Esta semana quero demonstrar aos meus irmãos angolanos o privilégio imenso que é serem falantes da mais bela língua alguma vez criada pela humanidade, que é a mais falada no Hemisfério Sul. Dentro de alguns anos a última flor do Lácio será um dos 3 idiomas mais falados na condição de primeira língua.
Por Brandão de Pinho
Em sua homenagem, vou inundar este texto com as mais belas figuras de estilo que as musas do Vouga se me – sensíveis que são – sussurrarem, sibilantemente, som sobre som, numa orgia sonora, como se estivesse, metaforicamente, a depositar uma coroa de flores no túmulo de Vaz de Camões.
A providência encarregou-se de me dar a conhecer Eça não tinha eu ainda 10 anos, devido à conjugação feliz de vários factores entre os quais: a “influênzia” do vírus da gripe, e, a impertinência e pedantismo do bibliotecário – mais do que o seu genuíno interesse na minha formação literária – que enfiou no pacote de livros a que tinha direito, o “Constantino” do Alves Redol e um livro de contos do Eça, por entre outros infantojuvenis.
Dessa forma li verdadeiramente com prazer o meu primeiro clássico de uma literatura já não alocada à minha idade.
Classificar Eça de realista ou romântico é quase tão difícil como distinguir uma gripe de uma constipação, infecção bacteriana oportunista ou alergia, ou até, de um mero choque térmico com reflexos nas mucosas.
O que é certo é que essa condição me obrigou a uma prostração no leito da minha avó e madrinha, e, depois de ler o guardador de sonhos mais ou menos infantis, mas, extremamente aborrecidos é que vi criadas as condições para me prostrar novamente e desta vez com prazer inaudito ante o mais radioso, cintilante, literato e douto diplomata português de todo o sempre, se bem que nos antípodas de Camilo e Pessoa, mas nos areópagos da literatura mundial de fim de século (XIX obviamente).
Num dos contos, Eça retratava a vida impoluta, abnegada e militante da mais servil indigência de um austero frade mendicante frugal, como Francisco de Assis, e, sem mácula alguma que se lhe pudesse apontar. Todavia quando esse frade encontrou um camarada moribundo e exânime, aparentemente compungido de toda uma vida privada da satisfação dos sentidos, estarreceu ante o seu último desejo, que mais não era do que a materialização do pecado da gula apesar de toda uma vida vetada à repressão dos desejos do estômago.
Num gesto supremo de bondade e sacrifício, o nosso personagem pilha um perdido porco a um pobre pastor; inclemente, mata-o, mas não implacavelmente; cozinha uma perna; que, serve ao mortiço e bento mendigo cuja ingestão lhe serve de canto do cisne.
Apesar de uma vida misógina, dedicada à contemplação do Senhor e baseada no sofrimento e na negação de todo e qualquer prazer, as implicações desse gesto foram suficientes para esse Senhor – defronte do Ter e o Haver – o condenar às profundezas frias e húmidas do infernal fogo. Apenas e só, devido a um momento… mas cheio de pecados.
A importância de João Lourenço é muita. Por isso não pode enveredar pelos caminhos da demagogia e autoritarismo se não perderá algum eventual capital conquistado. João Lourenço até pode estar a fazer tudo bem e com grande sacrifício pessoal. Pode, inclusivamente, estar a remar sozinho contra uma maré de um certo “status quo” transversal e generalizado, de uma putativa nação que mais não é do que uma imensa “cleptoplutocracia” criada para servir um partido político, como são os caos e casos de Angola e do MPLA.
Pode estar, estoicamente, a enfrentar e resistir a pressões de todos os quadrantes, quer de filhos e camaradas militares quer de correligionários do “M” ou credores estrangeiros, mas, só o facto de não permitir a uma orfana menina, doce, educada e polida, que prestasse uma derradeira homenagem a uma das vítimas do 27 de Maio, pelos vistos seu pai, através de um inofensivo poema (parece que o Comandante não gosta nada de poemas e eu que o diga) ou o facto de ter um passado não dissociável de uma certa apetência para o pecado do roubo do alheio (perdão pela redundância) que eu até poderia compreender se usasse, como de facto uso, condescendentemente, uma ferramenta a que os Historiadores recorrem amiúde como é a Hermenêutica Histórica.
Ou seja, a interpretação dos acontecimentos à luz do tempo e não pelas palas enviesadas de uma visão redutora dos valores contemporâneos, que é o que fazem, como se viu numa conferencia de imprensa de JLo em Portugal, alguns letrados angolanos – e não necessariamente João Lourenço – quando discutem temas como a escravatura e o colonialismo (não confundir com “coolnialismo”), sobretudo para justificar o retrocesso e atraso da pátria terra.
Alguns dos líderes de antanho empenharam o futuro país e emprenharam pelos ouvidos – se me permitem esta irritante expressão popular – das interesseiras, desinteressadas e enganadoramente interessantes potências estrangeiras, cujo expoente máximo e grande líder foi a ex-vaca sagrada “fermosa” e não segura, a augusta figura: – Agostinho Neto, cujo ódio aos homens de pele branca e cara pálida só era imputável se fossem angolanos. Se fossem eslavos esse ódio virava amor. Antítese perfeita.
Se os meus companheiros leitores – entre os quais está Sua Excelsa Excelência o mais preeminente dos “marimbondocidas” (perdão pela silepse de género) da África Austral – me permitirem um enfadonho exercício estilístico, exagerado e esdrúxulo, e, (indultem-me pela exagerada assonante aliteração) se não se estiverem marimbando para o que venho lavrando; imaginem o seguinte…
… imaginem então, que por estes dias surgia na sociedade civil portuguesa, um grupo de intelectuais (do mais alto gabarito estou mesmo a ver) com um nome pomposo, do género: Movimento de Fomento da Verdade e Justiça para o Povo Celtibero; e , suponhamos, que esses tresloucados produziam um abaixo-assinado para Portugal apresentar queixa contra a Itália por colonialismo e escravatura – apesar de ter sido mais um “coolnialismo“ e essa escravatura ter libertado os lusitanos da fome e da ignorância e ser paga com ordem e paz – …nas mais Altas Instâncias Internacionais…” (parece que oiço essas vociferantes gargantas exaltadas e já meias roucas) devido à romanização e à perda de língua, identidade e cultura celtas; e que por fim, quaisquer defeitos, revezes, contra-tempos e atrasos verificados em Portugal fossem justificados – e aí socorreriam-se para provar a sua intelectualidade de uma feliz antítese- por causa da “…bárbara colonização romana …” imaginem só… não aprece familiar?
Num país minimamente civilizado respeitar-se-ia a liberdade dos cidadãos se associarem e expressarem as suas ideias, mas, uma petição tão ridícula e imberbe seria vetada ao lugar que mereceria… a “pubela”.
“Pubela”, no meu parco e limitado entendimento, é um estrangeirismo originário do francês “poubelle”, devidamente aportuguesado, usado sobretudo pelos emigrantes vindos de França; trata-se de uma gíria, para todos os efeitos, que só ouvia, mas já não oiço, na minha terra natal e era um vocábulo da linguagem oral que exprimia o conceito de lixo, ou melhor, de caixote do lixo.
A sua pertinência é proporcional à justa medida em que Portugal era tão pobre e atrasado antes do 25 de Abril (agora também o é mas numa outra dimensão) que pura e simplesmente, em paragens rurais, não se produzia lixo e levava-se ao extremo a máxima “lavoisieriana” de que tudo se aproveita e nada se desperdiça, como aliás pode ser verificado numa qualquer e não assim tão remota e afastada, aldeia angolana ainda agora.