O ministro angolano das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José Carvalho da Rocha, disse hoje que é necessário realizar mais estudos sobre o clima para permitir aos decisores tomar as medidas certas na altura certa. Pois é. Nesse âmbito insere-se também o lançamento de satélites de teledetecção remota no âmbito do programa de Estratégia Espacial até 2025 que teve como paradigma o lançamento do satélite “marimbondo” AngoSat-1.
O ministro “telstariano”, que falava na abertura do 23.º Fórum Regional de Previsão Climática para a África Austral, que se realizou pela primeira vez em Angola, salientou que o executivo angolano é “sensível às questões do tempo e do clima” e considerou que “o desafio” é obter informações fiáveis relativas ao tempo e ao clima.
Quem diria? “Sensível às questões do tempo e do clima” desde que se tenha informações relativas ao tempo e ao clima…
“É necessário que cada vez mais a nossa região tenha previsões antecipadas e credíveis dos serviços de meteorologia e climáticos, para que possamos minimizar as perdas resultantes dos impactos destes eventos climáticos extremos, especialmente na nossa região, tal como assistimos aos que ocorreram nos países irmãos como Malaui, Moçambique e Zimbabwe”, que foram atingidos este ano por ciclones devastadores.
O evento, que hoje começou e se prolonga até 30 de Agosto, reúne delegados dos 16 países da região SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) incluindo Moçambique e Angola, e acontece numa altura em que a região sul do país é assolada por uma grave seca que, provavelmente, só aconteceu porque o Governo, embora “sensível às questões do tempo e do clima”, não tinha informações sobre o tempo e o clima.
“É necessário realizar estudos que permitam compreender os fenómenos (…) para que os decisores possam tomar as medidas certas no momento certo”, sublinhou o governante.
Por isso diz que o governo está a desenvolver um programa de modernização do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INAMET) que permitirá que este organismo possa “apoiar o desenvolvimento económico e social do país”, partilhando informações fiáveis relativas ao tempo e ao clima com todos os cidadãos.
Ou seja, quando os cidadãos virem que está a chover, o Governo (por estar “sensível às questões do tempo e do clima”) irá informá-los que está a… chover. Assim sendo, todos estaremos mais descansados.
Para José Carvalho Rocha, este fórum “é uma oportunidade” para estabelecer bases de dados integradas de informações meteorológicas e de clima, que estejam disponíveis para toda a região da SADC e do mundo
“Precisamos de continuar a partilhar ideias, para que os decisores possam tomar as decisões certas”, reforçou o nosso “telstariano” ministro, embora tenha saltado o parágrafo em que se esclarecia que ter ideias não é algo comum a todos os cidadãos, sendo uma qualidade exclusiva de quem for do MPLA.
Deste encontro de especialistas em meteorologia resultará, na sexta-feira, uma previsão sazonal regional para o período das chuvas na época 2019/2020, entre Outubro e Abril.
O bloco da SADC é constituído por Angola, Malauí, Ilhas Maurícias, Moçambique, Namíbia, Seychelles, Tanzânia, Zâmbia, Zimbabué, África do Sul, Botsuana, República Democrática do Congo (RD Congo), Comores, E-swatini (antiga Suazilândia), Lesotho e Madagáscar.
Agora é que vai ser. O quê? Ninguém sabe
O Governo do MPLA (o único que os angolanos conhecerem desde 1975) não está com meias medidas e promete acabar com os 20 milhões de pobres. Ou melhor, promete o lançamento de satélites de teledetecção remota no âmbito do tal programa de Estratégia Espacial até 2025.
Segundo o documento, esta estratégia prevê o estudo da viabilidade da construção e lançamento de satélites de teledetecção remota, para observação da terra e meteorologia, por parte do Governo, entre 2019 e 2025. Em complemento, uma das estratégias constantes do programa espacial angolano implicaria ainda a construção de estações terrestres para recepção directa de imagens de satélite.
Outras estratégias a implementar até 2025 prevêem a implementação de um sistema de informação geográfica, um programa de observação da terra através de imagens de satélite, um sistema nacional de comunicações por satélite e o lançamento de tantos “AngoSat” quantos a megalomania do regime entender.
“A estratégia especial permitirá à República de Angola construir um edifício ambicioso e sustentável como instrumento do seu progresso socioeconómico e de afirmação internacional, cumprindo deste modo, de forma eficaz e inovadora, os propósitos estratégicos gerais e sectoriais do país”, lê-se no documento.
O AngoSat-1 iria – disse o ministro José Carvalho da Rocha – “não só prestar serviços à população, como a toda a região, e também provocar uma revolução no mundo académico angolano, com a transferência de conhecimento”. Isto não tivesse deserta para parte incerta…
“O satélite vai cobrir todo o continente africano e uma parte da Europa. Nós vamos ter capacidade para servir as nossas necessidades e prestar serviços a outros países da região de cobertura do AngoSat. Temos que procurar aqueles projectos que possam trazer divisas para o nosso país”, explicou o ministro.
Ao contrário do que pensavam os angolanos, o satélite e projectos similares não vai trazer comida, nem medicamentos, nem casas, nem escolas, nem respeito pelos direitos humanos. Importa, contudo, compreender que há prioridades bem mais relevantes. E os satélites são uma delas.
“Este Satélite é o primeiro e marca a entrada de Angola numa nova era das telecomunicações, o que pressupõe a condução de um programa espacial que inclua, futuramente, o lançamento de satélites subsequentes,” referiu em 2012 o então coordenador do projecto, Aristides Safeca.
Ao que tudo indica, com esta estratégia espacial o nosso país deixará de ter 68% da população afectada pela pobreza, ou uma das mais alta taxas de mortalidade infantil no mundo.
Será também graças à estratégia espacial que não mais se dirá que apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, ou que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Do mesmo modo, com a estratégia espacial do Governo não mais se afirmará que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino. Ou que 45% das crianças sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Folha 8 com Lusa