O Governo angolano quer um preço mínimo para a venda do milho e soja, para incentivar a produção de gado no país, mas pede também o envolvimento dos criadores na dinamização na produção nacional de vacinas para os animais. Vamos então fazer o que ainda não foi feito. Isto é, neste caso, serem os criadores a fazer o que caberia ao Executivo (caso fosse sério) fazer.
A posição foi transmitida hoje pelo secretário de Estado da Agricultura e Pecuária, Carlos Alberto Jaime Pinto, durante uma visita à anual Feira do Dia do Criador de Gado e do Campo, que decorre no município da Quibala, província do Cuanza Sul, a mais de 300 quilómetros de Luanda.
Actualmente com três milhões de cabeças de gado bovino, distribuídos essencialmente por seis províncias do país, o objectivo do Governo é garantir as necessidades internas de carne e já pensar nas exportações, assumindo para tal a necessidade de apoiar os fazendeiros nacionais.
“Principalmente, o milho e a soja, que representam os principais produtos para a produção animal, serão analisados. Primeiro estabelecer um preço mínimo de referência desses produtos e depois tentar encontrar a nível do fincamento interno, do Governo, a subvenção de alguns itens, principalmente os combustíveis, a questão dos fertilizantes, que são os itens que pesam mais na cadeia de produção”, garantiu Carlos Alberto Jaime Pinto.
A decorrer na Fazenda de Santo António, no município da Quibala, esta feira é organizada pela Cooperativa de Criadores de Gado do Sul de Angola, constituída há 15 anos e que por si só representa dois milhões de cabeças de gado distribuídos pelas províncias de Benguela, Cunene e Huíla.
Aproveitando a presença dos produtores, o secretário de Estado apelou ao apoio dos fazendeiros, através de uma parceria com o Governo, na criação de estruturas de apoio em todo o país, desde logo para produzir e administrar as quatro vacinas obrigatórias.
“Vacinas que temos que produzir cá no país. Até porque se nós não tivermos uma sanidade animal aceitável a nossa carne nunca poderá ser exportada”, disse o governante, apelando à organização dos empresários neste processo.
Angola necessita de cerca de quatro milhões de doses de vacina, para suportar a campanha de imunização animal contra a peripneumonia contagiosa, dermatite nodular, o carbúnculo hemático e o sintomático, inicialmente prevista para arrancar em Maio.
Durante o evento, o administrador da fazenda Santo António, anfitriã da feira e uma das principais em Angola, com uma área de 11.000 hectares, pediu ao Governo medidas de protecção para o sector.
A posição foi assumida por Fernando Teles, que é também presidente do Conselho de Administração do banco BIC, um dos maiores financiadores de projectos agrícolas em Angola.
“Tem que haver alguma protecção da produção nacional, tem que haver medidas estatais no sentido de fazer com que a produção seja incentivada e para isso tem que haver aumento das taxas para os produtos que são importados, por forma a que nós possamos produzir a preços competitivos e possamos melhorar a qualidade e rentabilidade, diminuído os preços. Esse é o caminho”, disse.
Só aquela fazenda, que resultou de um investimento de 30 milhões de dólares (25 milhões de euros), conta com uma área de 4.500 hectares em produção, dos quais 1.500 hectares de milho de regadio que rende 30 toneladas por ano.
“Angola precisa de produção. Precisa de produção de milho e soja para fazer ração, para termos porcos, para termos aves, para fazermos o confinamento das vitelas e das vacas, para rapidamente Angola ser um país sem necessidade de importar [carne], e nós estamos a dar essa ajuda”, disse Fernando Teles.
Assumiu que actualmente os empresários angolanos do sector agrícola e pecuário “ainda perdem muito dinheiro”, face à competição da carne que vem do exterior, defendendo por isso medidas governamentais concretas para “fazer com que as importações diminuam”.
A criação de fundos, em conjunto com os bancos, para ajudar novos agricultores a entrar na actividade, é outra das necessidades que Fernando Teles identifica: “E acho que toda a banca está disponível para isso”.
Auto-suficiência em 2026
Angola prevê atingir a auto-suficiência em animais para abate, dentro de oito anos, a fim de garantir a disponibilidade de carne de produção nacional e substituir as importações deste produto e seus derivados, afirmou em Dezembro do ano passado o ministro da Agricultura e Florestas (Minagrif), Marcos Nhunga.
Para o alcance deste objectivo, o titular da pasta da Agricultura disse que o sector começou a repovoar, com gado, o Planalto de Camabatela (província do Cuanza Norte), cujo matadouro foi inaugurado a 11 de Agosto de 2017, e construíram infra-estruturas similares de menor dimensão e capacidade nas províncias de Luanda (município de Viana), Cuanza Sul (município de Porto Amboim) e Malanje (Malanje), que concorrem para o mesmo fim.
Em 2017, segundo o ministro, o país produziu mais de 2,1 milhões de quilogramas de carnes diversas, sendo 77. 958 Kg de carne bovina, 41.357 kg de carne suína, 93.711 kg de carne caprina, 24.847 de carne de ovinos e um milhão, 936 mil e 176 quilogramas de frango.
Marcos Nhunga não precisou as quantidades de carne necessárias para fazer face à demanda do país, mas a directora do Instituto dos Serviços de Veterinária (ISV), Bernardete de Lassalete Gourgel da Silva Santana, socorrendo-se do último censo da agricultura, estimou que se precisava, no mínimo, de 10 kg de carne/ano para cada cidadão, tendo em conta os dois milhões e 800 mil cabeças de gado registadas.
Entretanto, adiantou que em 2018 será realizado um novo censo, para determinar o efectivo animal do país, a fim de saberem as necessidades para a auto-suficiência de carne animal.
Em relação à produção alimentar, o ministro, que falava na cerimónia de balanço das actividades do sector, disse que a visão do sector é que nos próximos 10 anos o país alcance a auto-suficiência alimentar nos principais produtos que o país pode produzir, muitos dos quais compõem a cesta básica.
Esse objectivo será alcançado com a produção local de sementes melhoradas de alto rendimento, implantação de uma ou mais fábricas de adubos, correcção dos solos, implantação, no país, de uma ou mais linhas de montagem de tractores, unidades de produção de sistemas de irrigação, e de pelo menos duas indústrias de charruas, catanas, enxadas, limas, entre outros instrumentos e equipamentos agrícolas.
Constituem também pressupostos para se atingir os objectivos do Ministério em 2018, a redefinição do modelo de orçamentação e de financiamento para o sector, subsídio aos combustíveis, seguro agrícola e aprovação das carreiras específicas de ingresso de novos quadros.
Em relação à “Campanha Agrícola”, que a partir de 2017 passa a designar-se “Ano Agrícola”, foram trabalhados na campanha agrícola 2016/2017 cinco milhões, 760 mil e 585 hectares (ha), registando um aumento de 2,4 por cento em relação à área estimada para o período anterior.
Dessa área, o sector agrícola familiar é responsável por cerca de 90% correspondente a cinco milhões, 183 mil e 398 hectares e o sector agrícola empresarial cerca de 10% da área cultivada nacional.
Do total da área cultivada, durante a campanha agrícola 2016/2017, foram colhidas cinco milhões, 98 mil e 839 de hectares, o equivalente a 89% da área com culturas que atingiram a fase de colheita.
Nas fileiras dos cereais, umas principais, este ano foram produzidos dois milhões, 507 mil e 637 toneladas, um aumento de 5,9% em relação à campanha anterior. Quanto às raízes e tubérculos atingiu-se 10 milhões, 805 mil e 419 toneladas, correspondendo a um aumento de 2,6 porcento.
Minagrif é a nova designação do Ministério da Agricultura e Florestas, resultante da actual orgânica do novo Executivo saído das eleições de 23 de Agosto de 2017. Já foi Minader (Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural) assim como já foi Minagri (Ministério da Agricultura).
Folha 8 com Lusa