A lição do Brasil

O vice-Presidente do Brasil, Hamilton Mourão, disse hoje que a subida no preço dos alimentos registada no país nos últimos meses foi causada pelo dinheiro destinado pelo Governo aos pobres, afectados pela pandemia de Covid-19. É uma explicação falaciosa que poderia ser dada, em Angola, pelo MPLA. As ditaduras não têm cor.

“U ma porção [grande quantidade] de gente comprando porque o dinheiro que o Governo injectou na economia foi muito acima do que as pessoas estavam acostumadas, tanto que está havendo grande compra de alimentos e de material de construção”, afirmou Hamilton Mourão ao ser questionado sobre o assunto por jornalistas em Brasília.

O vice-Presidente brasileiro salientou que, esta subida no preço dos alimentos “é uma questão da lei da oferta e da procura”.

Desde Abril, o Brasil distribui um auxílio em dinheiro à população que foi duramente afectada pela pandemia, nomeadamente trabalhadores independentes e sem contrato formal de trabalho. O dinheiro foi dividido em cinco parcelas de 600 reais (96,11 euros).

Na última semana, foi confirmada mais uma prorrogação desta ajuda, dessa vez por mais quatro parcelas, mas o valor caiu para 300 reais (48,05 euros).

No entanto, vários especialistas têm uma explicação diferente para a subida dos preços, considerando que estes dispararam pressionados pelo forte aumento da procura no mercado externo graças à subida do dólar face à moeda brasileira, o real.

Embora vice-presidente brasileiro credite a alta dos alimentos ao aumento da renda dos pobres e sua busca por alimentos, especialistas indicam que os preços aumentaram por outras razões.

O preço do arroz e do feijão, dois dos principais alimentos da dieta brasileira, saltou mais de 20% este ano. Esta subida foi responsável por 80% da inflação acumulada no ano no Brasil, segundo dados divulgados hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A desvalorização de cerca de 40% da moeda brasileira atraiu compradores, incentivando os produtores rurais a apostar nas exportações em detrimento das vendas no mercado interno, o que fez os preços subirem dentro do país.

“A alta do dólar fez com que os exportadores de arroz, soja, carnes, café, açúcar passassem a ter uma vantagem muito grande no exterior em termos de preços e passassem a cobrar um preço mais alto internamente, reduzindo a oferta”, explicou Mauro Rochlin, economista do Centro de Estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) à Efe.

Em comunicado, a Associação Paulista de Supermercados (APAS) também frisou que as sucessivas subidas nos preços dos alimentos “são provenientes de variáveis do mercado como maior exportação, câmbio e quebra de produção”.

O posicionamento da APAS foi uma resposta dada ao Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que na semana passada pediu aos comerciantes e redes de supermercados que ajam com “patriotismo” para evitar a subida do valor dos alimentos.

O Brasil é o país lusófono mais afectado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, com mais de 4,1 milhões de casos e 127.464 óbitos provocados pela Covid-19.

A pandemia de Covid-19 já provocou pelo menos 898.503 mortos e infectou mais de 27,6 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Folha 8 com Lusa

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