Lima Viegas, embaixador e presidente da Associação de Diplomatas Angolanos, diz em comunicado que transcrevemos “ipsis verbis” que “não fez mal a ninguém por ter descoberto um dos maiores ninhos de marimbondos existente no Ministério das Relações Exteriores”, acrescentando que “é a partir deste Ministério que há os maiores desvios de milhões de dólares que foram descobertos e pretendem silenciar a acção da Inspecção”. Eis o comunicado:
«António Lima Viegas / Embaixador, vem por este meio comunicar a todos os Colegas que a Direcção do Mirex foi longe demais, porque ontem deu ordens à Unitel para bloquearem todos os meus números de telefone.
A Unitel alega que eu não tinha feito o registo de identificação, grande mentira, e inclusive um dos números estava em nome de minha esposa.
Quem faz isto pode também mandar matar.
Se pensam que com isto vão-me amedrontar estão enganados. Eu sou um Homem corajoso e destemido. Todos nós vamos morrer um dia, mas se pensam que vão continuar a mentir ao Presidente da República estão redondamente enganados.
Quem fala a verdade não merece castigo.
Não fiz mal a ninguém por ter descoberto um dos maiores ninhos de marimbondos existente no Ministério das Relações Exteriores.
É a partir deste Ministério que há os maiores desvios de Milhões de dólares que foram descobertos e pretendem silenciar a acção da Inspecção.
Senhor Ministro, Manuel Augusto toda a gente sabe que você sofreu uma grande pressão do seu Director de Gabinete – Salvador Allende e do Secretário Geral – Agostinho Van-Dunem, que lhe encorajaram para tomar a decisão de me exonerar e sou a primeira vitima da picada do marimbondo.
Na qualidade de Inspector e de acordo com o previsto na lei propus a instauração de alguns processos disciplinares a chefes de Missões que tiveram um mau desempenho que ao serem exonerados cancelaram a seu favor contas bancárias e ficaram com o valor equivalente a mais de um milhão de dólares e outros que com medo da acção da Inspecção vieram entregar-se à confirmar desvios de Dólares depois de cinco anos.
Qual é a medida que estes chefes de Missão merecem?
É bom notar que a presença do Inspector / Lima Viegas era temida em todo o Ministério e em todas as MDC’s.
Isto foi notório na primeira visita de Inspecção que efectuei em companhia de dois funcionários do Ministério do Interior, mais concretamente da SIC e do SME em que o comportamento de um funcionário que se dirigiu ao Inspector dizendo que não era necessário procurar mais e entregou toda documentação no valor de mais de 4 (quatro) milhões de dólares americanos que representava má gestão, isto foi inédito, e sinceramente nunca me tinha acontecido uma coisa igual.
Isto surpreendeu a toda equipa, principalmente aos dois polícias que me acompanhavam.
Só está atitude fala por si e estou ciente que a presença do Inspector estava a contribuir para a moralização da Instituição, mas não era do agrado da Direcção do Ministério, em especial do Salvador e do Agostinho.
Ilustres Colegas
A acção da Inspecção sempre foi acima de tudo pedagógica, mas houve casos que ultrapassaram os limites e não se pode admitir.
Quando alguém como chefe de uma missão compre duas vezes um imóvel e ainda estamos a pagar rendas de casa, o que isto representa.
Por outro lado há casos em foram transferidos valores avultados, para locais cujo local não justificava aqueles valores (milhões de dólares) e quando se deslocavam aos bancos estrangeiros procediam à levantamentos de montantes exagerados de 600.000.00 USD (seiscentos mil dólares) de uma só vez, por exemplo.
Foram propostas missões de inspecção, para se apurar, in loco, mas o Ministro Manuel Augusto nunca autorizou.
Não tenho dúvidas que um dos maiores buracos, ou mesmo o maior do País é no Mirex e nas Missões Diplomáticas e Consulares “MDC’s” nos Países fronteiriços.
Depois da minha exoneração os prevaricadores dançam de alegria, dando-se ao luxo de enviar mensagens de satisfação e a telefonaram a insultar.
De notar que durante um ano e dois meses como Inspector Geral só tive um despacho com o Ministro Manuel Augusto e recebia ordens do Director de Gabinete e do Secretário Geral, mas ultimamente rejeitei, porque de facto o Inspector depende diretamente do Ministro.
Por outro lado como Inspector nunca participei numa reunião para tomar decisões a nível do Mirex.
Por incrível que pareça manifestei o meu descontentamento por tal facto ao Titular do Departamento Ministerial.
A nível do Ministério o Ministro Manuel Augusto tem muitos compromissos para com as pessoas que acolhem os seus filhos e irmãos, por tal facto não pode exercer o poder disciplinar e há muitos casos que não se pode aceitar é assim que vamos assistir proximamente a nomeação do Embaixador Edgar Martins para Embaixador de Angola na Coreia do Sul só por ter feito este favor.
Na qualidade de Inspector sempre pensei em poder transmitir a minha experiência a toda equipa de inspectores, mas fui impedido de assim proceder, porque numa Inspecção dificilmente se apuram os montantes em falta.
O que se faz hoje são meras auditorias por amostras e não se apuram os resultados, mas paciência, porque a actual Direcção do Mirex nunca esteve interessado nisto.
O Titular do Poder Executivo tem que saber que o Ministro Manuel Augusto está a ludibria-lo, à frente diz uma coisa e por trás faz o contrário, tenho provas do que estou a dizer.
Há Chefes de Missões que delapidaram o erário público, trazendo todo o recheio das Residências Oficiais e inclusive o carro protocolar e não se faz nada, outros compram Lexus e põem no País e pretendem abater a seu favor a custo zero, outros compram autocarros e põem em Luanda a fazer de táxi, pintado de azul e branco e ainda vem o Senhor Ministro a desautorizar o Inspector Geral mandando abater o autocarro, quando não tem competência para tal.
De facto a opinião pública deve saber a verdade é que toda a acção desenvolvida pela Inspecção nunca podia ser do agrado do próprio Ministro.
Isto que estou aqui a dizer é uma gota de água no oceano, porque há coisas muito mais graves que vêm sendo feitas à muitos anos.
A minha coragem e determinação eles nunca irão travar, porque sempre fui determinado.
O novo Inspector Geral e a própria Direcção do Mirex ficaram estupefactos, porque pela primeira se fez uma passagem de pastas onde foi elaborado uma relatório exaustivo em que se espelha toda a acção desenvolvida pela Inspecção, bem como procedeu-se à entrega de todos os dossiês, o que está em jogo é o País e não as pessoas.
Quero aqui manifestar o meu descontentamento por parte do novo Inspector que numa atitude de falta de respeito prometeu dar me pancada no seu próprio Gabinete, mas consegui suster-me, por forma a não acontecer o pior, mas tudo isto não me admira, porque ele tem consciência que como Director dos Recursos Humanos introduziu pessoas estranhas ao Mirex nas MDC’s (cunhados, filhos, outros parentes e motoristas), como todos eles fizeram, isto hoje é um “Congo”, não se sabe quem é quem.
Durante todo o período que fiz parte da Direcção do Mirex pude ouvir desabafos pouco abonatórios em relação a pessoas com um determinado prestígio e são colaboradores do Titular do Poder Executivo e muito estão a contribuir p/ o êxito da diplomacia por parte do Salvador e do Agostinho. Isto não é bom e considero uma falta de respeito.
Por fim digo que o Mirex não pode continuar a ser conduzido por jovens que não conhecem os meandros da diplomacia.
O Secretário Geral tem que ser um verdadeiro diplomata que tenha feito pelo menos uma missão no estrangeiro e que conheça os funcionários e resolva os problemas e não crie outros.
Resolvi efectuar a presente denúncia devido as graves irregularidades que vive o Mirex e por outro lado a minha vida corre perigo, pelo que estou na disposição da PGR que deveria saber e apurar toda a verdade.
Obrigado
A. Lima Viegas»