João Lourenço, Presidente da República (do MPLA), líder do MPLA e Titular do Poder Executivo, parte amanhã, segunda-feira, para Moscovo para uma visita oficial de quatro dias à Rússia, a convite do homólogo russo, que será condecorado quarta-feira, no próprio Kremlin, com a Ordem Agostinho Neto, uma condecoração que tem o nome do principal responsável pelo massacre de milhares e milhares de angolanos no 27 de Maio de 1977.
Em comunicado, a Casa Civil do Presidente de Angola adianta que João Lourenço irá cumprir um “intenso programa”, que inclui um encontro com Vladimir Putin e conversações ao mais alto nível entre delegações dos dois países, com o objectivo de alargar a cooperação bilateral
Segundo o documento, que não adianta as áreas e sectores em discussão, João Lourenço, que visita a Rússia pela primeira vez enquanto chefe de Estado, irá também discursar perante os deputados no Parlamento russo e participará num fórum com empresários dos dois países.
“Há a expectativa da ampliação dos horizontes de investimento num e noutro mercado”, lê-se no comunicado, que indica ainda que no programa oficial consta uma vertente cultural, com a delegação oficial angolana a assistir a um espectáculo no teatro Bolshoi, em Moscovo.
Na capital russa está já, desde sábado, o chefe da diplomacia angolana, Manuel Augusto, a preparar a visita de João Lourenço, tal como indicou em comunicado o Ministério das Relações Exteriores (MIREX) de Angola.
No documento é salientado que as “relações privilegiadas” entre Angola (MPLA) e Rússia conheceram o seu “ponto alto” em 1976, altura em que Moscovo (então capital da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas Socialistas – URSS – entretanto extinta) e Luanda assinaram o Tratado de Amizade e Cooperação.
“De 1976 até aos dias que correm, as relações entre os dois países passaram por diferentes etapas de cooperação, sendo actualmente mais significativas nos sectores da Energia, Geologia e Minas, Ensino Superior, Formação de Quadros, Defesa, Interior, Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Pescas, Transportes, Finanças e Banca”, lê-se no comunicado.
O MIREX estima que cerca de 1.000 cidadãos russos residem em Angola, dando indicações de pelo menos 1.500 angolanos a viver na Rússia.
No comunicado é recordado que, a 5 de Março de 2018, esteve em Luanda o ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, Serguei Lavrov, altura em que “foram reforçados os laços de amizade e cooperação”.
Velhos “amigos” das riquezas africanas
O regresso da presença russa a África está hoje claramente marcado pelo investimento, ou seja, venda de armas e envio de “conselheiros” ou mercenários, com Moscovo a competir com a Europa e a China para o papel de principal parceiro do continente africano.
De acordo com um artigo da agência France-Presse, o destaque da crescente presença da Rússia em África surgiu no dia 30 de Julho de 2018, com o assassinato de três jornalistas russos na República Centro-Africana, que investigavam a presença do grupo militar Wagner no país.
Segundo o artigo, de Janeiro a Agosto de 2018, a Rússia terá enviado cinco oficiais militares e 170 instrutores civis – que alguns especialistas acreditam ser mercenários do grupo Wagner -, entregado armas ao exército nacional após uma isenção ao embargo da Organização das Nações Unidas (ONU) e assegurado a segurança do Presidente centro-africano, Faustin-Archange Touadéra, cujo conselheiro de segurança é (claro!) de nacionalidade russa.
A entrega de armas aos Camarões para a luta contra o grupo ‘jihadista’ Boko Haram, as parcerias militares com a República Democrática do Congo (RD Congo), Burkina Faso, Uganda e Angola, as cooperações num programa de energia nuclear civil com o Sudão, na indústria mineira no Zimbabué ou no alumínio da Guiné, representam algumas das iniciativas de Moscovo nos últimos três anos.
A Rússia tem também diversificado as suas parcerias africanas, expandindo as relações para além das nações com quem tem ligações históricas – como Argélia, Marrocos, Egipto e África do Sul – e procurou aliados na África subsaariana, onde estava “virtualmente ausente”, lê-se no artigo.
“África continua a ser uma das últimas prioridades na política externa da Rússia, mas a sua importância tem vindo a crescer”, de acordo com o historiador Dmitry Bondarenko, membro da Academia Russa de Ciências.
A URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) manteve, durante décadas, uma presença activa no continente. Agora, com outro nome, mantêm-se os objectivos: sacar o máximo e perder o mínimo. Um bom negócio, desde logo porque a carne para canhão é negra e as riquezas africanas são inesgotáveis.
A medida representava uma das armas na guerra ideológica contra o Ocidente, apoiando os movimentos de libertação africanos e, após a descolonização, enviava milhares de conselheiros até esses territórios.
Com a desintegração da URSS, as dificuldades económicas e as lutas internas na Rússia durante os anos 1990, Moscovo abandonou as suas posições em África.
Face à falta de fundos, aumentou o número de embaixadas e consulados a encerrar, diminuíram o número de programas e as relações atenuaram.
Foi apenas no novo milénio que o Kremlin começou a reavivar as suas antigas redes e regressou gradualmente a África, procurando novos parceiros à medida que a ideologia era substituída por contratos e pela venda de armas. E, também, à medida em que os “velhos” comunistas (caso do MPLA) se rendiam às benesses do capitalismo, selvagem ou não.
Em 2006, o Presidente russo, Vladimir Putin, viajou até à Argélia, África do Sul e Marrocos para assinar contratos, algo que o seu sucessor, Dmitri Medvedev, estendeu a outros países – Egipto, Angola, Namíbia e Nigéria -, três anos mais tarde.
Em Março de 2018, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, visitou cinco países africanos, enquanto representantes de várias nações do continente estiveram presentes no Fórum Económico de São Petersburgo, em Maio.
Se a Rússia encontrar interesse económico, permite aos países africanos “ter mais um parceiro, o que significa outro canal de investimentos e desenvolvimento, e o apoio de um país poderoso no cenário internacional”, declarou o analista russo e antigo embaixador em vários países africanos, Evgeni Korendiassov, citado pela AFP.
A Rússia, que não tem um passado colonial em África, espera apresentar-se como uma alternativa para os países africanos face aos europeus, norte-americanos e chineses.
A AFP considera a República Centro-Africana um “excelente exemplo”, dado que este país nunca esteve perto da URSS durante a Guerra Fria e agora volta-se para a Rússia para fortalecer as suas forças militares, com dificuldades em enfrentar os grupos armados.
“Desde 2014 e da anexação da Crimeia, a Rússia tem confrontado o Ocidente e declarado abertamente a sua vontade de se tornar novamente uma potência mundial. Não pode, portanto, ignorar uma região”, apontou Bondarenko. Segundo ele, Moscovo está interessado em África não por razões económicas, mas para “um avanço político”.
“Anteriormente, os países com quem o Ocidente não queria cooperar, como o Sudão ou o Zimbabué, só podiam recorrer à China. A Rússia passou a ser uma alternativa tangível”, acentuou, antes de concluir que “este não era o caso antes, e isso pode mudar significativamente a ordem geopolítica do continente”.
Sipaios made in Moscovo
Um diploma de mérito e uma medalha de ouro, que simboliza a paz e o desenvolvimento mundial, foram atribuídos à organização juvenil do MPLA (JMPLA), pelo Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin.
Com o diploma e a medalha, o Chefe de Estado russo homenageou esta organização partidária pela sua “excelente participação no XIX Festival Mundial da Juventude e Estudantes, realizado na cidade russa de Sóchi, de 14 a 22 de Outubro de 2017”.
Em 28 de Novembro de 2018, o embaixador russo em Angola, Vladimir Tararov, entregou ao primeiro secretário nacional da JMPLA, Sérgio Luther Rescova Joaquim (hoje governador de Luanda), as respectivas distinções, tendo destacado os laços de amizade e de cooperação existentes entre a Rússia e Angola. Certamente que este recado a João Lourenço não era necessário, mas, pelo sim e pelo não…
O diplomata falou do processo de diversificação da economia e do combate à corrupção (coisa em que os russos são peritos, como todos sabem) em curso em Angola, como dois factores que atraem empresários russos para investirem no território angolano.
Na ocasião, Sérgio Rescova congratulou-se pelo reconhecimento do governo russo, porquanto encoraja a organização juvenil do MPLA a prosseguir com o seu trabalho, organização e coesão, elevando a responsabilidade na melhoria das metodologias de actuação no quotidiano.
Sérgio Rescova destacou (como não poderia deixar de ser) a educação patriótica e a disciplina como aspectos fundamentais que concorreram para o reconhecimento da JMPLA no festival, pelo Presidente Vladimir Putin.
Durante o festival, a JMPLA apresentou as potencialidades angolanas em termos de recursos naturais, aspectos económicos, culturais e sociais do país, assim como os desafios do Estado angolano para o desenvolvimento e para a melhoria das condições da juventude.
O festival mundial da juventude e estudantes é um evento internacional, organizado desde 1947 pela Federação Mundial da Juventude Democrática, em parceria com a União Internacional de Estudantes, no intuito da promoção do intercâmbio cultural e participação dos jovens em diversas actividades, incluindo a desportiva.
A iniciativa visa, entre outras, fortalecer a cooperação em questões importantes, como a defesa de direitos, a não proliferação de armas de destruição em massa, o perigo de um conflito nuclear e as mudanças climáticas.
Recorde-se o nível pós-doutorado de Sérgio Luther Rescova, bem visível quando em Novembro de 2014, por exemplo, destacou na cidade do Cuito (Bié), os ideais do Presidente da República… José Eduardo dos Santos, na edificação de uma Angola nova e justa para todos.
Falando após apresentação a peça teatral de exaltação da figura do Presidente da Republica José Eduardo dos Santos, realizado sob o lema: Angola “um país da paz, democracia, fraternidade e tolerância” promovido pelo Movimento Nacional Espontâneo, Sérgio Luther Rescova sublinhou que o então Presidente da República trabalhava para a consolidação do bem-estar para todos os angolanos, preocupação que levou a trazer a paz efectiva em Angola, no dia 4 de Abril de 2002.
Com a paz, segundo o Rescova abriram-se os caminhos para a reconstrução e construção do país, rumo ao desenvolvimento para uma nova Angola, “onde a justiça e a democracia são os principais pilar para a edificação do país”.
Reiterou ainda que, de Cabinda ao Cunene, são visíveis a realidade do progresso social nas famílias, uma vez que o governo liderado por José Eduardo dos Santos colocou à disposição os serviços essenciais aos angolanos, de modo a que vivam melhor.
Relembrou por outro lado, passados na altura 12 anos de paz, que o Presidente da República de Angola continuava apostado na construção de hospitais modernos, mais abrangência a educação outras infra-estruturas que estão a garantir o desenvolvimento socioeconómico no país.
Para tal, Sérgio Luther Rescova destacou a necessidade do reforço da unidade e reconciliação nacional por forma a se manter a estabilidade e segurança no país, mormente através da promoção do perdão e concórdia.
Considerou ainda o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, um exemplo na segurança de África, facto que acrescentou vários líderes africanos solicitam a experiência de Angola, quando a resolução de conflitos.
No texto que aqui publicamos no dia 2 de Novembro de 2014, afirmámos ser certo que, com tantos panegíricos de culto ao “querido líder”, o “escolhido de Deus” não iria ser salvo pelas críticas mas assassinado pelos elogios, acrescentando que, tal como Mubarak, Saddam, Kadafi ou Compaoré, Eduardo dos Santos iria ver um dia todos estes bajuladores darem o dito por não dito.
Assim aconteceu. João Lourenço é Presidente, Sérgio Luther Rescova passou José Eduardo dos Santos de bestial para besta. Não é novidade. Na JMPLA, como no próprio MPLA, a lei é essa.
E com João Lourenço não vai ser diferente.
Folha 8 com Lusa
Que Angola encontre o melhor e verdadeiro caminho com menos corrupção.