Placebos (já) fazem efeito

O agora semi-activista Luaty Beirão assinalou que Angola tem “muito caminho a palmilhar” em áreas como a justiça ou a liberdade de imprensa, mas considerou “revigorante” que as pessoas já sejam ouvidas. A conversão está a caminho e, mesmo tendo apenas tomado uns comprimidos de marca branca, o “doente” já se sente melhor. O placebo de João Lourenço já está a desencadear reacções psicológicas nos pacientes.

Em declarações à Lusa, à margem do encontro “Resistências Pacíficas: o Valor da Liberdade”, organizado pela câmara municipal de Almada, no âmbito das comemorações do 25 de Abril, Luaty Beirão salientou que “há vícios, há coisas que são difíceis de desenraizar” e “ou se arrancam à força ou vão-se podando até ficar como a gente quer”.

Tem razão. Enquanto no tempo de José Eduardo dos Santos milhões de angolanos não tinham comida, agora com João Lourenço é diferente. Estão a aprender a viver sem comer. E, convenhamos, há uma substancial diferença entre não ter comida e aprender a viver sem comer. É isso, não é Luaty?

Luaty Beirão destacou que “a imprensa não é amordaçada como antes, mas continua a ser controlada”, instando os jornalistas a fazerem o seu trabalho em prol de “uma sociedade mais interventiva” e capacitada para “ajudar a tomar decisões” e da promoção da “transparência”. Também no sector da justiça “há muito caminho a palmilhar”, disse.

“Obviamente uma justiça que sempre foi controlada pelo Titular do Poder Executivo não vai de repente tornar-se isenta e independente. Sabemos que tem de o ser, mas não é ainda, não estamos ainda lá”, salientou o cada vez menos activista, admitindo que isso “não ajuda a credibilizar o esforço que aparentemente tem sido feito”.

Luaty Beirão afirmou, por outro lado, que a pressão pública já dá resultados, apontando o exemplo recente da Telstar, que foi escolhida em concurso público como quarta operadora angolana de telecomunicações, uma decisão que acabou por ser anulada pelo Presidente João Lourenço, alegadamente por a empresa não ter apresentado os resultados operacionais dos últimos três anos.

“A pressão pública foi muito forte”, notou Luaty Beirão, criticando a demora do Presidente em agir.

“Passaram-se três meses, empresas internacionais retiraram-se alegando falta de transparência do concurso, não se devia ter chegado a este ponto”, frisou Luaty Beirão, defendendo que o atraso em tomar estas medidas mina “o esforço diplomático” no sentido de captar o investimento estrangeiro mostrando que “há uma mudança de paradigma”.

Apesar de tudo, não deixa de notar que é “revigorante” perceber que as pessoas já são ouvidas: “no regime anterior (do ex-Presidente José Eduardo do Santos) podíamos cantar e gritar o que quiséssemos e faziam-se surdos”.

Para Luaty Beirão, “são estas pequenas coisas que dão esperança” e apesar de não depositar “uma fé cega em ninguém” – até porque João Lourenço e José Eduardo dos Santos fazem parte do mesmo partido, o MPLA, no poder desde a independência de Angola, como notou – leva a acreditar que, além do discurso, existe boa vontade.

Luaty Beirão foi um dos angolanos julgados em Luanda no que ficou conhecido como processo dos “15+2”, envolvendo 17 activistas acusados de prepararem um golpe de Estado contra o Governo de José Eduardo dos Santos.

Os jovens foram condenados a penas efectivas de cadeia a 28 de Março de 2016, depois de seis meses de prisão preventiva e mais de quatro meses em prisão domiciliária.

Acabaram por ser libertados mais de um ano depois, em Junho de 2017, depois de o Tribunal Supremo decidir a favor do ‘habeas corpus’ apresentado pela defesa pedindo a libertação por prisão ilegal.

Folha 8 com Lusa

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