A exploração dos principais pontos turísticos do município da Caála, a 23 quilómetros da cidade do Huambo, está condicionada devido à avançada degradação das vias de acesso, disse esta segunda-feira à Angop a directora local das actividades económicas, Amélia Chivela.
Segundo a responsável, apenas quatro dos 26 principais pontos de atracção turística recebem visitas diárias de turistas nacionais e estrangeiros, enquanto os demais 22 estão “quase que abandonados”, pois que a situação das estradas não permite a circulação automóvel, principalmente na época chuvosa.
Amélia Chivela disse que apenas estão a ser exploradas as áreas turísticas do Morro Bangela, também conhecido por Miradouro da Caála e onde se encontra a Capela da Senhora do Monte, as pedras Nganda lá Cawe, ambas na sede municipal, bem como a albufeira do Ngove e as Cascatas do rio Põe, na comuna do Cuima.
Acrescentou que os quatro pontos mais visitados são de fácil acesso por estarem no eixo de estradas nacionais e intermunicipais, concretamente a que liga a província de Benguela (Miradouro Morro Bangela), via Caála/Ecunha (Nganda lá Cawe), desta região à província da Huila (cascatas do rio Põe), bem como a albufeira, adjacente à Central Hidroeléctrica do Gove.
Por este motivo, considera que a reabilitação das vias de acesso, num total de 124 quilómetros, vai contribuir para promover o desenvolvimento económico e social da municipalidade, com uma melhor inserção da população local no mercado de trabalho.
Amélia Chivela disse tratar-se de áreas de perspectivas históricas, culturais, religiosas e paisagísticas, capazes de atraírem qualquer turista, seja para passeio em família ou para estudos científicos.
Com vista a torná-las mais conhecidas, Amélia Chivela referiu que as autoridades estão, neste momento, a criar condições baseadas em campanhas de divulgação e desburocratização dos serviços administrativos, como forma de despertar o interesse do empresariado no sentido de investir no ramo do turismo, para o fomento da actividade económica.
No ”Morro Bangela”, a seis quilómetro da sede municipal, foi erguida a primeira Igreja Católica da municipalidade, fundada a 15 de Julho de 1970, ao passo que foi nas pedras Nganda lá Cawe, onde se terá instalado o mítico caçador Wambo Calungo, cujo nome terá dado origem à província do Huambo.
Já a albufeira do Ngove é um local propício para a actividade de pescas e desportos de natureza aquática.
Localizado a 23 quilómetros da cidade do Huambo, o município da Caála, possui uma população de 331.224 habitantes. Segundo reza a história, começou a ser habitado em 1900, pois quando iniciou a revolta do Bailundo, em 1902, contra opressão colonial, esta região já era habitada.
Huambo ainda causa alergias ao MPLA
Quando foi governador provincial do Huambo (2009/2010), Albino Malungo, pediu aos administradores municipais que pautassem o seu trabalho pelo “espírito de humildade e que acima de tudo” soubessem “ouvir as críticas da população para poderem interpretar correctamente as suas necessidades”.
Albino Malungo, que falava na altura na cerimónia de tomada de posse dos novos administradores municipais do Huambo, Caála e Ekunha, pediu empenho de todos no cumprimento das obrigações para corresponderem às recomendações do então Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos.
Esta referência às recomendações do Chefe do Estado revelava, como continua, hoje a revelar, resquícios muito visíveis do regime ditatorial do qual Angola ainda não saiu. O empenho deve ser obrigação de todos e se deve corresponder às recomendações de alguém, esse alguém só deve ser o Povo.
Diante da então ministra do Planeamento, Ana Dias Lourenço, do Procurador-Geral da República, João Maria Moreira de Sousa, o governador Albino Malungo disse que os novos administradores “têm a espinhosa missão de dirigir três municípios importantes para o desenvolvimento económico da província, dadas as potencialidades que cada um apresenta”.
Era, como continua a ser, uma missão espinhosa. Mas a receita é simples e foi dada pelo próprio Albino Malungo: Espírito de humildade e capacidade para ouvir as críticas das populações. Por outras palavras, ter capacidade de servir o Povo e não servir-se do Povo.
“A Caála tem a obrigação de voltar a ser celeiro e líder da produção de milho, assim como a Ekunha tem de voltar a recuperar a designação de rainha da batata-rena”, disse Malungo. “O município do Huambo, capital da província, deve ser um lugar que orgulhe todos os seus habitantes”, concluiu Malungo.
Aqui chegados, pergunta-se: Porque razão o Governo do MPLA (o único que conhecemos desde 1975) tem uma alergia mortal em apostar (e assumir) no Huambo? Alergia bem visível na altura da visita do presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. Todos os caminhos passaram ao lado do Huambo.
João Lourenço, então candidato do MPLA mas já vencedor das eleições (embora elas ainda não se tivessem realizado), foi apresentado no dia 27 de Maio de 2017, na cidade do Huambo, aos militantes, simpatizantes, amigos e população da província.
“O Huambo é uma província de tradição agrícola, que no passado chegou a ser considerada celeiro de Angola”, foi com essas palavras que João Lourenço recordou as características laborais da população do planalto central.
João Lourenço falou do bom hábito, que os habitantes do Huambo têm de possuir uma pequena lavra no quintal, que no planalto central se chama “naca”, onde se pode encontrar um abacateiro, mamoeiro, nespereira, entre tantos outros produtos hortícolas, e é a base da agricultura familiar dos camponeses da região Sul do país.
O candidato do MPLA reconheceu que a população do planalto central tem uma forte ligação ao campo, porque lida com a terra como “o peixe dentro da água, sabe nadar”, comparação que arrancou efusivos aplausos e assobios de satisfação dos, segundo a Angop, 280 mil cidadãos presentes no comício.
“Vamos trabalhar arduamente para voltar a fazer do Huambo o celeiro de Angola, que vai alimentar o país. Vamos produzir os cereais, o milho, o trigo, a soja, os grãos, o feijão e outro tipo de alimento para combatermos a fome e a miséria”, disse João Lourenço.
João Lourenço assegurou, “Povo com tradição na agricultura já temos, terras boas temos, água abundante temos, experiência e saber fazer temos. Mas, há algumas coisas que precisamos acrescentar a esse pacote, para que nos saiamos bem, para que tenhamos êxito nessa nova empreitada e aumentar os níveis de produtividade da agricultura que se faz aqui no Huambo”.
“Queremos que todos tenham espaço, que não haja conflito, queremos que os camponeses progridam e aumentem a sua riqueza, mas que os empresários agrícola também cumpram com o seu papel, investindo com novas tecnologias, para que juntamente com os camponeses possamos então aumentar a produção agrícola”, acrescentou João Lourenço.
Mas esta alergia não só ao Huambo (onde, há 26 anos, o MPLA sofreu uma das suas mais duras derrotas militares na “Guerra dos 55 dias”) mas a toda a região em que durante décadas pontificou a UNITA de Jonas Savimbi, tem com certeza outras razões.
Recorde-se que João Lourenço, na altura ostentando o rótulo de candidato mas já com a vitória eleitoral no bolso, deslocou-se à província do Bié para um acto político e, perante milhares de pessoas (são sempre milhares e milhares), disse: “A nossa bandeira é bastante conhecida, ninguém pode dizer que não conhece a nossa bandeira, num desses comícios, a brincar, eu dizia que a nossa bandeira é mais conhecida que a Coca-Cola”. E é verdade. A bandeira nacional angolana é uma réplica da bandeira do MPLA.
No seu discurso, o agora Presidente de todos os angolanos… do MPLA, referiu-se igualmente ao passado histórico da província do Bié, fortemente atingida no período de guerra civil, considerando que a mesma “deveria passar para a história como a cidade do perdão”. Perdão que o regime de João Lourenço confunde com submissão, rendição, esclavagismo.
Para João Lourenço, a província do Bié e a sua capital, Cuito, são a “cidade do perdão, da tolerância”, por terem sabido “perdoar, serem tolerantes ao ponto de terem contribuído bastante para que a reconciliação nacional entre os angolanos vingasse”.
Reconciliação? Essa só contaram para João Lourenço que, como ministro da Defesa, deu o exemplo de que o mais importante para o regime é a razão da força e não a força da razão. Reconciliação pela força é como acontecia durante o colonialismo português, em que os chefes do posto apresentavam à sociedade os “voluntários devidamente amarrados”.
João Lourenço pediu o voto do povo do Bié, para acabar com a fome, pobreza e a miséria, que ainda grassa por algumas regiões do país, reactivando a agricultura e a indústria, prometendo milhares e milhares de empregos para a juventude. Isto é, o MPLA promete fazer agora o que o MPLA nunca fez.
Sem citar nomes, deixando a identificação para os militantes, João Lourenço recordou que o país já teve num passado recente um potencial de indústrias, no entanto, destruídas em tempo de guerra. Guerra em que, como todos sabemos, só as balas, as bombas, as minas da UNITA matavam o Povo. As do MPLA, inteligentes, paravam e perguntavam: és Povo? Se era… elas desviavam.
“Vamos repor as indústrias, não só para que voltemos a produzir os bens industriais, mas sobretudo para resolvermos um problema, que é o emprego. Aqueles que destruíram a indústria e, consequentemente, destruíram os postos de trabalho que a indústria oferecia são os mesmos que hoje vêm dizer que a juventude não tem emprego”, acusou aquele que hoje é Presidente da República.
Ora aí está. A culpa só pode ser daqueles que destruíram tudo e mataram quase todos. A UNITA, é claro. Aliás, um dia destes ainda se provará que os massacres do 27 de Maio de 1977 foram levados a cabo pela UNITA sob comando de Jonas Savimbi, se calhar no Bié ou no Huambo… Mais atrasado está o dossier em que o MPLA trabalha para provar que Savimbi também foi responsável pelo holocausto nazi.
“Hoje com maior descaramento vêm dizer que a juventude não tem emprego. Vamos criar milhares de postos de trabalho para a nossa juventude. Os que destruíram os postos de trabalho vão ser penalizados e duramente penalizados (…) vamos castigá-los no voto, é a melhor forma de os castigar”, frisou João Lourenço que, pelos vistos, nada tem a ver com o passado do MPLA pois, asseguram-nos fontes do regime, só ontem (ou terá sido hoje?) chegou a Angola.
Folha 8 com Angop