Ulika, Betinho, nós e os que também deveriam ser… nós

O MPLA tendo ganho as eleições, com fraude ou não (agora pouco importa), e feito empossar, o seu cabeça-de-lista, João Lourenço, como Presidente da República passou também, goste-se ou não, de muitas das suas posições, a ser, o nosso presidente.

Por William Tonet

Vimos seguindo, como jornalistas e amigos ocultos, na crítica, distante dos bajuladores de ocasião, para o alertar a não optar por ser “assassinado pelo elogio, mas salvo pela crítica”.

Manter-nos-emos fiéis a esse princípio, mesmo quando somos incompreendidos e tendo a noção de que a injustiça de que vimos sendo alvo pelo regime que representa, não será reparada no seu consulado.

Esperamos ver o 27 de Maio de 1977 na sua pauta como prioridade, face aos malefícios causados no passado, com fortes reminiscências, ainda hoje, em muitos sobreviventes e órfãos.

Por esta razão, acompanhamos o desenrolar da sua visita oficial a Portugal, marcada por uma entrevista prévia, a um jornal estrangeiro (não é crime, nem chauvinismo) onde muitos dos temas vertidos, deveriam ser alvo de maior ponderação, dada a sensibilidade que carregam.

Mas, logo depois perguntámos: Não poderia ser dada a entrevista ao Folha 8? Mas logo recordamos, quanta ingenuidade, esperar que sairíamos do baú da discriminação…

Fomos o primeiro órgão a solicitar, publicamente, no dia 8 de Janeiro de 2018, no Palácio Presidencial (única vez que F8 foi convidado, pelo Executivo de João Lourenço), uma entrevista, ao Presidente João Lourenço, que diante de todas as câmaras não rejeitou, daí termos depositado o questionário com as respectivas perguntas. Infelizmente, nunca, nem o secretário para informação da Presidência, pessoa que estimamos, no quadro da urbanidade, se tenha limitado a responder: “Não concede, o Sr. Presidente da República, entrevista a um jornal, como o Folha 8”. Preferiram o caminho inverso. Respeitamos, lamentando.

Perguntamos, obviamente, sobre o que pensa João Lourenço, sobre o sensível processo do 27 de Maio de 1977, onde Agostinho Neto liderou a maior chacina intramuros, assassinando sem julgamento, cerca de 80 mil militantes autóctones.

Mas, voltando a Portugal, na conferência de imprensa, de João Lourenço, vimo, num de repente, levantar-se uma mulher franzina, mas corajosa, nos 41 anos de sofrimento, de nome Ulika.

O nome era familiar, pois colidia com o nome de um nosso canoa, Adelino dos Santos, mais conhecido por Betinho, uma das vozes sonantes do programa Kudibanguela, emitido pela Rádio Nacional, nos primórdios da independência: 1975 – 1977, conotado como sendo ligado aos alegados fraccionistas.

Mas canoa, por ser um termo utilizado pelos presos, que no tempo colonial, estavam no campo de concentração de São Nicolau e Betinho (tal como eu, Bornito de Sousa, actual vice-presidente, Ismael Mateus, Paito, Man Cisco e tantos outros) gostava de escrever poemas.

E foi um desses poemas, que a sua filha, guardou religiosamente para ler ao comandante e ver quanta coincidência o tempo teima em não apagar.

O comandante, João Lourenço deixou-a falar, mas não quis ouvir o poema, não fosse o diabo tecê-las.

Resignada sentou-se, mas o seu gesto encheu-me e a muitos dos sofredores e discriminados do 27 de Maio 1977 de orgulho e esperança, que nunca o nosso drama será esquecido, porquanto, muitos dos nossos filhos não deitaram, nem deitarão o nosso cajado, ao chão.

A prova está aí

Continuar a esconder, não fará nunca esquecer os assassinatos cruéis praticados e capitaneados por Agostinho Neto. É hora de discutirmos, abertamente, pois “a terra se recusa a ser ferida”, escreveu Adelino dos Santos “Betinho”.

Atentemos ao poema, que Ulika, filha quis ler ao Presidente da República de Angola:

A SIRENE TRISTE

Aqui onde vidas se minguam
A morte é um refúgio
Onde tudo subsiste
Pelo amor do povo!…
Quando nasce a aurora
A sirene chama os moribundos
Lançados para a morte
Obrigados a enterrar a enxada!…
Cada enxada se bate
Uma vida ainda subsiste
Uma vida que fenece lentamente
Desta juventude sombria!…
Aqui onde o sangue corre
Clamando justiça
Onde a enxada se enterra
A terra se recusa a ser ferida
Para não perturbar o sono
D’aqueles que dormem eternamente!…
Exausta de sofrimento
A terra chora
Chora em memória dos seus filhos!…

Mentira da bajulação

Neste tempo a tentativa de bajulação a João Lourenço é tão grande, que muitas pessoas mesmo com idade do juízo, não prescindem do papel ridículo, como ocorreu com Ruth Neto e que mereceu esta pérola, por parte dos internautas, depois de numa entrevista à LAC ter dito uma barbaridade, acusando o ex-presidente José Eduardo dos Santos de ter assassinado o seu irmão, Agostinho Neto, em Moscovo, quando o mesmo estava em Luanda.

Atentemos o comentário de um internauta, que corre nas redes sociais, como reacção à bestialidade, de uma anciã, que antes bajulava Dos Santos, para a untar, seguramente, com milhões e, agora, pretenderá o mesmo de João Lourenço.

Senilidade total

“Asenhora Ruth Neto octogenária que merece todo o nosso respeito, decidiu, ela própria descaracterizar-se na idade do juízo.

O Presidente do MPLA e da República Popular de Angola, António Agostinho Neto faleceu de cancro em Moscovo, URSS (Rússia). Dentre os vários académicos que assinaram o relatório da causa da sua morte, consta o nome do seu médico pessoal, o cardiologista angolano e seu compadre, professor Dr. Eduardo Macedo dos Santos, antigo director da Faculdade de Medicina da UAN.

Para uma anciã octogenária, não é difícil confundir os nomes: José Eduardo dos Santos e Eduardo Macedo dos Santos. Os dois eram conhecidos como Eduardo dos Santos, daí a confusão na cabeça de Ruth Neto.“

Chegados aqui, o que dizer…..

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