Terras raras para marimbondos raros?

Decerto que muitos dos meus leitores perguntar-se-ão quem, com milhentos diabos (parafraseando o Capitão Haddock, companheiro de Tintim) quem será essa tão enfadonha pessoa que se assina por “Brandão de Pinho” e que semanal e semanticamente vos vem maçando com uma escrita com tanto de massuda quanto de genuína e maciçamente entediante.

Por Brandão de Pinho

Pois dir-vos-ei de forma resumida quem sou e qual a minha incumbência nas linhas abaixo que irei lavrar. Por curiosidade, já por 2 vezes usei uma mesóclise que mais não é do que uma forma verbal separada por um pronome pessoal e que consequentemente é grafada com 2 hífenes como nos casos de “perguntar-se-ão” e “dir-vos-ei”.

Salientada esta curiosidade, tenho a dizer que não sou nada digno de registo nem sequer sendo nada sou sequer tudo (pois é ambígua a negação de nada tanto significando nada como tudo) ou tenho sequer em mim todos os sonhos do mundo como disse Pessoa, e já agora que o evocamos, diria que a minha pátria é também a língua portuguesa, a última flor do Lácio e por inerência os países lusófonos e a lusofonia e essa sim é a minha incumbência.

Por vezes em estados mais melancólicos e oníricos creio piamente num V Império liderado pelos países lusófonos e que iluminará o mundo caído nas trevas. Por outras acho isso um disparate absoluto e uma infantilidade total. Mas… não é o sonho que comanda a vida? Quem sabe se nos solos e fundos dos oceanos dos países lusófonos não repousam incomensuráveis riquezas que trarão a prosperidade económica para os seus povos.

A maior riqueza no futuro serão as terras raras sem as quais a tecnologia de ponta não poderá funcionar pelo que finalmente todos aqueles elementos químicos estranhos que eu em criança (e agora ainda em adulto) adorava e que sabia de cor e salteado (à custa de mnemónicas bem entendido) e que tão agradáveis momentos me proporcionaram ao estudá-los, expressos numa das maiores e brilhantes criações do Homo Sapiens Sapiens como é o caso da tabela Periódica dos Elementos, finalmente esses elementos, farão sentido.

O curioso é que os referidos elementos não são “terras” e não são “raros” o que nos remete de certa forma para a célebre tirada de Voltaire que disse da aglomeração conhecida como Sacro Império Romano-Germânico, que nem era sacro, nem império nem tampouco romano (ao que eu acrescentaria que nem sequer totalmente germânico).

Aliás o elemento mais raro do rol dessas “Terras Raras”, o Túlio, é mais abundante que metais como a Prata e o Mercúrio cuja combinação aliás eu uso diariamente na minha actividade profissional e cujas características, quando combinados, são tais, que nenhum material compósito ou acrílico pode sequer comparar-se-lhes na condição de amalgama. O Mercúrio tem a curiosidade, ainda, de ser dos poucos metais que à temperatura ambiente está no estado líquido e também a de ser muito injustiçado quanto a eventuais malefícios para a saúde humana em doses e estados físicos quase inócuos.

Por norma – e perdoem-me se pareço maçador mas em Angola isto será importante – referem-se apenas o Neodímio, Lantânio, Praseodímio, Gadolínio, Samário e Cério mas são muitos mais os que compõem as terras raras, sobretudo do grupo dos lantanídeos como o Lantânio (que dá o nome ao grupo), o já referido Túlio (em homenagem à cidade mítica de Thule), os Escândio e Ítrio pertencentes a outros grupos (grupos são as linhas horizontais da Tabela Periódica) que não os lantanídeos e outros como Európio(em homenagem ao velho continente), o Galodínio (em honra de Johan Galodin do século XVIII que foi um dos primeiros investigadores das terras raras), o Térbio e o Hólmio (inspirados nos nomes de duas cidades suecas uma das quais a latinizada Estocolmo), o Disprósio (etimologicamente do grego “dysprositos”, difícil de obter), etecetera.

Na Terra dos Palancas Negras (quase em vias, de facto, de se extinguirem, as palancas), a exploração das terras raras, pela raridade de tão rica composição, coube à angolana Ferrangol em parceria com australiana Pesana, de acordo com a Ozango Minerais que mais não é do que a empresa formada pela adjecção daquelas duas neste promissor projecto, cujo investimento está no segredo dos deuses, bem como o valor dos metais em causa. Esperemos que não seja, tal secretismo, um prenuncio para favorecimento de meia-dúzia de marimbondos à custa do erário público. Abra os olhos Sr. Presidente.

O responsável da Ozango Minerais adiantou que, na próxima fase, marcada para o segundo semestre deste ano, está prevista a obtenção da licença do Ministério dos Recursos Minerais e Petróleo de Angola, bem como a assinatura de acordos de aquisição de consumo, financiamento e engenharia do projecto e construção de infra-estruturas de apoio, entre outros.

Timothy George, o administrador, acrescentou que o plano de geologia simplificado da topografia do “carbonatito do Longongo” (como é conhecido este local mineiro no Huambo) proporcionará oferta de trabalho qualificado, formação de quadros, concentração do produto no país e por fim a implementação de mecanismos para que os compradores venham obter o mineral localmente num valor de cerca de 60 dólares (52,20 euros) por quilograma. Presidente, parte dos seus 500.000 empregos vão cair-lhe do céu… ou melhor brotar das profundezas da terra.

Todavia é sabida a capacidade poluidora, a ganância e o desrespeito pela natureza por parte das grandes corporações mineiras o que obrigará as autoridades angolanas a uma rigorosa fiscalização para se cumprirem as normas respeitantes à protecção do meio ambiente – e tal é possível se as autoridades fizerem o seu papel.

É do interesse nacional igualmente que o governo tente manter unidades fabris relacionadas com todas as fases do processo, desde a extracção do minério bruto ate ao processamento final mas também que legisle e apoie a instalação do máximo de infra-estruturas para a obtenção dos elementos puros e quiçá produção de alguns dos aparelhos e componentes, fabricados com esses metais derivados dessas terras raras, sem os quais não há, por exemplo, telemóveis.

É uma questão de saber negociar Jlo e de pensar na pátria apenas, pois um passarinho do mundo da geologia disse-me que os clientes deverão, depois da compra, fazer a refinação do minério onde muito bem entenderem, na China presume-se. Abra os olhos sr. Presidente. Não deixe que os boatos de que V. Ex.ª se intimida, se apavora e se acocora com os estrangeiros e lhes faz todas as vontades -ainda que com o intuito de defender os interesses de Angola – tenham a oportunidade de se consubstanciar em factos nesta questão das terras raras.

Dê um murro na mesa como o Otto von Bismarck fazia na Prússia porque às vezes essa política é a melhor maneira de se ultrapassarem obstáculos de outra forma intransponíveis.

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