O (mais do que querido) líder do MPLA, João Lourenço, apelou aos dirigentes e militantes (os 20 milhões de pobres não entram nestas duas categorias) que se mantenham focados na estratégia para as autárquicas de 2020, sublinhando que o partido no poder em Angola desde 1975 está agora rejuvenescido com quadros superiores de qualidade. Estes são os tais doutorados que dizem se “haver necessidade” em vez de se “houver necessidade”? São exactamente esses.
No discurso no encerramento do 7º Congresso Extraordinário do MPLA, em Luanda, o também Presidente de Angola (não nominalmente eleito) e Titular do Poder Executivo, referiu-se à estratégia do partido até às eleições previstas (si, apenas e só… previstas) para 2020, apelou ao resgate dos valores (que o partido não pratica) da cidadania, exigiu o cumprimento das obrigações fiscais (que exigiu durante décadas) por parte das grandes empresas (grande parte dela amamentaram e amamentam o MPLA) e pediu maior apoio para as micro, pequenas e médias empresas.
Na esfera económica, o líder do MPLA, eleito no 6º Congresso Extraordinário de 2018, substituindo José Eduardo dos Santos, apelou também ao aumento da produção nacional, de forma a diminuir as importações e aumentar a auto-suficiência alimentar, e garantiu que o Governo a que preside “está a criar condições para o investimento do sector privado” no país.
“O aumento da produção nacional só se conseguirá se o sector privado se envolver. O Estado não foge das suas responsabilidades para ajudar a criar as infra-estruturas – água, energia e acessos rodoviários e ferroviários -, mas cabe ao privado crescer e gerar emprego”, disse João Lourenço. Lá vai por terra (como esperado) a criação dos prometidos 500 mil empregos…
Nesse sentido, lembrou estar em curso um processo de privatizações de empresas públicas “ociosas, que nada ou pouco produzem” (e que o próprio João Lourenço, enquanto vice-presidente do MPLA e ministro de Eduardo dos Santos apadrinhou) pelo que a intenção é “descolar dessa prática” e “mostrar ao mundo” que Angola está a sair das “intenções para a acção”.
Esse “descolar”, prosseguiu, deve também incluir o apoio aos jovens, sobretudo aos “criativos e inovadores” que têm porta aberta a acções de empreendedorismo, sector que João Lourenço disse “acarinhar” e em relação ao qual apelou à comunicação social angolana para servir de “olheira”, para divulgar os “talentos e os bons exemplos e de sucesso”. Desde que esses “criativos e inovadores” tenham aquela especial condição “sine qua non”… sejam do MPLA, não é senhor Presidente?
“Temos de fazer chegar o crédito, ou o microcrédito, a todo o país, para que as pessoas não sejam obrigados a deslocar-se a Luanda, tarefa que cabe aos bancos, que têm de passar a ter dimensão nacional para ir ao encontro dos cidadãos”, defendeu João Lourenço, entrando, por aí, na questão da descentralização do poder e nas inéditas eleições para as câmaras municipais, caso se venham a realizar como e quando o MPLA entender.
O líder do MPLA disse que todo este processo tem de deixar de ser conjuntural, limitado no tempo, “para se tornar para sempre”, de forma a evitar o “muito peso” do Estado, nomeadamente nas empresas públicas, tirando “pressão” ao emprego na administração pública: “O Estado não pode ser o empregador número um”, afirmou. Isto significa que continuará a ser o paizinho de todos os filhos… do MPLA.
Nesse sentido, mostrou-se convicto de que, com a entrada de novos 134 membros para o Comité Central do MPLA (decisão aprovada no sábado no conclave e que aumentou o número de elementos deste órgão para 497), na maioria com menos de 45 anos de idade e com formação (supostamente) superior, o rejuvenescimento do partido está garantido, preparando-o para os desafios do desenvolvimento e eleitorais.
João Lourenço negou que a entrada de novos membros para o Comité Central implique a saída da “velha guarda” e recorreu a nova analogia futebolística, ao afirmar que um treinador faz normalmente duas ou três substituições num jogo e que nunca viu um técnico a fazer oito ou nove, alertando, porém, que “poderá haver substituições, “que vão acontecer quando tiverem de acontecer e no tamanho que tiverem de acontecer”. E então se tiverem qualquer ligação a José Eduardo Santos…
“A meta é a ambição da produção, da exportação e do fomento do emprego e esse é um dever que cabe, antes de mais, aos militantes do MPLA, a todos. É um dever que temos de fazer pela pátria”, concluiu.
O 7.º Congresso Extraordinário do MPLA, iniciado no sábado, terminou também com a eleição do novo secretário-geral do partido – entrou Paulo Pombolo, até agora secretário para a Informação e porta-voz do partido, para o lugar de Boavida Neto, no cargo desde Setembro de 2018 – e com a votação para o novo Bureau Político, de 72 membros.
Boavida Neto “desceu” para o Bureau Político, onde estão também o presidente do Parlamento, Fernando Piedade Dias dos Santos (Nandó), o vice-presidente de Angola, Bornito de Sousa, e vários ministros, como Manuel Domingos Augusto, Carolina Cerqueira, José Carvalho da Rocha, Manuel Nunes Júnior, Marcos Nhunga, Maria Ângela Bragança, Pedro Sebastião e Sílvia Lutucuta.
Para o Bureau Político do MPLA entram também a secretária de Estado do Orçamento e Tesouro, Vera Daves, bem como o presidente do Governo Provincial de Luanda, Sérgio Luther Rescova, entre outras personalidades.
Folha 8 com Lusa