O Governo do MPLA anunciou hoje que os resultados dos testes de ADN feitos por três entidades aos restos mortais do fundador e líder histórico da UNITA, Jonas Savimbi, serão divulgados publicamente na próxima segunda-feira.
Num comunicado, o executivo angolano refere que, no dia 28, irá entregar oficialmente na cidade do Luena, capital da província do Moxico, os restos mortais de Jonas Savimbi à família, ficando o dia seguinte como “data indicativa” para a cerimónia de inumação.
A decisão foi tomada hoje numa reunião da Comissão Multisssectorial para o Processo de Exumação, Transladação e Inumação dos Restos Mortais de Jonas Savimbi, coordenada pelo ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança, Pedro Sebastião.
Por uma questão de respeito por uma das mais emblemáticas datas para o MPLA, 27 de Maio, bem poderia o governo ter escolhido este dia para entregar os restos mortais que, desde 2002, mantinha sequestrados. Seria uma forma de juntar às milhares e milhares de vítimas de 1977 mais um dos seus troféus…
A cerimónia de exumação e recolha de amostras dos restos mortais do líder fundador da UNITA, morto em combate a 22 de Fevereiro de 2002 (há 17 anos), realizou-se a 31 de Janeiro, no Luena, província do Moxico, onde – diz-se – estava sepultado (sob sequestro do Governo) desde a sua morte.
O Governo do MPLA garantiu no início de Janeiro estarem criadas as condições para a exumação dos restos mortais de Jonas Savimbi, mas avisou que o funeral não terá honras de Estado, uma vez que o antigo presidente da UNITA “não pertencia à família governamental quando faleceu”.
Falando em Fevereiro, o deputado angolano Rafael Massanga Savimbi, filho de Jonas Savimbi, afirmou que o posicionamento do Governo não preocupa “a família e muito menos a direcção do partido”, porque, observou, o pai “não é reconhecido por decretos”.
“Penso que, para figuras marcantes como ele (Jonas Savimbi) é o reconhecimento do povo em geral. E é isso o mais importante, sobretudo, a sua contribuição”, realçou.
E como o MPLA (ainda) é o dono disto tudo…
O Governo do MPLA, que continua a agir como se fosse (e ao que parece continua a ser) proprietário de Angola e dos angolanos, garantiu que o funeral do fundador da UNITA “não terá honras de Estado”. Se Savimbi pudesse dar uma opinião sobre o assunto também não quereria essas “honras”. Antes livre de barriga vazia do que escravo com ela cheia, diria.
A posição colonial do MPLA foi transmitida pelo ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente João Lourenço, Pedro Sebastião.
“Uma vez que o antigo presidente da UNITA não pertencia à família governamental quando faleceu”, justificou o governante do MPLA/Estado, certamente carcomido pela certeza de que se a honorabilidade de Savimbi se medisse pelo nível dos seus detractores do regime, João Lourenço e os seus acólitos o amesquinhavam totalmente.
Pedro Sebastião frisou que não existem razões para se fazer paralelismos com o funeral de Estado do general Arlindo Chenda Pena “Ben-Ben”, antigo chefe-adjunto do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA) e ex-comandante do antigo exército da UNITA (FALA), cujos restos mortais permaneciam desde 1998 na África do Sul.
Os militantes e angolanos anónimos (sobretudo os que integram o “exército” de 20 milhões de pobres), recordam o que o MPLA/Estado ignora por considerar Savimbi um terrorista e um angolano de segunda.
Recorde-se que João Lourenço, na altura ostentando o rótulo de candidato mas já com o resultado eleitoral no bolso, deslocou-se à província do Bié para um acto político e, perante milhares de pessoas (são sempre milhares e milhares), disse: “A nossa bandeira é bastante conhecida, ninguém pode dizer que não conhece a nossa bandeira, num desses comícios, a brincar, eu dizia que a nossa bandeira é mais conhecida que a Coca-Cola”. E é verdade. A bandeira nacional angolana é uma réplica da bandeira do MPLA.
No seu discurso, o agora Presidente de todos os angolanos… do MPLA, referiu-se igualmente ao passado histórico da província do Bié, fortemente atingida no período de guerra civil, considerando que a mesma “deveria passar para a história como a cidade do perdão”. Perdão que o regime de João Lourenço confunde com submissão, rendição, esclavagismo.
Para João Lourenço, a província do Bié e a sua capital, Cuito, são a “cidade do perdão, da tolerância”, por terem sabido “perdoar, serem tolerantes ao ponto de terem contribuído bastante para que a reconciliação nacional entre os angolanos vingasse”.
Reconciliação? Essa só contaram para João Lourenço que, como ministro da Defesa, deu o exemplo de que o mais importante para o regime é a razão da força e não a força da razão. Reconciliação pela força é como acontecia durante o colonialismo português, em que os chefes do posto apresentavam à sociedade os “voluntários devidamente amarrados”.
João Lourenço pediu na altura o voto do povo do Bié, para acabar com a fome, pobreza e a miséria, reactivando a agricultura e a indústria, prometendo milhares e milhares de empregos (500 mil) para a juventude. Isto é, o MPLA promete fazer agora o que o MPLA não fez durante 44 anos.
Sem citar nomes, deixando a identificação para os militantes, João Lourenço recordou que o país já teve num passado recente um potencial de indústrias, no entanto, destruídas em tempo de guerra. Guerra em que, como todos sabemos, só as balas, as bombas, as minas da UNITA matavam o Povo. As do MPLA, inteligentes, paravam e perguntavam: és Povo? Se era… elas desviavam.
“Vamos repor as indústrias, não só para que voltemos a produzir os bens industriais, mas sobretudo para resolvermos um problema, que é o emprego. Aqueles que destruíram a indústria e, consequentemente, destruíram os postos de trabalho que a indústria oferecia são os mesmos que hoje vêm dizer que a juventude não tem emprego”, acusou aquele que hoje é Presidente da República mas que continua a demonstrar que ser Estadista (líder que governa com competência, empenho e conhecimento) é algo a que é alérgico.
Ora aí está. A culpa só pode ser daqueles que destruíram tudo e mataram quase todos. A UNITA, é claro. Aliás, um dia destes ainda se provará que os massacres do 27 de Maio de 1977 foram levados a cabo pela UNITA sob comando de Jonas Savimbi. Mais atrasado está o dossier em que o MPLA trabalha para provar que Savimbi também foi responsável pelo holocausto nazi.
“Hoje com maior descaramento vêm dizer que a juventude não tem emprego. Vamos criar milhares de postos de trabalho para a nossa juventude. Os que destruíram os postos de trabalho vão ser penalizados e duramente penalizados (…) vamos castigá-los no voto, é a melhor forma de os castigar”, frisou João Lourenço que, pelos vistos, nada tem a ver com o passado do MPLA pois, asseguram-nos fontes do regime, só ontem (ou terá sido hoje?) chegou a Angola…
Folha 8 com Lusa