O Gabinete Provincial da Saúde no Huambo registou, entre Janeiro a Maio deste ano, a morte de 73 crianças vítimas de malnutrição severa. Em português simples para que o próprio Presidente, João Lourenço, perceba, as crianças morreram de fome. Com fios feitos de lágrimas de dor…
Dados disponíveis indicam que no período em causa foram atendidos 1.341 doentes pelas autoridades sanitárias da província, com um aumento de 30 por cento em comparação ao idêntico período anterior.
A presidente do conselho da Ordem dos Médicos na província do Huambo, Benedita Aurora Daniel, que falava, nesta quarta-feira, durante uma palestra sobre aleitamento materno, apontou o desmame precoce do bebé, por negligência ou ignorância das mães, como a principal causa da desnutrição.
A médica considerou que o leite materno deve ser alimentação exclusiva e ideal do lactente até aos seis meses de vida e recomendável até aos dois anos de idade, pois possui componentes que proporcionam o crescimento saudável e emocional do bebé, através do reforço do seu sistema imunológico.
Trata-se, segundo a responsável, de um alimento completo e vivo, adequado aos recém-nascidos e com vantagens múltiplas, entre as quais a protecção do bebé contra várias doenças e o melhoramento da cavidade oral.
O leite materno é também rico em imunoglobulinas e anti-corpos que ajudam o bebé a defender-se contra micro-organismos, evitando, deste modo, casos de morte por desnutrição ou por doenças diarreicas e respiratórias agudas.
Além dos benefícios que traz ao bebé, esta prática melhora o vínculo da relação mãe/filho, assim como previne a progenitora contra o cancro da mama e da menopausa precoce.
Angola está com uma taxa de “desnutrição crónica” na ordem dos 38%, com metade das províncias do país em situação de “extrema gravidade de desnutrição”, onde se destaca o Bié com 51%”, anunciaram no dia 13 de Junho de 2018 as autoridades. Mais uma medalha para o MPLA, fruto de uma má governação que dura desde 1975.
A informação foi transmitida nesse dia pela chefe do Programa Nacional de Nutrição de Angola, Maria Futi Tati, durante um seminário de lançamento da “Plataforma Multissectorial de Nutrição em Angola”, realizado, em Luanda, considerando a situação “muito séria e preocupante”.
“O grau de desnutrição, principalmente a crónica, a nível do país é muito sério. Temos que trabalhar bastante, estamos com uma desnutrição crónica com uma taxa de 38% e o padrão preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de menos de 20%”, disse.
De acordo com a responsável, “nenhuma das 18 províncias angolanas está em normalidade nutricional”, ou seja, “todas as províncias estão com problemas sérios de desnutrição”, demonstrando que “o país está mal”.
Que está mal já todos nós sabemos há décadas. Só o MPLA, que está no governo desde 1975 desconhece essa realidade. E desconhece porque é algo que não afecta os altos dignitários do regime.
As províncias do Bié com 51%, Cuanza Sul com 49%, Cuanza Norte com 45% e o Huambo com 44% são, segundo Maria Futi Tati, as que apresentam maiores indicadores de desnutrição.
“São cerca de nove províncias que estão em situação de extrema gravidade de desnutrição, sete províncias em situação de prevalência elevada e duas províncias em situação de prevalência média”, apontou.
Na ocasião, a chefe do Programa Nacional de Nutrição de Angola adiantou ainda que 64% das crianças angolanas padecem de “anemia grave”, porque “muitas vezes a criança já nasce desnutrida e depois alimenta-se mal, muitas vezes faz apenas uma refeição por dia e depois evolui para a anemia”.
Por alguma razão nós aqui no Folha 8 dizemos insistentemente que os angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem com fome.
Para (supostamente) inverter esse quadro, foi lançada a Plataforma Multissectorial de Nutrição em Angola, órgão que congrega diversos sectores ministeriais, Organizações Não-Governamentais e parceiros internacionais.
“No sentido de traçarmos estratégias e políticas que possam vir a melhorar o estado nutricional. Para isso vamos trabalhar, coordenando acções, porque as questões de nutrição não dependem apenas do sector da Saúde”, argumentou a responsável.
O quadro da malnutrição em Angola “deve envolver todos os actores, incluindo os políticos, pelo facto de o país ser ainda o terceiro da região austral do continente africano em situação de desnutrição crónica”, salientou Maria Futi Tati.
“E isto compromete o crescimento e desenvolvimento das crianças, que a maior parte das vezes vêm já afectadas a partir do ventre das mães e temos que olhar aqui também para as mulheres grávidas, melhorando a alimentação e o seu estado nutricional”, concluiu.
Por sua vez, o Secretário de Estado para a Saúde Pública, José Vieira Dias da Cunha, que discursava na cerimónia de abertura desse encontro, assumiu que a desnutrição crónica no país “é extremamente elevada”, defendendo a conjugação de esforços para a sua inversão.
“A situação da desnutrição no nosso país exige de todos nós muita atenção e dedicação, pois o bom estado nutricional e de saúde são factores incontestáveis para o desenvolvimento social e económico, portanto, a sua garantia advém de intervenções multissectoriais e de compromissos políticos assumidos”, afirmou.
Com a criação dessa plataforma, sublinhou, “devemos concentrar as nossas acções no desenvolvimento integral das nossas crianças que é um foco do Executivo”. Se é um foco do Executivo e os resultados são estes… estamos conversados.
Nem vergonha têm
Em Fevereiro de 2016, a União Europeia, consciente de que Angola é um país… pobre e que, por isso, não tem meios para acudir às necessidades do seu Povo, atribuiu 1,3 milhões de euros para apoiar mais de 190 mil pessoas, sobretudo crianças, das províncias do Cunene e da Huíla.
A União Europeia referiu então que a verba, a ser aplicada pela organização não-governamental Visão Mundial e o departamento nacional de nutrição do Ministério da Saúde de Angola, visava reduzir a mortalidade e morbilidade infantil causada pela desnutrição.
Com o referido valor iria ser (dizia-se) proporcionado, durante um ano, a assistência nutricional a crianças com sintomas de malnutrição aguda ou moderada, nomeadamente menores de cinco anos.
A intervenção deveria também permitir um aumento da capacidade de resistência das populações rurais, bem como do seu conhecimento das melhores práticas para a prevenção e tratamento da desnutrição infantil no futuro.
A União Europeia considerava na altura “alarmante” a situação de insegurança alimentar que enfrentava o sul de Angola, particularmente as províncias do Cunene e da Huíla.
O apoio financeiro visava igualmente adquirir e distribuir alimentos terapêuticos e suplementares para os centros de nutrição, além das sessões de formação para o pessoal sobre a identificação e tratamento de crianças malnutridas.
Essa intervenção de emergência iria ser complementada com actividades de desenvolvimento previstas no 11º Fundo Europeu de Desenvolvimento, o maior instrumento de cooperação e financiamento da União Europeia em Angola, que se prolonga até 2020.
Com um financiamento total de 195 milhões de euros para intervenções nos sectores da agricultura, água e saneamento e educação superior, a União Europeia pretendia apoiar o Governo angolano no reforço da segurança alimentar e nutricional em Angola, dentro da sua estratégia global para acabar com a desnutrição infantil crónica mundial.
Os nossos meninos do Huambo
Com fios feitos de lágrimas de dor
os nossos meninos do Huambo choram
ainda marcados pelo muito horror
da miséria e da fome onde moram.
Com os lábios de muito dizer aiué
soletram pensamentos de esperança
como quem se alimenta de tanta fé
inebriada pelos sorrisos de criança.
Os nossos meninos à volta da fogueira
já aprenderam que dizer a verdade
será talvez a mais uma bonita bandeira
mas que o melhor é não falar de saudade.
Com os sorrisos mais lindos do planalto
– Essa é uma certeza para a eternidade,
fazem contas engraçadas de sobressalto
e subtraem a fome a sonhos de igualdade.
Dividem a chuva miudinha pelo milho
como se isso fosse o seu eterno destino,
soltam ao céu toda a dor feita andarilho
no seu estilhaçado mundo peregrino.
Os nossos meninos à volta da fogueira
não vão aprender novas palavras
porque a dor da miséria é cegueira
que alimenta todos os dias as lavras.
Assim descontentes à voltinha da poesia
juntam palavras do tempo que passa
para ver se alimentam a barriga vazia
e se descobrem o fim de tanta desgraça.
Gosto mais desta versão dos Meninos do Huambo. Infelizmente é bem mais realista!