A maioria dos autóctones angolanos continua a assistir impávido e sereno à peça teatral: “os meninos endinheirados pelo crude, gozam com a chipala do povo”, não sabendo até onde vai parar este, já, putrefacto regabofe.
Carlos Saturnino, presidente do Conselho de Administração da Sonangol, no pedestal da sua autoridade, veio a terreiro, como se estivesse num carrocel da Disney, em Paris, com a muito provável e prévia autorização do Titular do Poder Executivo, João Lourenço, sem que tenha ponderado todos os prós e contra desta acção, cujo ricochete poderia, como ocorreu, atingir, no final, exclusivamente, os jogadores da equipa “Rouba & Rouba, Futebol Clube”.
Foi imprudente, deveria aconselhar o contrário e, solicitar o desencadear de um processo de investigação da Procuradoria-Geral da República, sem o vazamento de informações confidenciais e em segredo de justiça, para que, blindada, o Clube dos para borrar, todas as meninas com bonecas e a princesa do cesto de ovos, com gasóleo escuro. Fê-lo, para satisfação de um ego saloio de menino mimado, que ressabiado com a anterior denúncia decidiu, na primeira oportunidade, dar o troco, esvaziando, também, o depósito do carro de Isabel dos Santos. Gritou vitória. Sim. De Pirro!
Pois, quando pensava ter materializado a vingança, num de repente, emerge das águas geladas do Báltico, um portentoso submarino, com armas nucleares, disparando dois mísseis: um na direcção da SONANGOL: MENTIROSO e outro na do PALÁCIO PRESIDENCIAL: INGÉNUO. Os estragos, para o bem ou para o mal, ultrapassaram as vaidades umbilicais dos dois autores materiais e de um moral (Carlos Saturnino, Isabel dos Santos, João Lourenço), porquanto a devassa de dados sensíveis, da maior empresa pública do país, afectaria sempre a credibilidade das instituições de Angola e a seriedade dos dirigentes do regime do MPLA.
Veja-se o caso de João Lourenço (0,5%), afinal ter nomeado, para governador do Banco Nacional de Angola, um banqueiro, José de Lima Massano (2%), por este ser seu sócio no BAI (Banco Africano de Investimento), um dos bancos cujos accionistas mais beneficiaram com a especulação financeira, à, também, accionista Sonangol, minoritária; 8%, que detinha até Junho de 2016, no BAI, 80% dos seus depósitos em AKZ e USD, ou seja depósitos na ordem de 752 milhões de dólares em Dezembro de 2016, com “a cobrança de taxas de comissões elevadíssimas e comissões financeiras sobre operações cambiais de 7%”.
Sendo verdadeiras estas afirmações, justifica-se plenamente, segundo o economista Marcos Nvula, a nomeação quer de José de Lima Massano, à frente do Banco Nacional de Angola, como de Carlos Saturnino, que é acusado de delapidação da Sonangol Pesquisa & Produção, para Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, porque, segundo o provérbio popular, “não se substitui de um covil, um bandido por um honesto”.
Uma sujeira facilmente evitável. Evitável, sem que as suspeições, evidências de desvio ou comportamentos ilícitos de gestão, deixassem de ser investigadas pelos órgãos competentes.
No caso Sonangol, mais uma vez, João Lourenço, voluntária ou involuntariamente mais do que mostrar despreparo para a frieza e contenção mental, das funções, deixou transparecer um sentimento incubado de vingança, contra José Eduardo dos Santos, porquanto, poderia, em posse de informação qualificada, previamente endossada por Carlos Saturnino sugeria contenção verbal e, segredo sobre os dados carentes de apurada e imparcial investigação. Preferimos o inverso.
Agora a pergunta que se impõe: Quem ganhou com esta palhaçada denunciativa? Obviamente, pouca, muito pouca gente, face ao batalhão de perdedores…
Mais, que ambiente de negócios propicia esta crispação, entre a ex e o actual gestor de uma empresa pública, como a Sonangol, sempre escrutinada, no exterior, pela estabilidade interna e junto do poder político? Por mais legítimas, até pode ser que sejam, o bom senso e o clima de tensão desta transição política, obrigavam, necessariamente, a maior contenção e sentido de responsabilidade, que não deve ser confundido com esconder a sujeira ou roubalheira, que para desgraça colectiva é institucional.
O peculato que dilacera os cofres públicos, virou uma norma jurídica, legitimada nos corredores do poder, daí ser transversal a todos os membros do regime. No caso de roubalheira, fosse o MPLA um pouco mais precavido e, poderia, num dado momento, emprestar uns corruptos à UNITA, à CASA-CE, à FNLA, ao PRS e outros, para quando se estivesse a falar deste fenómeno, cobrisse todos e não só a ele (MPLA). Assim, assume a paternidade de ser a equipa campeã dos corruptos e ladrões do erário público.
A rés pública deixou de ter significado e, ao que parece, quem dela tiver noção, sendo membro do executivo é alvo de chacota: “você é burro, estiveste lá e não roubaste, agora estás pobre”…
Veja-se a resposta de Isabel ao mimo do comparsa Saturnino, sobre o avião: “o seu comentário sobre o avião que poderia ter comprado se não tivesse investido nos consultores seria cómico se não fosse tão prepotente e manipulador. Lembro que durante a sua gestão na Sonangol Pesquisa & Produção registamos uma perda de 859 milhões de dólares. Isto representa, nas suas próprias palavras, não só um avião mas uma frota inteira. De realçar que sem o trabalho estratégico feito pelos consultores que apoiaram a equipa de gestão a empresa continuaria na situação descrita pelo Dr. Lemos meu antecessor, em 2015. Ou seja, estaria falida. E nem um bilhete em classe económica no seu Boeing imaginário teria hoje capacidade de comprar”.
Isabel com esta afirmativa disse ser Carlos Saturnino mais gatuno do que ela, mesmo sem ter sido filho do ex-Presidente da República, nem ter precisado do cobertor do nepotismo. Estranha-se pois a dança destes larápios no centro poder, quando deveriam mudar era de presídio.
Mas a pergunta que se impõe é: quais as razões de João Lourenço sendo detentor destes dados apostar e nomear um suspeito, para um cargo tão relevante? Porque não agiu, da mesma forma, em relação a Carlos Panzo, cuja suspeição é bem menor e não lesou empresas públicas?
A resposta, talvez só possa ser obtida num eventual congresso extraordinário do partido do “Ali Babá e os 40 Ladrões”!
No caso vertente, que não é único nem será o último, os cidadãos ficaram a saber, verdadeiros ou falsos, dados importantes no comunicado de Isabel dos Santos, de o MPLA se ter transformado, sem ainda sair do poder, mas apenas mudado de militante na Presidência da República, num saco de gatos. Isabel dos Santos, não se sabendo se é católica ou ortodoxa e, de alguma vez ter lido a Bíblia e o Êxodo 21:21-36, na controvérsia afirmação de Moisés, também conhecido como, Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”, antes da chegada de Jesus e interpretada de diferentes formas, aplicou, ao caso, as seguintes citações:
– Se alguns homens pelejarem, e um ferir uma mulher grávida, e for causa de que aborte, porém não havendo outro dano, certamente será multado, conforme o que lhe impuser o marido da mulher, e julgarem os juízes. Mas se houver morte, então darás vida por vida;
– Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe;
– E se algum boi escornear homem ou mulher, que morra, o boi será apedrejado certamente, e a sua carne não se comerá; mas o dono do boi será absolvido. Mas se o boi dantes era escorneador, e o seu dono foi conhecedor disso, e não o guardou, matando homem ou mulher, o boi será apedrejado, e também o seu dono morrerá.
– Se alguém abrir uma cova, ou se alguém cavar uma cova, e não a cobrir, e nela cair um boi ou um jumento, o dono da cova o pagará; pagará em dinheiro ao seu dono, mas o animal morto será seu. Mas se foi notório que aquele boi antes era escorneador, e seu dono não o guardou, certamente pagará boi por boi; porém o morto será seu” (In Bíblia Sagrada).
Como se verifica com esta polémica, mais uma vez repetimos, a maioria dos cidadãos do país fica com a noção de o MPLA não estar preparado para a alternância de poder, tão pouco do paradigma funcional dos órgãos de soberania e das instituições de poder de Estado.
A cultura narcisista, inserida na carta constitucional de 1975, de o MPLA, enquanto partido estar acima de qualquer órgão do Estado (“O MPLA é o Estado e o Estado é o MPLA”), mantém-se actual e a vacilação momentânea que sofre, causada pela transição política de liderança, verifica-se até a sua consolidação, atente a profundidade barroca da primeira Lei Constitucional de 10 de Novembro de 1975, aprovada exclusivamente, pelos membros do comité central do MPLA, para se ter a noção do velho chavão partidocrata: “o MPLA é o Povo e o Povo é o MPLA”.
E enquanto os meninos que enriqueceram à custa do dinheiro do erário público brincam, como é cediço, a factura é paga pelo povo, que anestesiado pela cultura do MPLA e desconhecimento dos seus reais direitos, não reage, para dar um basta a esta bandalheira.
Na realidade, os cidadãos não querem saber, quem dos dois: Saturnino ou Isabel, tem razão, pois não alteram o preço do tomate, que continua a subir, mas, sim, o que deve ser feito para a vida da maioria dos 20 milhões de pobres, ter perspectiva de melhoria e, do princípio de igualdade ser aplicado a todos ladrões, sejam de colarinho branco ou pilha-galinhas.