça e legitimidade) nos combatentes excluídos.

Do ponto de vista económico, nunca em tão pouco tempo um Presidente amedrontou tanto o dinheiro, estancou a economia, perseguiu empresários produtivos, sob acusação de corrupção e visou terceiros de boa-fé (trabalhadores), lançando-os no desemprego, com o encerramento compulsivo e irracional das empresas.

Sendo importante o combate à corrupção, seria fundamental que ele não contribuísse para o aumento do desemprego, desaceleração da economia e paralisação do sonho de melhoria individual de vida da maioria.

João Lourenço não perdeu só a guerra contra a corrupção, mas a batalha do emprego, ao assistir-se ao desemprego, nos últimos dois anos, de cerca de 3 milhões de trabalhadores.

Se não houver uma inversão urgente, a Polícia Nacional e as Forças Armadas serão impotentes para combater o descontentamento popular que se vai expressar em manifestações de rua, prostituição e crime organizado.

Eleitores prometem mudar regime nas próximas eleições

Os três primeiros anos do consulado de João Lourenço diminuíram a crença no caminho para a implantação de uma verdadeira e imparcial democracia em Angola.

Hoje é actual a frase “eles são malandros”, referência à oposição, angolana e moçambicana, como baioneta contra o multipartidarismo.

Em 2017 e 2018, o apoio ao combate aos crimes de corrupção contra o clã e a José Eduardo dos Santos levantaram uma fasquia de esperança da acumulação primitiva de capital, não continuar circunscrita aos membros do comité central do MPLA e arredores.

Mas desde os finais de 2018 a 2020 a falta de uma estratégia económica com gente séria, destapou os efeitos nefastos de um cego combate à corrupção, cujos ganhos redundavam no fecho e confisco de bens, o desemprego e miséria dos trabalhadores.

Assim, a esperança de uma democracia vigorosa foi caindo e a fasquia do Presidente reformador foi tombando e, com isso, afectando a credibilidade de o MPLA conseguir consolidar a democracia.

Uma pesquisa do F8, num universo de 1000 vendedores dos mercados paralelos de Luanda (Kikolo; Km 30; Praça da Madeira; Katinton; Hojy Ya Henda), realizada em Novembro, Dezembro, Janeiro e Fevereiro mostrou que a simpatia no governo de João Lourenço caiu 73%, principalmente devido aos efeitos ainda da Operação Resgate.

Pergunta: Qual a medida tomada pelo Titular do Poder Executivo, João Lourenço, que mais marcou a sua vida?

Resposta: Operação Resgate: “Arruinou os pobres”. “Roubaram o meu negócio!” “Não tenho como começar, de novo, pois levaram tudo”. “Não acredito mais nele, pois colocou-me no desemprego”. “Ele age com raiva”. “Está a fazer pior que o outro corrupto”! “Se o outro roubava, mas deixava-nos trabalhar e comer, pois os produtos de comer, eram baixos”.

Esta é a síntese de algumas das respostas.

Por sua vez, num sinal de literacia, 65%, considera autoritário, João Lourenço, não acreditando ter ele vontade e compromisso de implementar a democracia.

Pergunta: Acredita que a democracia vai sair reforçada neste mandato do Presidente da República?

Resposta: “Eu não acredito, apesar e ter depositado toda minha esperança nele. Eu aqui era sério defensor dele, mas foi-me decepcionando, pois nada está a avançar nas nossas vidas”.

Estes lamentos avolumam-se, principalmente depois do primeiro ano de mandato, com o aumento vertiginoso do preço dos principais produtos da cesta básica e, no segundo, com a musculatura verbal, falta de programas económicos, atribuição directa de empreitadas a empresários próximos do regime, além de, mais grave, aceitação de peculato e nepotismo, no executivo, sendo o expoente máximo o governador da Huíla que faz negócios consigo próprio, através da sua empresa OMATAPALO. Uma contradição entre o discurso presidencial e a prática. Outra, que contraria o comportamento de um democrata é, o apadrinhamento de governantes, considerados maus gestores, corruptos, incompetentes, pelos governados, como os governadores de Benguela, Huíla, premiados com visitas presidenciais, no final do ano, mostrando a indiferença presidencial, ante o clamor popular, expresso em manifestações, nem mesmo as de Malange, onde o amigo Kwata Kanawa é rejeitado por mais de 80% da população.

Por esta razão tem estado a cair, principalmente, no último ano, a crença na consolidação da democracia no país, fundamentalmente depois de ter nomeado, Joel Leonardo, presidente do Tribunal Supremo e Manuel da Silva Manico, para a presidência da Comissão Nacional Eleitoral, dois juízes comprometidos umbilicalmente com o MPLA, que determinarão o resultado eleitoral de 2022.

A pesquisa do F8 aponta que 80% dos inquiridos acreditam ser a democracia a melhor forma de governo, mas 62% duvidam que ela seja alguma vez consolidada, no consulado de João Lourenço, por acreditarem estar a fraude institucionalizada, através da CNE composta por uma maioria do partido no poder.

Um dado surge com um segmento significativo de inquiridos, representando 28%, para quem é indiferente que o governo seja democrata ou ditatorial. Mas 43% com ligação ao regime acreditam que Angola só mudará quando o MPLA, “nosso partido passar uns anos na oposição e poder ver o poder de fora, para mudar e quando voltar, trabalhar com mais juízo e melhor”.

É ainda importante reter o facto de os mais pobres, os candongueiros (taxistas), as zungueiras, os vendedores do mercado, enfermeiros, professores e estudantes universitários, representando 76% de inquiridos consideram importante que o povo, nas eleições autárquicas e gerais de 2022, seja capaz de votar com a cabeça e não com o coração, para ser possível uma verdadeira alternância, capaz de viabilizar uma radical alteração da actual constituição e consolidação da democracia.

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