Sociedade civil, João Lourenço e nós

O Presidente do MPLA e da República (para além, de Titular do Poder Executivo), João Manuel Gonçalves Lourenço convidou vários elementos, grupos de pressão e organizações da sociedade civil, para um encontro, sem agenda, no Palácio Presidencial, no dia 4 de Dezembro (ontem), visando medir a pulsação destes.

Por Direcção Editorial do Folha 8

A iniciativa é positiva? É positiva, sim senhor, pese a ausência de um horizonte e comprometimento das partes em relação aos ingentes problemas com que se debate a maioria dos angolanos, desde logo os 20 milhões de pobres.

Muitos internautas – mas também individualidades nacionais e estrangeiras – perguntaram-nos da razão da nossa permanente exclusão neste grupo inicial, chegando mesmo a considerar tratar-se de continuação das injustiças e discriminação, a que temos sido alvo.

Não alinhamos neste diapasão porquanto João Lourenço, enquanto chefe de Estado, tem legitimidade institucional de convidar quem melhor lhe aprouver, num dado momento.

Ademais nunca poderia convidar todo mundo, pois se o fizesse, seguramente, não haveria sala capaz de albergar a multidão.

Por outro lado, temos de nos habituar a não ficar amuados quando as opções de um “convidador”, trilham o sentido contrário aos nossos desejos, atribuindo-lhe rótulos negativos. É um facto que se a liberdade de alguém termina onde começa a nossa, a nossa tem de terminar obrigatoriamente onde começa a desse alguém.

É uma tendência que calcorreia muitas avenidas intelectuais, nos países subdesenvolvidos, vendo fantasmas onde eles não existem, principalmente, quando o inferno mantém as labaredas.

O Folha 8 tem uma precisa noção do seu papel, no universo informativo, bem como no de dar voz a quem não tem voz, muito em contramão do expectável, por parte de quem esteja no Poder. Aliás, quem está no Poder (ontem como hoje e talvez amanhã) sabe que é assim, que tem de ser assim. Hoje, muito mais do que ontem, o Poder político que nos governa sabe (mesmo que não o reconheça publicamente) que as sombras, que os “yes-men”, fazem parte da história mas não fazem a História.

Não abdicaremos nunca de criticar, quando é cada vez mais imperioso que o jornalista, diante do caminhar acelerado do regime, após fechar, com a cumplicidade da maioria da frágil oposição, o pacote de 53 anos de poder ininterrupto (43, Neto/Dos Santos + 10 de João Lourenço), se assuma como os “olhos do país”, afastando-se da lógica de assassinar pelo elogio, quando deve salvar, os políticos no Poder, pela crítica.

É normal, apesar de tremendamente errado, que quem tem Poder seja induzido a pensar que esse simples facto lhe dá o dom de ser dono da verdade. Ninguém é dono da verdade. Mas dizer o que pensamos ser a verdade é uma das melhores, talvez mesmo a melhor, qualidade das pessoas de bem.

Daí estarmos talhados e mentalmente preparados para a continuidade das injustiças, para a memória curta (ou até inexistente) de muitos, pois essa preparação blinda a nossa mente, para continuarmos a lutar por um país mais livre e democrático, com um programa prioritário capaz de reduzir os 20 milhões de pobres que, na crueza dessa verdade, conspurcam a dignidade de todos nós, mostrando quanto somos incapazes de viver para servir.

Por esta razão não estamos obcecados em ser recebidos pelo Presidente da República, depois deste e o respectivo gabinete, terem rejeitado a entrevista, por nós solicitada, no 8 de Janeiro de 2018, sem a urbanidade que carecia o pedido, “futebolisticamente” atribuindo-nos um cartão amarelo.

Igualmente, no carreiro da omissão age o gabinete do Presidente do MPLA ao não dar provimento a uma reclamação feita, com todos os pareceres, de ter havido motivação política, ao despojarem o nosso Director, William Tonet, de todos os títulos profissionais, no consulado anterior, visando que ele vegetasse no alcoolismo ou droga e, aqui, também, o mutismo impera.

Mas, repita-se, em tudo isso, ao manter as injustiças e a discriminação, João Lourenço e o seu consulado não podem ser acusados de ilegitimidade. Nunca termos sido convidados para nenhuma actividade do ministério da Comunicação Social, da ERCA, etc., tem uma mensagem claro que respeitamos.

Finalmente, enquanto hoje (dia 5.12.18) Rafael Marques vai ao Palácio para uma audiência com o Presidente da República, que auguramos corra a contendo das partes, amanhã (6.12.18), William Tonet vai responder a mais um processo (desconhece no todo, do que se trata), que corre trâmites no DNIAP da Procuradoria-Geral da República.

É assim o nosso país. Terá de continuar a ser assim? Talvez não. O Presidente João Lourenço diz que quer um país diferente, para melhor. Acreditamos que sim. Estamos a dar o nosso contributo. Mas temos a ingenuidade de pensar que para isso não pode haver angolanos de várias categorias.

Recorde-se, num mero exercício de memória, que no bairro Vila Alice, no quadro das actividades dos “Comités Ginga”, em 1975, antes da proclamação da nossa Independência, sob coordenação do nacionalista Guilherme Tonet, que organizava e ministrava cursos de formação de activistas pró-MPLA, dos quais se salienta o Curso de Monitores Político-Militares, participaram uma plêiade de jovens que mais tarde desenvolveram acções de realce em prol da construção da Pátria angolana.

O espaço reservado para as referidas aulas situava-se na residência de Guilherme Tonet, que na sua acção formativa contou com o apoio do seu filho primogénito William Tonet, cuja missão primordial se centrava na produção, impressão e distribuição dos materiais que serviram de apoio aos formandos.

Eis alguns nomes dos participantes nas actividades formativas levadas a cabo por Tonet: Ana Dias Lourenço, Luís Carneiro “Luisinho”, Evelize Fresta, Mariana Afonso Paulo, Ana Maria de Sousa Santos “Nani”, Pedro de Almeida, Fernanda Dias, Artur Nunes, Sara Bernardete Barradas, Maria da Conceição Guimarães.

Estes são alguns nomes dos muitos jovens que receberam formação política em prol do MPLA no período que antecedeu a proclamação da Independência Nacional e que integraram os múltiplos Comités de Autodefesa (braço armado embrionário do MPLA na cidade de Luanda) sob tutela dos “Comités Ginga” espalhados nos bairros como Sambizanga, Prenda, Golfe, Cazenga, Marçal, Rangel, Bairro Popular, Ilha de Luanda, Ingombota, etc..

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One Thought to “Sociedade civil, João Lourenço e nós”

  1. Paulino Bambi

    O Importante é que o Jornal esteja alinhado com o povo Angolano. Este é o diferencial. Precisa-se de um jornal com editorial próprio, os que editam ideologia do MPLA tem de sobra. Precisa refletir. Tapados já vivemos a maior parte do tempo da nossa fictícia independência.

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