Como se não bastasse
a repressão, nem a malária poupa a Lunda Norte

As autoridades sanitárias da Lunda Norte notificaram durante o primeiro trimestre deste ano 66.646 casos de malária, com uma taxa de letalidade de 0,7%, contrapondo os 26.617 casos do primeiro trimestre de 2017, com óbitos na ordem dos 0,3%.

Segundo o chefe do departamento provincial de saúde pública e controlo de endemias, Alfredo Nelito Massaco, a malária está na primeira linha das prioridades de combate do gabinete provincial de saúde, acrescentando que a tuberculose teve uma diminuição durante o período em análise, com a notificação de 243 casos e 10 óbitos, ao passo que no primeiro trimestre de 2017 a instituição registou 358 casos, sendo 12 óbitos.

Recorde-se que, segundo o Jornal de Angola (órgão oficial do MPLA/regime) as autoridades sanitárias angolanas previam iniciar, a partir de 2015, o processo de pré-eliminação da malária, a doença tropical que mais óbitos provoca no país.

Quanto ao VIH/Sida, Alfredo Nelito Massaco disse que no primeiro trimestre do presente ano tiveram 4.740casos testados, destes 348 positivos que já encontram-se em contacto com os serviços afins de saúde para a referida orientação e que, de Janeiro a Dezembro de 2017, foram igualmente testadas 516 mil pessoas, das quais 195 com resultado positivo.

Aquele departamento notificou igualmente 370 casos de escabiose (sarna), desde a segunda quinzena do mês de Março, nos municípios do Capenda Camulemba, Lucapa, Chitato e Lóvua, estando dos doentes a receber já o tratamento devido.

No período em referência, o gabinete provincial da saúde desenvolveu, nas escolas e comunidades rurais, diversas actividades de prevenção da malária, de doenças diarreicas, HIV-Sida, tuberculose, sarna, ébola e outras enfermidades.

Por outro lado, a província da Lunda Norte imunizou 388.432 crianças, uma média de 99%, durante a campanha tripla de vacinação (sarampo, rubéola e pólio), das mais de 500 mil crianças previstas, tendo igualmente algumas localidades de difícil acesso ficado sem o referido processo.

No início de 2012, o coordenador do Programa de Luta contra a Malária explicou, em Luanda, que a probabilidade de Angola iniciar o processo de pré-eliminação da doença reside na contínua redução de casos da doença.

Filomeno Fortes, que falava à margem de uma reunião extraordinária da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) sobre saúde, frisou que as autoridades angolanas e os seus parceiros estavam empenhados em baixar, cada vez mais, o índice de mortalidade por malária no país.

“A manter-se este nível de redução, a partir de 2015 podemos pensar na possibilidade da pré-eliminação da doença no país”, sublinhou Filomeno Fortes.

O médico disse na altura que, há dez anos, o país registava 20 mil óbitos por ano, mas que actualmente (2012) o número baixou para uma média de seis mil, devido ao esforço desenvolvido pelo Executivo no sector da saúde, que estabelece a redução de casos de paludismo entre as populações.

Filomeno Fortes disse acreditar que, em 2013, iria haver uma diminuição da mortalidade por malária, cuja cifra deveria fixar-se em cerca de quatro mil óbitos por ano.

O médico revelou haver falsos diagnósticos de malária devido à existência de certos vírus que provocam sintomas semelhantes aos causados pelo paludismo.

“Realizámos estudos que comprovam a existência de alguns vírus que provocam quadros clínicos parecidos com os da malária, como febres, dores de cabeça e articulares”, acentuou Filomeno Fortes. Sobre este assunto, salientou que, por não haver capacidade para a realização de um diagnóstico diferencial, certos técnicos de saúde continuam a diagnosticar falsamente esses casos como malária.

O presidente da reunião de peritos da SADC, Augusto Rosa Neto, disse na mesma altura que foi aprovada a assinatura de um memorando de entendimento para a criação de laboratórios supranacionais de referência, em centros regionais de excelência. “Neste momento, existem laboratórios na África do Sul, Zimbabwe e Botswana, que vão atender os casos de malária, tuberculose e VIH/Sida dos países membros da SADC”, informou.

Os laboratórios nacionais vão continuar a funcionar normalmente, mas os que não têm condições para realizar exames podem enviar para os países membros que dispõem de capacidade.

O Lesoto, as Ilhas Maurícias e as Seychelles são os três países da SADC que já não registam casos de malária, enquanto Moçambique era aquele que registava o maior índice de casos. A directora nacional adjunta de Saúde Pública de Moçambique, Rosa Marlene, apontou como causas principais a situação epidemiológica e as questões ecológicas resultantes do clima.

“Moçambique é uma região que tem grandes rios e muita água na costa. Por essa razão, já tivemos dez milhões de pessoas infectadas com malária. Neste momento, estamos com três milhões de casos”, sublinhou a responsável moçambicana.

A doença é, tal como em Angola, uma das principais causas de morte em Moçambique, razão pela qual tem sido prioridade do governo coordenar os métodos de prevenção e de cura.

“Este encontro tem vantagens porque, para conseguirmos eliminar a malária, as acções têm de ser concertadas e, com a troca de experiências e informação, podemos chegar a melhores soluções”, acrescentou Rosa Marlene.

Em 2013, por ocasião do Dia Mundial de Luta contra a Malária, a Esso Exploration Angola (Bloco 15) anunciou, em nome da Fundação ExxonMobil, uma doação adicional de mais de 1,8 milhões de dólares para projectos comunitários de combate à malária no país.

De acordo com um comunicado da petrolífera, que investiu mais de 25 milhões de dólares em projectos de combate à malária em Angola, esta doação adicional permitiria implementar seis programas comunitários nas províncias de Luanda, Benguela, Cunene, Huambo, Huíla, Kuando-Kubango, Kwanza-Sul, Kwanza-Norte, Lunda-Norte, Lunda-Sul, Malange, Moxico, Namibe, Uíge e Zaire.

Folha 8 com Angop

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