O ministro do Interior, Ângelo da Veiga Tavares, que esteve presente na homenagem a Agostinho Neto no âmbito das comemorações dos 43 anos de poder absoluto do MPLA em Angola, sublinhou que o país procura garantir melhores condições de vida da população, para honrar os esforços de todos aqueles que lutaram pela Independência Nacional e pela liberdade.
Por Norberto Hossi
A Angola do MPLA continua a ser (re)construída à imagem e semelhança do MPLA, como se fosse um regime de partido único. E, de facto – que não de jure –, é isso mesmo.
Se o MPLA é Angola e Angola é o MPLA, herói nacional há só um, Agostinho Neto e mais nenhum. Quando o MPLA for apenas um dos partidos do país e Angola for um verdadeiro Estado de Direito, então haverá outros heróis.
Até lá, os angolanos continuarão sujeitos à lavagem do cérebro de modo a que julguem que Agostinho Neto foi o único que deu um contributo na luta armada contra o colonialismo português e para a conquista da independência nacional.
O dia 17 de Setembro, instituído feriado nacional em 1980 pela então Assembleia do Povo, um ano após o falecimento de Agostinho Neto, em 10 de Setembro de 1979 na antiga União das Republicas Socialistas Soviéticas, deve-se, segundo a cartilha do MPLA (e, portanto, do Governo) ao reconhecimento do seu empenho na libertação de Angola, em particular, e do continente africano. Com alguma habilidade ainda vamos ver referências ao contributo para a libertação da Europa. Ou esse será um patamar reservado aos presidentes seguintes, José Eduardo dos Santos e João Lourenço?
Fruto da entrega de Agostinho Neto à causa libertadora dos povos, o Zimbabwe e a Namíbia ascenderam igualmente à independência, assim como contribuiu para o fim do Apartheid na África do Sul, esclarecem os donos do poder em Angola há 43 anos.
Pelos vistos, desde 1961 e até agora que só existe Agostinho Neto. Se calhar até é verdade. Aliás, bem vistas as coisas, Holden Roberto e Jonas Savimbi, FNLA e UNITA, nunca existiram e são apenas resultado da imaginação de uns tantos lunáticos.
“Dotado de um invulgar dinamismo e capacidade de trabalho, Agostinho Neto, até à hora do seu desaparecimento físico, foi incansável na sua participação pessoal para resolução de todos os problemas relacionados com a vida do partido, do povo e do Estado”, diz o MPLA (e, portanto, do Governo).
Numa coisa a cartilha do MPLA (e, portanto, do Governo) tem toda a razão e actualidade: “como o marxistas-leninista convicto, Agostinho Neto reafirmou constantemente o papel dirigente do partido, a necessidade da sua estrutura orgânica e o fortalecimento ideológico, garantia segura para a criação e consolidação dos órgãos do poder popular, forma institucional da gestão dos destinos da Nação pelos operários e camponeses”.
Como se vê, os destinos da Nação estão entregues desde 11 de Novembro de 1975 aos operários e camponeses do tipo José Eduardo dos Santos & Sonangol Lda.
Em reconhecimento da figura do (suposto único) fundador da Nação angolana, estão erguidas em vários pontos do país estátuas, que simbolizam os seus feitos e legados, marcado pelas suas máximas “De Cabinda ao Cunene um só povo e uma só nação” e “O mais importante é resolver os problemas do povo”.
Pois! Os problemas do povo não foram resolvidos. Mas as estátuas aí estão para serem vistas por um povo que continua a ser gerado com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com… fome. E, assim, o povo prefere ser enganado e ter mandioca do que ser informado e estar sempre de barriga vazia.
Sabemos que em Angola os militares, tal como o resto da sociedade, só têm liberdade para dizer o que sua majestade o rei (Eduardo dos Santos primeiro, João Lourenço agora) deixa. Mesmo assim, quando não se pode dizer a verdade, o bom senso aconselha a que se esteja calado.
Recorde-se, por exemplo, que, no dia 12 de Agosto de 2009, o inspector-geral das Forças Armadas Angolanas, general Rafael Sapilinha “Sambalanga”, considerou na comuna do Icolo e Bengo, Angola como uma “trincheira firme na defesa do continente africano”, pelo percurso árduo nas lutas de libertação nacional, bem como o contributo para a paz na região.
Poderia o general “Sambalanga” ficar-se por aqui e tudo estaria bem. Angola é de facto uma “trincheira firme na defesa do continente africano”.
Rafael Sapilinha que falava durante a visita dos Inspectores de Defesa da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) ao Centro Cultural “António Agostinho Neto”, não se conteve, contudo, em querer agradar ao chefe e vai daí enalteceu o espírito de coragem do fundador da nação do MPLA, nas lutas de libertação nacional que culminou com a independência do país.
Para o inspector-geral, António Agostinho Neto teve a capacidade de prever a liberdade e autonomia do povo angolano nos poemas que escrevia. “António Agostinho Neto não é tido apenas como fundador da nação e do MPLA, mas também como um poeta perspicaz”, sublinhou.
Irra! Apre! Chiça! Por que carga de água Agostinho Neto é o único fundador da nação angolana? E então Holden Roberto? E então Jonas Savimbi? Pois é. Assim a verdade só será reconhecida quando Angola deixar de ser um reino do MPLA e passar a ser (dentro de 57 anos, por vontade do MPLA) um Estado de Direito dos angolanos. De todos os angolanos.
Que país é Angola que tem tanta dificuldade em reconhecer a Holden Roberto, como a Jonas Savimbi, o estatuto de Herói Nacional? Por que razão, o Estado/MPLA teve e tem tanta necessidade de humilhar Holden Roberto e Jonas Savimbi? Será assim que se luta pela instituição de um Estado de Direito?
Todo o mundo sabe que Angola é independente, constituindo uma república soberana. Toda a gente sabe disso e julgo que ninguém no mundo ousa por esse facto em dúvida. Que se comemore o 11 de Novembro estamos inteiramente de acordo. Porém, quem ler os jornais de Angola ou ouvir e ver os seus demais órgãos de comunicação chega à conclusão de que em Angola se não fala de outra coisa. É o dia da independência, ora seja o dia dos heróis e mártires da pátria ou o 4 de Fevereiro. Só se fala disso. É fastidioso e já enjoa. Parece que se fala dessas memórias para não falar de coisas mais importantes e que urge resolver, nomeadamente o emprego, a saúde, o ensino ou qualidade de vida. Chega e basta. Comemore-se o passado, mas pensemos mais no presente e no futuro. Seria a mesma coisa que em Portugal se falasse e voltasse a falar todos os dias e a todas as horas do 25 de Abril, de Aljubarrota ou da queda do Salazarismo. Importa é o presente e o futuro, o progresso e o bem estar do povo. Até parece que ao falar mil vezes sobre as mesmas coisas – que também são importantes – se pretende com isso que se não fale de outros ainda muito mais importantes. Deixem a nostalgia e viremo-nos para o futuro.
A brochura do MPLA, tem medo de dir a verdade da historia de angola e aos angolanos. o mpla, pensa que angola , é o mpla e mpla é angola !! . estamos a espera que este matumbos de sair do poder para nunca mais existir.