Contra o MPLA marchar, marchar! Será mesmo isso?

Conta (e muito bem) o órgão oficial do MPLA (que o é, merecidamente, há 44 anos) que as Forças Armadas Angolanas (FAA) lançaram, em Luanda, a Campanha de Reforço dos Valores Cívicos e Ético-militares, para contribuir na moralização da sociedade, tornando-a mais sã e mais cidadã. Se o Jornal de Angola o diz…

Por Orlando Castro

Oresidida pelo chefe do Estado-Maior General das FAA, general António Egídio de Sousa e Santos “Disciplina”, a campanha visa melhorar o nível de participação e activismo social dos efectivos no processo de moralização da sociedade. Activismo Social? Sim, claro. Sendo que isso significa ampliar ao máximo a propaganda do MPLA.

O objectivo é, diz a correia de transmissão do MPLA, materializar a vontade nacional de contribuir com medidas e iniciativas na inversão do actual quadro de valores com a correcção de comportamentos e atitudes desviantes, que em muitos casos prejudicam os pilares da sociedade. Em muitos casos… mas não em todos, como é óbvio. Ou seja, roubar galinhas para alimentar a família é uma atitude desviante. Roubar todo o aviário é uma atitude nobre. Estamos entendidos?

A campanha deve decorrer em todas as unidades das FAA, no período de 30 de Agosto de 2019 a Março de 2020, sob o lema “Soldado das FAA, pela moralização da sociedade, pronto”. O público-alvo são militares no activo, na reserva e reformados, entre outros segundo o JA. E esses outros serão com certeza todos aqueles que pensam ser um dia militares no activo, na reserva e reformados…

Segundo o coordenador da comissão, António de Jesus Fernandes, para garantir o cumprimento das tarefas do programa, devem ser criadas comissões de acompanhamento e controlo nos diferentes níveis de cadeia de comando.

Segundo o chefe do Estado Maior General das FAA, António Egídio de Sousa e Santos “Disciplina”, o objectivo é juntar-se aos esforços do Executivo no combate à corrupção e outras práticas negativas que afectam a sociedade. Digamos que será uma espécie de governo-sombra (ou sombras do governo), com os ministros e outros “oficiais” fardados e prontos para fazer uso do seu poder bélico contra a corrupção levada a cabo pelos pilha-galinhas.

“O combate à corrupção é uma tarefa de todos e exige interdependência no pensamento e na acção. Procuramos nos aproximar às outras instituições, sobretudo as que congregam maior número de jovens”, disse o Chefe do Estado-Maior General, para quem “nenhum país pode sobreviver se não cuidar da sua defesa”.

Foi aliás para garantir que o país só “sobreviverá se cuidar da sua defesa”, que na altura do Congresso do MPLA o general “Disciplina” colocou as FAA em “prontidão combativa elevada”, não fosse a rapaziada da oposição partidária e da sociedade civil levar a cabo um golpe de Estado contra o MPLA.

É por esta razão que, além das Forças de Defesa e Segurança e Ordem Interna, disse o general, “temos os jovens e diferentes sectores da sociedade angolana para cimentar a predisposição de apoio aos esforços do Executivo na mudança de comportamentos e atitudes perante o bem comum”.

Aliás, como acontece quando o MPLA resolve simular algum acto eleitoral, as FAA (como mais uma sucursal do MPLA) podem contar com o apoio de todos os angolanos, até mesmo dos que entretanto tenham morrido mas que, no âmbito da Educação Patriótica (a menina dos olhos do general “Disciplina”), estão sempre dispostos a ressuscitar apenas para votarem no… MPLA.

“A falar do bem comum, não quero referir-me apenas ao erário. Estou a falar também do potencial humano, sendo maior recurso de qualquer país e que constitui a força motriz que a sociedade em geral necessita para o seu desenvolvimento multifacetado”, sublinhou o general.

E, convenhamos, sublinhou muito bem. E de facto o potencial humano é o maior recurso de qualquer país ou, no caso, reino. No caso de Angola, as FAA não podem permitir que a tal força motriz seja minada por aqueles que, embora parecendo ter potencial humano, não são propriamente humanos. Ou seja, todos que não são do MPLA.

Na visão do general, a cruzada contra a corrupção traduz-se numa acção preventiva, pedagógica e coerciva e que as práticas desonestas devem ser combatidas firmemente. Para o general “Disciplina” falar assim é porque afinal existe corrupção. Como até agora só se conhecem casos de corrupção a envolver altos dirigentes do MPLA, será que as FAA vão combater o MPLA ou, por outras palavras, vão combater-se a si próprias?

O Chefe de Estado-Maior General lembrou que a campanha visa educar os militares sobre o uso correcto das redes sociais que, apesar de ser uma ferramenta importante de interacção social, são também usadas por alguns cidadãos para fomentar boatos, difamação e calúnias e outras práticas lesivas à moral pública. Bem disse o maior perito do regime, o também general Bento Kangamba, secretário itinerante do MPLA, quando comprou uma mala cheia de alicates e outros instrumentos similares para cortar as… redes sociais.

O chefe do Estado Maior General das FAA insistiu na necessidade de potenciar a juventude e deles pediu dedicação à Ciência e Tecnologia, para que estejam à altura da evolução. Falou também na necessidade de construção de uma nova pirâmide de valores. Sim, claro. Pirâmide invertida? Civismo? Ética? Moral? Honra? Dignidade? Respeito? Ou, tão-somente, tudo aquilo que o MPLA não é?

Egídio de Sousa e Santos insistiu ainda na necessidade do aprofundamento do patriotismo (pelo MPLA), do respeito (pelo MPLA) e do significado dos símbolos nacionais (do MPLA), destacando o papel da família, enquanto base fundamental da sociedade.

“Sem famílias estruturadas e harmoniosas, não é possível contar com instituições fortes”, lembrou o general numa conclusão digna de figurar como epitáfio no monumento onde o MPLA quer incluir as vítimas dos seus massacres no 27 de Maio de 1977.

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