O primeiro-ministro de Portugal, na versão fato e gravata, afirmou hoje ter atingido os “objectivos centrais” na sua visita oficial a Angola e considerou provável que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, realize uma visita a Luanda em 2019. Para se ter a certeza é só esperar pelo próximo comentário político, na SIC, do ex-líder do PSD, Marques Mendes.
António Costa falava aos jornalistas após ter visitado uma obra da empresa portuguesa Mota Engil para a construção do novo Hospital de Hematologia Pediátrica de Luanda, que foi o último ponto do programa de visita oficial de dois dias a Angola.
De acordo com o líder do executivo português e do segundo maior partido português (o primeiro é o PSD), a partir de agora, as visitas de alto nível entre as autoridades políticas de Luanda e de Lisboa “retomarão o seu ciclo normal”, com ou sem calças de ganga.
“Entre mim e o Presidente da República há a combinação de alternarmos as visitas aos diferentes países. Portanto, tendo eu vindo este ano a Angola, é muito provável que o senhor Presidente da República esteja aqui no próximo ano. E assim sucessivamente: Temos de ir mantendo a regularidade desta relação [luso-angolana] que, como se vê, é muito intensa ao nível económico, entre as diferentes administrações ou entre empresas”, declarou o primeiro-ministro António Costa.
Marcelo, Marcelo, Marcelo
O Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu em Julho o ministro das Relações Exteriores angolano, a pedido deste, e considerou que as relações bilaterais com Angola estavam “num momento muito bom”.
Sobre a audiência, Marcelo Rebelo de Sousa disse que aconteceu a pedido de Manuel Augusto, no quadro da preparação de um fórum Europa-África que envolve o Conselho da Diáspora Portuguesa, do qual é presidente honorário.
“A explicação é muito simples. O senhor ministro das Relações Exteriores de Angola vem para uma reunião no quadro de uma instituição que é patrocinada pelo Presidente da República, que é o Conselho da Diáspora, que vai organizar uma reunião preparatória de um fórum Europa-África”, justificou.
“Sendo uma iniciativa que tem a ver com a Presidência da República, pediu audiência, e eu tenho um prazer muito grande em estar com o senhor ministro”, acrescentou.
Interrogado se nesse encontro ficaria acertada a data da sua visita a Angola, respondeu: “Eu não sei. O senhor ministro pediu para falar comigo, mas não é provável. Isso é decidido entre governos”.
Embora tenham sido ditas em Agosto de 2017, é oportuno recordar as palavras de João Paulo Batalha, Presidente da Transparência e Integridade, ao Folha 8: “O corolário desta criadagem sabuja é a nota de duas linhas (envergonhada mas diligente) publicada pelo Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, congratulando João Lourenço por uma vitória que, roubo à parte, nem sequer foi ainda formalmente anunciada. A minha vergonha como cidadão português não pode hoje comparar-se ao justificado orgulho cívico do povo angolano”.
Marcelo Rebelo de Sousa, presidente (nominalmente eleito) de Portugal encontrou-se no dia 5 de Agosto de 2016, no Brasil, com o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, e com o ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, e o embaixador de Angola no Brasil, Nelson Cosme.
Como se sabe e como, aliás, já aqui foi escrito, Marcelo Rebelo de Sousa é o político português mais habilitado (a par do primeiro-ministro António Costa) para não só cimentar como também alargar as relações de bajulação e servilismo com o regime do MPLA. Marcelo sabe que – do ponto de vista oficial – Angola (ainda) é o MPLA, e que o MPLA (ainda) é Angola. Portanto…
Angola é um dos países lusófonos com a maior taxa de mortalidade infantil e materna e de gravidez na adolescência, segundo as Nações Unidas. Mas o que é que isso importa a Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Rui Rio ou Assunção Cristas?
Aliás, muitos dos angolanos (70% da população vive na miséria) que raramente sabem o que é uma refeição, poderão certamente alimentar-se com o facto de assistirem um dia destes, ao vivo e a cores, ao beija-mão de Marcelo Rebelo de Sousa ao “querido líder” (versão II).
É claro que, segundo a bitola de Marcelo Rebelo de Sousa, continua a haver bons e maus ditadores. Muammar Kadhafi passou a ser mau e Eduardo dos Santos também João Lourenço já é excelente. E que mais podem querer os bajuladores que enxameiam os areópagos políticos de Lisboa?
Ninguém perguntou a António Costa (e também ninguém o fará a Marcelo Rebelo de Sousa) o que pensa dessa farsa a que se chama democracia e Estado de Direito em Angola? Não. Basta ver que, mesmo antes de ser declarado vencedor das eleições do dia 23 de Agosto de 2017, já João Lourenço era felicitado pelo Presidente da República de Portugal.
Entretanto, convém explicar a razão pela qual António Costa passou revista à Guarda Militar que o honrou no aeroporto de Luanda usando calças de ganga.
É que, na viagem, o mestre de cerimónias do Governo português, Augusto Santos Silva, esteve a explicar a António Costa algumas coisas sobre Angola e África, nomeadamente o significado da palavra “ganga”.
Para além de ser um “tecido vulgar, geralmente azul ou amarelo”, ou um “tecido forte e resistente de fios de algodão entrançados, geralmente tingidos de azul”, também pode significar “insignificância, bagatela, mimo, afago”
Mas, como se sabe, a cultura do mestre de cerimónias é uma autêntica enciclopédica, pelo que António Costa ficou também a saber que “ganga” pode significar “instrumento de suplício, de origem chinesa, que contém um orifício para o pescoço do supliciado, sacerdote gentio do Congo, feiticeiro em Angola” e até uma “espécie de rinoceronte africano”.
No meio de tanta informação, não se sabe qual o significado que foi decisivo na escolha de António Costa. Cá para nós foi a do feiticeiro…
Lá está o Folha 8 a martelar em Portugal e nas autoridades portuguesas. Volto a referir que Portugal tem e deve de respeitar o poder constituído angolano, porque é assim que se desenvolvem as relações entre os povos. É salutar e excelente para ambos os países um relacionamento exemplar. Se o Folha 8 não concorda com as politicas do MPLA só tem que combater esse partido. Não tem o direito de, sob qualquer pretexto, introduzir Portugal nessa contenda. Portugal e os portugueses pretendem ter um bom relacionamento com o povo angolano, daí que lhes não lhe interessem os problemas políticos internos que surjam nesse país e que deverão ser resolvidos só pelos angolanos. Portugal deve estar longe das quezílias politico-partidárias que decorrem em Angola. Só assim se fomenta uma atmosfera de respeito e de igualdade.
Sr. Carlos Oliveira.
É legítimo que você só leia o que lhe interessa, mesmo quando confunde Povo angolano com o MPLA.
O MPLA certamente que lhe agradece as suas afirmações. E além de agradecer paga bem. E alguns portugueses também. Na verdade, o que é que Portugal tem a ver com o facto de Angola, apesar de ser um país rico, ter 20 milhões de pobres?
Aliás não são esses 20 milhões que sustentam parte das grandes negociatas que alguns portugueses fazem com o regime do MPLA, nem que seja – como aconteceu – a vender limpa-neves para Luanda.