A China continua a ser o principal destino das exportações de petróleo de Angola, com 72,28% do total, muito à frente da Índia (10%) e de Portugal e África do Sul, afirmou hoje fonte da petrolífera angolana.
Segundo o presidente da Comissão Executiva da SONACI – Sonangol Comercialização Internacional, Luís Manuel, que apresentava em conferência de imprensa, em Luanda, os resultados do mercado petrolífero angolano referente ao quarto trimestre de 2018, os dados mantêm-se praticamente idênticos aos do terceiro, não adiantando dados referentes a Portugal.
Luís Manuel, porém, salientou os esforços da diplomacia económica angolana feitos em 2018, que poderão permitir que o Japão, “que praticamente desapareceu há mais de uma década do mercado petrolífero angolano”, possa regressar “em força” à lista de principais importadores do crude angolano.
Sobre os resultados das exportações referentes ao quarto trimestre de 2018, Luís Manuel referiu que foram vendidos 45 milhões de barris, no montante de três mil milhões de dólares (2.609 milhões de euros) – média de 510 mil barris/dia ao preço médio de 67 dólares, abaixo do preço médio do Brent (68 dólares).
De acordo com o responsável, o quarto trimestre registou um decréscimo de dois milhões de barris, “perdendo-se 512 milhões de dólares (445 milhões de euros) em exportações”.
Com a refinaria de Luanda praticamente paralisada no quarto trimestre, para manutenção, Angola conseguiu exportar 975 mil toneladas métricas de petróleo, num valor bruto de 39,6 milhões de dólares (34,43 milhões de euros), abaixo das 224 mil toneladas métricas obtidas no terceiro trimestre, o que representou uma perda de 115 milhões de dólares (100 milhões de euros). Tal situação obrigou a importações no valor de 153 milhões de dólares (133 milhões de euros).
Salientando que os resultados do quarto trimestre ficaram “abaixo do previsto” – “mantiveram uma trajectória descendente constante” -, Luís Manuel argumentou que tal se deveu sobretudo às tensões políticas e económicas internacionais envolvendo os Estados Unidos, China e Irão, bem como a ascensão dos norte-americanos à categoria de grandes exportadores.
“Os factores principais não resultaram, de facto, da falta de procura das ramas angolanas. O que se notou é que, em determinados períodos, houve uma procura pelas ramas angolanas menos acentuada a partir do momento que há oferta de ramas alternativas mais próximas das refinarias dos nossos compradores”, justificou.
“Quando os Estados Unidos impõem sanções ao Irão, normalmente, a percepção do mercado é que o petróleo do Irão não estará disponível. Posteriormente, os EUA fizeram concessões e isso permitiu que os compradores, principalmente alguns do Extremo Oriente, tivessem, naturalmente, apetência pela rama iraniana. E essas variações são normais no mercado”, acrescentou.
Segundo Luís Manuel, outro factor, “um dos principais”, tem a ver com o facto de os Estados Unidos serem hoje “um outro grande exportador” de petróleo bruto.
“Durante anos, os EUA não eram exportadores de petróleo bruto e Angola exportava para os Estados Unidos cerca de 7% a 8% da sua produção”, realçou.
Por outro lado, prosseguiu, as tensões entre os EUA e a China em relação à possível adopção de taxas nas relações comerciais “beneficiaram o acesso das refinarias chinesas a ramas diferentes das dos EUA”, pelo que as taxas encareciam as ramas norte-americanas quando compradas na China.
“Os acordos que surgiram depois entre as duas potências, onde há um relaxe dessas tensões, em que a China decidiu não implementar as taxas sobre o petróleo norte-americano, incentivou as refinarias a terem maior variedade de oferta e as ramas angolanas sofreram e sofrem com esta possibilidade de atracção pelos compradores chineses”, argumentou.
Sobre os resultados das exportações angolanas, Luís Manuel lembrou também que é necessário ter em consideração o comportamento do preço do petróleo, que esteve durante todo o quarto trimestre em descendência.
Como “boa perspectiva” para 2019, o responsável realçou a reentrada em funcionamento da refinaria de Luanda, uma vez que produz para consumo interno cerca de 20%, “o que teve um impacto significativo nas importações que foram feitas”.
Sobre o primeiro trimestre de 2019, Luís Manuel ressalvou que passa pelo comportamento do mercado, tendo em conta que o esforço que está a ser feito pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e pelos não-OPEP “tem estado já a surtir “alguns resultados”.
“Mas precisamos ter em conta que a influência dos ‘stocks’ que vão variando no mercado americano também tem a sua influência. Na nossa opinião, o mercado tende a melhorar se considerarmos que existe também a chamada influência sazonal”, concluiu.
Ao longo da última década, a China alcançou uma posição proeminente na economia de Angola, com as relações sino-angolanas a caracterizarem-se, por um lado, pela crescente procura chinesa por petróleo e, por outro, pela necessidade de reconstrução do país.
A cooperação oficial da China com Angola, e com África em geral, é dominada por empréstimos financeiros disponibilizados pelos seus principais bancos para a construção ou reabilitação de infra-estruturas.
O Governo chinês estendeu oficialmente linhas de crédito a Angola através de vários dos seus bancos estatais de investimento. A primeira linha de crédito oficial chinesa para Angola data de 2002.
O primeiro empréstimo suportado pelo petróleo foi assinado com o Exim Bank em 2004. Este tipo de assistência financeira, assegurada pelo acesso chinês aos recursos naturais angolanos, levou à compra de bens e a participação de empreiteiros chineses no país.
Outras importantes linhas de crédito chinesas para Angola foram canalizadas através do Fundo Internacional da China (CIF). Entre outros projectos, o CIF tem estado envolvido na reabilitação das três linhas ferroviárias nacionais e do novo aeroporto de Luanda.
No sector petrolífero, a participação tem sido conduzida pelo investimento directo das companhias petrolíferas nacionais chinesas.
Actualmente, a dívida de Angola à China ronda os 23.000 milhões de dólares (20.100 milhões de euros), tendo o Governo chinês aprovado no final de 2018 uma nova linha de financiamento de 2.000 milhões de dólares (1.750 milhões de euros).
Folha 8 com Lusa