Os Estados Unidos da América estão a aumentar a pressão sobre os países africanos que têm ligações militares, diplomáticas e outras com a Coreia do Norte, para tentar limitar o financiamento internacional do programa nuclear deste país asiático. Angola é dos avisados.
De acordo com a edição de hoje do Financial Times, as autoridades norte-americanas querem que os países africanos expulsem os trabalhadores e diplomatas coreanos, alegando que as 13 embaixadas de Pyongyang no continente são, na verdade, “máquinas de fazer dinheiro”.
Washington diz que a Coreia do Norte, que está a tentar desenvolver mísseis nucleares com capacidade para atingir cidades nos Estados Unidos, está a usar a cooperação militar e negócios de armamento com Estados africanos para obter moeda estrangeira.
Os Estados Unidos acusam também vários dos milhares de norte-coreanos a viver em África, incluindo diplomatas, de tráfico de partes de animais selvagens, como cornos de rinocerontes e outras fontes fáceis de moeda estrangeira.
Pelas contas norte-americanas, Pyongyang fez pelo menos 100 milhões de dólares (cerca de 80 milhões de euros) através da venda de armas, treino militar, contratos de construção e contrabando.
O valor, disse o chefe do Centro Africano no Conselho Atlântico, em Washington, pode parecer “trocos”, mas é “bastante significativo para o regime dados os constrangimentos das suas finanças”.
De acordo com o FT, que lembra a existência de uma avenida em Maputo com o nome de Kim Il Sung, o fundador da Coreia do Norte, “vários Estados africanos, incluindo Angola, Moçambique e o Zimbabué, têm mantido ligações próximas com a Coreia do Norte desde a “guerra fria”, quando Pyongyang ofereceu apoio material e ideológico aos movimentos de libertação”.
Velhas e profícuas amizades
Recorde-se, neste contexto, que China, Angola, Egipto, Rússia e Venezuela não conseguiram no dia 9 de Dezembro de 2016 bloquear uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para discutir a crise de direitos humanos na Coreia do Norte, apesar do apoio da Rússia.
Todos estes países que, como Angola, são paradigmas das mais evoluídas democracias do mundo, votaram contra a realização da reunião, mas nove países, entre os quais o Reino Unido, França e os Estados Unidos da América, votaram a favor, no Conselho de Segurança, composto por 15 membros. O Senegal absteve-se.
Pequim fracassou várias vezes na tentativa de impedir a reunião que decorre anualmente no Conselho de Segurança desde que uma comissão de inquérito da ONU acusou Pyongyang, em 2014, de cometer atrocidades sem precedentes no mundo contemporâneo.
O embaixador chinês junto das Nações Unidas, Liu Jieyi, defendeu que o Conselho deveria centrar-se em ameaças globais à paz e à segurança, afirmando que a situação dos direitos humanos na Coreia do Norte não devia ser considerada uma tal ameaça.
“O Conselho de Segurança não é um fórum para discutir questões de direitos humanos e menos ainda para a politização de questões de direitos humanos”, argumentou.
Tal debate é “prejudicial, sem quaisquer benefícios”, acrescentou, instando os membros do Conselho a “evitarem qualquer tipo de retórica ou acção que possa provocar ou conduzir a uma escalada de tensão”.
A China, o único aliado e parceiro comercial de Pyongyang, há muito que sustenta que os esforços internacionais deveriam centrar-se vigorosamente em negociações para desnuclearizar a Coreia do Norte.
A embaixadora norte-americana, Samantha Power, ripostou dizendo que “desafia realmente a credulidade sugerir que a brutal governação praticada pelo regime norte-coreano não tem consequências na paz e segurança internacionais”.
A comissão de inquérito da ONU encontrou provas inequívocas de tortura, execuções e fome na Coreia do Norte, onde entre 80.000 e 120.000 pessoas se encontram em campos prisionais.
A Assembleia-Geral tem encorajado o Conselho de Segurança a denunciar a Coreia do Norte ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para investigação de crimes de guerra, mas a China bloqueará provavelmente uma tal medida, com o seu poder de veto que detém, enquanto membro permanente do Conselho.
A Coreia do Norte já foi alvo de seis pacotes de sanções da ONU desde que pela primeira vez testou um engenho nuclear, em 2006.
Amigos para sempre, é claro!
Recordam-se da visita que o ministro da Saúde da Coreia do Norte, Kang Ha Guk, fez no dia 15 de Dezembro de 2015 ao Hospital Américo Boavida, acompanhado pelo então seu homólogo, José Van-dúnem, com o objectivo de conhecer o funcionamento e crescimento da referida unidade sanitária?
Durante a visita, segundo o relato feito na altura pela Angop, o ministro norte-coreano e a sua delegação percorreram os principais serviços da unidade, com destaque para a serviço de medicina física e reabilitação, novo bloco operatório, triagem de Manchester – 1ª experiencia na rede publica de saúde – bem como a nova cozinha e o refeitório dos trabalhadores.
Durante o encontro, a directora do Hospital Américo Boavida, Constantina Furtado, considerou a visita como bem-vinda, realçando que este encontro permitiu fazer a avaliação do que foi feito antes e depois, adiantando que foi apresentado ao ministro norte-coreano os serviços novos do hospital, os ganhos de 2014 e de 2015, quer em termo de infra-estruturas como de medicina física e reabilitação, no contexto de resolver os problemas que afligiam os doentes.
Durante a sua estada na unidade, a directora disse que o ministro norte-coreano passou a impressão de uma grande satisfação dos trabalhos feitos e a acreditação da qualidade assistencial e a certificação que contribuem para a imagem positiva do hospital.
“Acredito que os dois ministros saíram daqui bastante satisfeitos porque viram que, apesar da crise financeira que se atravessa, há trabalhos a serem feitos em direcção ao bem-estar da saúde das populações”, reforçou a directora.
Para além da visita ao Hospital Américo Boavida, visitaram também o Hospital Esperança, onde percorreram diversas áreas, nomeadamente o laboratório de RX, sala de colheitas, área de diagnóstico, sala de parasitologia e o depósito de medicamentos.
Em Angola trabalham perto de 180 médicos norte-coreanos, que estão distribuídos pelo país, com excepção da província do Cunene.
Recorde-se que são fortes os elos e a irmandade entre os dois regimes. Quando Ri Myong San, então vice ministro do Comércio da República Popular Democrática da Coreia, ou seja, da Coreia do Norte, país dirigido pelo democrata e defensor dos direitos humanos, Kim Jong-un, visitou Angola para reforçar a cooperação bilateral, ficou claro que o MPLA está em dívida com o seu homólogo Partido dos Trabalhadores que, desde sempre, apoiou as FAPLA e contribuiu para a instauração democrática de partido único no nosso país.
Em Novembro de 2013, já o embaixador da Coreia do Norte em Angola, Kim Hyong, defendeu que a cooperação entre os dois países devia caminhar para outros domínios e não apenas no político.
O diplomata norte-coreano defendeu essa posição à saída de uma reunião com o Vice-Presidente da República, Manuel Domingos Vicente, durante a qual foi abordado o estado da cooperação entre Angola e a Coreia do Norte.
Kim Hyong manifestou o interesse do seu país em cimentar e fazer crescer a cooperação com Angola, baseada no domínio político, e estendê-las para outros sectores, como o económico.
Desde Novembro de 1975
“A relação entre os nossos países é de longa data”, disse, lembrando que o estabelecimento das relações diplomáticas entre Angola e a Coreia do Norte começou no dia da Independência Nacional, em 1975. A partir daí, disse, têm vindo a desenvolver-se. “Agora é altura de olharmos para outros domínios de cooperação”, defendeu.
A Coreia do Norte coopera com Angola nos ramos da saúde, construção civil e também na área da formação tecnológica, numa altura em que Pyongyang quer alargar a cooperação a novos campos. O diplomata disse existirem condições favoráveis para que a cooperação entre os dois países seja frutuosa noutros sectores. “Temos boas relações no domínio político mas queremos estabelecer boas relações económicas e desenvolver os níveis da cooperação já existente”, referiu.
A Coreia do Norte, recorde-se, apoia o MPLA desde a luta de libertação nacional, principalmente na formação de quadros.
Angola e a Coreia do Norte de há muito que consideraram prioritária no seu relacionamento a cooperação nos domínios da saúde, construção civil, obras públicas, agricultura, ciência e tecnologia, comércio e indústria. Isso mesmo consta do acordo assinado em Março de 2008, no âmbito da visita do presidente da Assembleia Popular Suprema da Coreia do Norte, Kim Yong Nam, a Luanda.
O acordo, assinado na altura pelos ministros das Relações Exteriores angolano e norte-coreano, João Miranda, e Pak Ui Chun, respectivamente, visou revitalizar a Comissão Mista Bilateral.
Em comunicado divulgado na altura, as partes constataram que desde a assinatura dos acordos de cooperação económica e técnica, em 1977, foram realizadas apenas três sessões da comissão bilateral.
“Os governos angolano e norte-coreano reconheceram que os projectos de investimento agro-industriais e outros de grande impacto não foram incrementados em Angola devido às dificuldades económicas que os dois países atravessaram num passado recente”, lê-se no documento.
No comunicado, as partes manifestaram satisfação pelo nível das relações de amizade e cooperação existentes entre os dois países, reafirmando a necessidade de se incrementar e diversificar a cooperação nos domínios económico, científico e técnico.
Nessa perspectiva, os dois governos consideraram ser oportuno adequar o quadro jurídico da cooperação à actual realidade sócio-económica dos dois países.
Recorde-se que, quando em Dezembro de 2011, o “querido líder” da Coreia do Norte, Kim Jong-il, morreu aos 60 anos (diz-se que de ataque cardíaco) o MPLA esteve obviamente de luto e ficou também mais pobre.
Em Luanda, o presidente Eduardo dos Santos, nunca nominalmente eleito e no poder desde 1979, passou então a saber o que agora sente na pele. Isto é, que as democracias o iam passar de bestial a besta logo que ele deixasse o poder. Se calhar hoje, mais do que ontem, Eduardo dos Santos sabe que já não há amigos como antigamente.
E ainda por cima Kim Jing-il morreu e o seu filho, Kim Jong-un, parece não ter a mesma reverência perante o nosso “escolhido de Deus”.
É bom que os angolanos (a comunidade internacional passou uma esponja no assunto) saibam que a ditadura de Pyongyang tem relações históricas com a sua congénere de Luanda.
Para além dos laços históricos, nascidos na década de 70 com o apoio militar norte-coreano às FAPLA, é certo que Angola só tem a ganhar, agora mais do que nunca, com o reforço da cooperação com Pyongyang.
Então em matéria de democracia, direitos humanos, liberdades e garantias sociais, a Coreia do Norte parece continuar a ser (tal como a Guiné Equatorial e o Zimbabué) uma lapidar referência para o regime.
Aliás, não é difícil constatar que a noção de democracia do MPLA se assemelha muito mais à vigente na Coreia do Norte do que à de qualquer outro país. E é natural. É que para além de uma longa convivência “democrática” entre ditadores, Luanda ainda tem de pagar a dívida, e os juros, da ajuda que Pyonyang deu ao MPLA. Amigos, amigos, contas à parte.
O aviso foi dado e nunca é demais ficar em alerta para qualquer eventualidade, mas também, isso parece mais como uma estratégia de ataque dos norte-americanos aos norte-coreanos. No que isso vai dar meu Deus?
Se quisermos resolver os problemas das divisas e atrair investimentos o melhor eh acatarmos o aviso e minimizar os lacos com os coreanos. A super potencia actual são os Estados Unidos assim vamos dar’lhes ouvidos para não complicarmos ainda mais a nossa situação. Os coreanos que resolvam os seus problemas com os Yankes e deixem’nos em paz.