O país teima em não baixar de tensão, dominado pelo conflito interno no seio do MPLA, baseado na lógica da sucessão de castas, em que a nova tudo faz para destruir a anterior. Eram todos camaradas. Eram todos uma família. Estavam mais unidos do que nunca…
Por William Tonet
Afinal os da casta anterior são um quadrilha de criminosos marimbondos, tendo José Eduardo dos Santos à cabeça, também, dos traidores à Pátria e dos corruptos, cujo covil, só ele tem a chave, mas que vão morrer no fogo.
O tom sobe, na proporção da musculatura, empreendida, contra alguns feitos cobaias, incluindo o filho do ex-presidente, para gáudio dos novos donos do poder, que fazem o país assistir impávido a emergir de uma podridão escondida debaixo do tapete do partido no poder.
Ninguém pode, em sã consciência condenar a legitimidade que assiste a João Lourenço, nesta cruzada, depois de se lhe ter dado, de mão beijada, o controlo exclusivo de todos os órgãos do poder de Estado, com a agravante do poder judicial, que poderia ser a esperança, numa verdadeira transição, constituir, mais uma vez, a sola seca do seu sapato (Titular do Poder Executivo).
Daí assistir-se à política a amarfanhar o real papel da justiça nos preceitos: CORRUPÇÃO, TRAIDORES DA PÁTRIA, COFRES VAZIOS, IDENTIFICADOS OS CORRUPTOS, MORRER NO FOGO, MARIMBONDOS, etc., etc., etc. e tal…
A maioria dos autóctones desejava uma mudança, assente na legalidade dos actos dos agentes e órgãos públicos, mas assiste a fracturas internas num partido, onde as duas principais figuras se digladiam a céu aberto, com fortes repercussões, em todos os órgãos do país, denotando haver ressentimentos incubados.
Assim, o ódio a José Eduardo dos Santos está a matar o amor à democracia interna no MPLA e em muitos sectores no país, com as consequências daí inerentes.
O MPLA, verdade ou mentira, ao prescindir das fracturas (já por si, graves), optando por grandes denúncias sobre ravinas de crimes de corrupção, cometidas não só a José Eduardo dos Santos, mas a toda sua equipa, macula mais, para gáudio do Ocidente, que rejubila com essa luta política de sanzala, no interior de um partido, que dirige Angola faz 43 anos.
Falar de combate à corrupção, ao nepotismo e aos marimbondos empolga, o exterior, como se viu mais recentemente, na visita presidencial a Portugal, mas por si só, nem sempre significa mais e melhor democracia, respeito pelos direitos humanos, internamente.
Mas, como sempre, aos ocidentais, pouco importa a democracia, a divisão e independência de fortes órgãos do Estado em África, por acreditarem ser mais fácil, negociar com um país subdesenvolvido, onde o líder concentre todos os poderes, típico das ditaduras déspotas, que alimentam a pobreza extrema, a estagnação económica, o desemprego, a inflação monetária, entre outros males.
Paradoxalmente, nesta cruzada, opondo as duas maiores figuras, paridas do mesmo ventre partidocrata, o bureau político e o comité central do MPLA mostra-se calado e mudo, uma vez, tudo estar agora, tal como ontem, concentrado no novo presidente, que detendo todo poder não tem oposição interna, quanto mais não seja para aconselhar as lideranças (José Eduardo dos Santos, ex-presidente e João Manuel Gonçalves Lourenço, actual presidente) a terem maior contenção verbal, por mais legítimos que sejam os seus desencantos.
Se antes o MPLA já estava mal, face ao nepotismo e à corrupção, apontada a José Eduardo dos Santos justificativa dos baixos índices de popularidade, com reflexo nos resultados eleitorais, segurados sempre, com a força da fraude, a forma tumultuosa como o novo comandante, João Lourenço pretende dobrar o “Cabo das Tormentas”, depois dos picos de alta aceitação popular, com as exonerações, prisões de ministro, governador, gestor bancário e filho do ex-presidente, não terem dado mais do mesmo, começa a baixar vertiginosamente, influenciada, quer pela má política económica e social, como ainda das atabalhoadas operações: Transparência e Resgate, junto dos países vizinhos, mais concretamente, o Congo Democrático e no país, com a retirada e limitação do trabalho de ambulantes, feirantes e zungueiras.
A maioria dos autóctones fora do partido no poder, não imagina(va) um Messias, mas alguém com pragmatismo, capaz de desmontar a gangrena corrupta e corruptora, montando uma imparcial equipa, capaz de proceder a verdadeiras reformas constitucionais e legais o inverso é mera falácia de um poder que quer assentar a autoridade, através do autoritarismo.
O pragmatismo e coragem do Presidente da República, João Lourenço enfrentar o séquito do outrora todo-poderoso, ex-presidente, não pode assentar na simples emotividade, capaz de resvalar, num futuro próximo, os esforços, numa vitória, sim, mas de Pirro.