África (é claro!) na lista de espera…

A comissária europeia da Saúde, Stella Kyriakides, disse hoje que o arranque da vacinação coordenada nos Estados-membros é “um momento importante de solidariedade da União Europeia” (UE) para que se possa “pôr um fim duradouro à pandemia, juntos e unidos”. Enquanto isso, África ainda está na fase inicial. John Nkengasong, director do Centro de Doenças da União Africana (CDC), acredita que as primeiras vacinações só começarão em meados de 2021.

“A justiça e a igualdade de acesso sempre foram essenciais e ver a vacinação começar em todos os Estados-membros, sejam pequenos ou grandes, é um momento importante de solidariedade da UE”, manifestou a comissária, numa nota enviada à comunicação social.

“A UE atravessou esta pandemia em unidade e agora também estamos a iniciar o processo para pôr um fim duradouro à pandemia, juntos e unidos”, acrescentou.

A vacinação contra a Covid-19 arrancou hoje na UE, seis meses depois de a Comissão Europeia ter apresentado a sua estratégia de imunização, porém, o os planos para uma campanha coordenada com todos os Estados-membros, acabaram por ser defraudados pela Hungria, Alemanha e Eslováquia, que começaram um dia antes.

“Hoje é um dia de grande carga emocional para todos nós: seis meses depois de apresentarmos a estratégia de vacinas covid-19 para a UE, cumprimos a nossa promessa de garantir vacinas para todos os Estados-membros, ao mesmo tempo”, afirmou Stella Kyriakides.

A responsável ressalvou, no entanto, que não se pode “baixar a guarda”, até que um número significativo de pessoas seja vacinado.

“Temos que continuar a manter a nós mesmos e às pessoas ao nosso redor o mais seguros possível”, alertou, acrescentando que, apesar disso, “podemos começar 2021 com optimismo, há luz no fim do túnel”.

O primeiro lote de vacinas contra a Covid-19 chegou sábado a Portugal. Escoltada por forças de segurança, a viatura refrigerada que transportou as vacinas da Pfizer, duas caixas com um peso total de 41 quilogramas, entrou no perímetro da unidade de armazenamento no distrito de Coimbra cerca das 09:45.

À semelhança de outros países da União Europeia, em Portugal a vacina é facultativa, gratuita e universal, sendo assegurada pelo Serviço Nacional de Saúde.

Na segunda-feira, a Comissão Europeia autorizou a colocação no mercado da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Pfizer e BioNTech, horas após a Agência Europeia do Medicamento (EMA) ter dado o seu parecer científico favorável.

Enquanto isso, África enfrenta uma série de desafios, entre eles, as condições de distribuição. “Prevemos que os problemas surjam particularmente em torno do armazenamento e distribuição destas vacinas específicas, a muito baixas temperaturas, 70 graus negativos. E nas necessidades energéticas, uma vez que os congeladores de temperaturas ultra-baixas requerem geradores e combustível de reserva. Vai ser um grande desafio”, explica Michelle Seidel, especialista em cadeias de distribuição da UNICEF.

O financiamento é outra questão que preocupa os especialistas. Em Setembro, o director do CDC estimava num artigo da revista Nature que seria necessário um total de 1,5 mil milhões de doses de vacinas para inocular 60% da população em África, o que custaria entre 7 e 10 mil milhões de dólares.

Dinheiro que muitos países africanos não têm. A solução: a iniciativa Covax, lançada em Abril pela Comissão da União Europeia, a Organização Mundial de Saúde e França para garantir que todos os países tenham igual acesso às vacinas anti-Covid. 46 países africanos deverão receber apoio financeiro.

Mas não basta, dizem os especialistas. Por estes dias, teme-se que a pré-encomenda de milhões de vacinas por países ricos prejudique o acesso das nações africanas a estes medicamentos.

Numa altura em que há várias vacinas em desenvolvimento, Yap Boum, investigador de saúde pública, acredita que a solução pode passar pela escolha de uma vacina que responda às necessidades do continente. “No que toca a África, estamos satisfeitos porque vai haver muitas oportunidades em termos de diversidade de vacinas”, destaca, acrescentando que “não temos de nos precipitar. Temos de nos preparar para escolher que vacina vai funcionar no nosso contexto em termos de logística, de ambiente, mas também de população.”

A UNICEF será a responsável pela distribuição das futuras vacinas em nome da Covax. Michelle Seidel lembra que a agência da ONU para a infância tem experiência no terreno e os especialistas já se preparam para enfrentar os problemas de logística. Os países africanos estão já a receber apoio para reforçar as suas redes de distribuição – por exemplo, na actualização dos sistemas de refrigeração.

O armazenamento deverá ser um dos grandes desafios. “O fornecimento de vacinas vai aumentar à medida que os fabricantes entram no mercado e aí vamos ter restrições na capacidade de armazenamento ao nível dos países”, explica Seidel.

Mas além da logística e do financiamento, lembra o investigador Yap Boum, é preciso também contar com outro potencial obstáculo: “Prevemos alguma resistência das pessoas em receber a vacina anti-Covid-19 por causa do debate em torno da própria vacina, mas também da questão dos testes de vacinas em África.”

Em Abril, os comentários de dois cientistas franceses sobre possíveis testes de uma vacina contra o coronavírus em África geraram críticas em vários países africanos, indignados com a possibilidade de serem tratados como cobaias. Yap Boum afirma que a estratégia de comunicação será a chave para travar a desinformação, que pode prejudicar os programas de vacinação.

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