O Folha 8 existe desde 1995. Se lhe pedíssemos, caro leitor, um depoimento sobre o nosso trabalho, o que nos diria? Foi essa pergunta que foi colocada a algumas personalidades do universo lusófono. Hoje publicamos a opinião de João Paulo Batalha, Presidente da Direcção da Transparência e Integridade, uma associação portuguesa sem fins lucrativos de utilidade pública, cuja missão é contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e uma democracia de qualidade, destacando-se a sua luta contra a corrupção.
Por João Paulo Batalha
É a conhecida a citação de Thomas Jefferson, um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América, sobre o papel crucial da liberdade de imprensa numa sociedade livre: «Se me coubesse decidir se devemos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, não hesitaria um momento em preferir a segunda opção».
A frase, escrita em 1787, quando a construção da democracia americana estava ainda nos alicerces, é amplamente citada como uma declaração de amor ao jornalismo. É isso, mas é muito mais. Jefferson percebeu que um Governo, mesmo quando eleito democraticamente a partir do voto do povo, não é o intérprete pleno da vontade nacional – e muito menos das opiniões dos cidadãos que o elegem.
É apenas uma síntese, o compromisso possível para transformar as escolhas feitas pelos cidadãos num determinado momento em acção governativa – desejavelmente benéfica para o interesse comum. É na discussão pública, na pluralidade de opiniões, no debate aceso e irrestrito que se respira a vitalidade democrática – a vitalidade necessária e indispensável para o bom governo.
A democracia, mesmo quando conquistada com sangue e sacrifício – ou especialmente quando conquistada assim – não é outorgada de cima para baixo, pela mão de um qualquer governante benevolente. Qualquer democracia domesticada, reverente ao poder, com medo de testar as suas instituições e questionar os seus líderes, pode até ser uma democracia formal, nas suas leis e arranjos institucionais, mas estará longe de ser uma democracia plena. A verdadeira democracia é a que se exerce sem pedir licença.
É esse o mérito do Folha 8. Nascido numa era de conflito militar que dilacerava Angola, o jornal é um exemplo dessa democracia que se faz sem pedir licença, uma celebração das liberdades que se constroem exercendo-se, sem pedir nem esperar autorização oficial.
Frontal, desalinhado, disruptivo, o Folha 8 tem sido um centro de pensamento crítico, de questionamento das histórias oficiais e das narrativas polidas que tantas vezes se impõem na história dos Estados e das relações internacionais. Muitas vezes ruidoso, ou mesmo rude, face aos poderes instalados, o Folha 8 cumpre uma função democrática essencial: não só de contrapoder, mas de combate às lógicas cortesãs de seguidismo acrítico, ou de endeusamento dos chefes.
Não é preciso gostar do estilo, não é preciso concordar com os pontos de vista: o Folha 8 é um contribuinte activo para a expansão das liberdades, é um marco da democratização de Angola.
Quanta mais imprensa houver, com estilos e pontos de vista diferentes mas com a mesma atitude de soberania face aos poderes, de recusa da subserviência e da concordância acrítica, mais democrática será Angola.
Longa vida ao Folha 8!