A economista angolana Fátima Roque, ex-quadro da UNITA, afirmou, em declarações à Lusa, que o Presidente de Angola, João Lourenço, no cargo desde 2017, vai “mudar” o país, necessitando apenas de tempo para o fazer. Já em Setembro de 2008 ela apareceu de boné e cachecol do MPLA num comício de José Eduardo dos Santos.
Em entrevista à Lusa, a propósito do lançamento, hoje, do seu livro “Uma Década de África”, Fátima Roque, uma das figuras mais influentes da UNITA na liderança de Jonas Savimbi, afirma acreditar no trabalho que está a ser feito por João Lourenço, Presidente da República, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo.
“Acredito que a liderança de João Lourenço vai, de facto – não tão rapidamente como nós gostaríamos, porque Roma e Pavia não se fizeram num dia -, mudar muita coisa em Angola”, disse.
Fátima Roque é autora do livro editado pela Leya, no qual fala do seu país e que crítica as lideranças africanas. Contudo, Angola é um exemplo entre os poucos países que estão no “bom caminho” em África.
Defende que João Lourenço “sabe o quer, sabe como fazer, e só ainda não tem os meios, porque encontrou, infelizmente, os cofres vazios”.
“Talvez precise também de mais capital humano. Mas ele vai mudar Angola”, afirmou Fátima Roque, que chegou a ser considerada ‘ministra’ das Finanças da UNITA, antes da morte, em 2002, de Jonas Savimbi, líder histórico do movimento do ‘galo negro’.
Referindo-se ainda ao actual Presidente angolano, que sucedeu a 38 anos de liderança de José Eduardo dos Santos, a economista diz que é necessário dar tempo para o seu exercício: “Dêem-lhe tempo. Talvez não numa legislatura, em duas, dêem-lhe tempo. Mas João Lourenço vai mudar Angola”.
Posição contrária assume face à actual oposição em Angola, que continua a ter na UNITA o principal partido. Fátima Roque fala mesmo numa oposição que actualmente é “muito fraca”. “Muito fraca mesmo, fraquíssima”, acrescenta, referindo-se ao papel que a UNITA tem assumido na oposição.
Igualmente a propósito do livro, a economista aponta outros exemplos de países que estão “no bom caminho”, além de Angola, como a África do Sul e o Senegal.
“A Nigéria é um desastre e é uma pena, porque é a maior economia de África”, comenta. Cabo Verde, ao contrário, diz, é um “sucesso”, enquanto a Guiné-Bissau é “um país falhado, completamente”, tal como São Tomé e Príncipe.
Mudam-se os presidentes, mudam-se os interesses
Estávamos em Setembro de 2008. Embora seja um direito que obviamente tinha e tem, a economista Fátima Roque, uma das mais importantes dirigentes da UNITA de Savimbi, apareceu em lugar de honra, bem apanhado pela TPA, no comício de encerramento da campanha do partido do MPLA. Nesse altura a interrogação era: Fátima Roque no MPLA – Qual terá sido o preço?
Embora Fátima Roque garantisse que não foi aliciada, é legítimo pensar que o MPLA (tanto faz ser, como era na altura, o de José Eduardo dos Santos ou o de hoje, de João Lourenço) não dá ponto sem nó.
«Como poderia ter sido “comprada” se não me tentaram “comprar”?», explicou a economista em entrevista ao “Novo Jornal”, salientando que “não estava à venda”. Será. Mas, sobretudo na política angolana, onde a ética é palavra vã, não basta ser sério, é preciso parecê-lo. E não foi o caso.
Porque foi convidada pelo MPLA, Fátima Roque foi ao comício com boné e cachecol do partido dirigido por José Eduardo dos Santos. O que terá ela pensado na altura em que alguns militantes de prestígio na UNITA se passaram para o outro lado da barricada e apareceram com boné e cachecol do MPLA? Será que defendeu a tese de que não foram comprados? Ou terá pensado, e dito, o contrário?
Aceita-se que Fátima Roque tenha sido maltratada por alguns dos dirigentes da UNITA. Acredita-se que isso tenha sido uma injustiça. Aconteceu com ela como com muitos outros. No entanto, muitos desses outros, embora protestando ou rasgando cartões, não passaram para o outro lado, não apareceram de boné e cachecol do MPLA. É, como dizia Jonas Savimbi, uma questão de ética que ou se tem, ou não se tem. Não há meios termos.
Na altura constou, aliás, que a presença de Fátima Roque em Angola visou a sua reconciliação com o país e com um povo que, isso é verdade, tanto ama. Mas reconciliar-se com um povo que ama através do partido que durante várias décadas tão maltratou esse mesmo povo ou, pelo menos, parte dele, parece no mínimo uma grotesca forma de gozar com a nossa chipala.
A reconciliação faria todo o sentido se fosse feita no seio da família. Fazê-la no seio da família vizinha pareceu uma forma de chamar a hiena para nos ajudar a derrotar o cão que nos ataca. Em circunstâncias normais, a hiena mataria o cão e depois deleitava-se a comer-nos. Não sendo isso, e pelos vistos não é, a presença de Fátima Roque no seio da família MPLA teve algum preço, mesmo que não seja monetário.
Estará reservado pelo MPLA algum alto papel político para Fátima Roque? Provavelmente.
Como todos sabemos, o MPLA não é parco nos pagamentos aos seus fiéis seguidores. Pagamento que, repete-se, pode não ser monetário. Será que ao dizer na entrevista ao “Novo Jornal” que “só uma mulher é capaz de puxar o comboio do desenvolvimento”, Fátima Roque estava a levantar a ponta do véu sobre a sua presença, com boné e chachecol, no comício do MPLA?
“A Fátima Roque é uma mulher determinada, é um bom quadro, sabe bem aquilo que quer, tem uma causa e luta contra tudo e contra todos quando acredita que algo vale a pena”. Quem fez esta afirmação, semelhante à que várias vezes fez dela Jonas Savimbi? Quem foi? Foi a própria Fátima Roque na referida entrevista.
Portanto… esperemos para ver. José Eduardo dos Santos não foi na cantiga, mas pode ser que João Lourenço vá.
Folha 8 com Lusa
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