Cooperação universitária
é mesmo para levar a sério?

A Universidade da Beira Interior, de Portugal, vai passar a cooperar com a Universidade Katyavala Bwila, com sede na província de Benguela, em projectos de investigação em comum, conforme protocolo de colaboração homologado pelo Governo angolano.

O protocolo de cooperação entre as duas universidades, públicas, foi assinado na Covilhã, Portugal, a 15 de Janeiro de 2018, pelos reitores de ambas as instituições, e aguardava desde então a homologação pelo Governo angolano.

Conforme documentação governamental, a implementação do protocolo foi homologada por despacho de 13 de Junho, assinado pela ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria do Rosário Sambo, que tutela aquela universidade pública angolana, fundada em 2009.

Do documento, os reitores das duas universidades assumem a convicção da “importância da colaboração entre comunidades científicas e instituições académicas, bem como da necessária internacionalização das práticas universitárias, com relevo para as afinidades e potencialidades de cooperação entre Angola e Portugal”.

As duas universidades vão assim cooperar na realização de estudos e projectos de investigação, na organização conjunta de seminários, conferências, colóquios e aulas abertas sobre temas de interesse para ambas as instituições, disponibilizando os especialistas necessários.

Está igualmente previsto a troca de informações estatísticas e de outra natureza, “provenientes de levantamentos e investigações que possam resultar num aproveitamento de sinergias” entre a Universidade da Beira Interior e a Universidade Katyavala Bwila.

Naquela universidade do centro de Angola, com polos em várias províncias, são actualmente leccionados cursos de Direito, Medicina, Economia, Gestão e Contabilidade, Psicologia, Matemática e Informática, entre outros.

É para levar a sério?

Recorde-se (não é que adiante, mas…) que em 2011, na altura das actividades relativas aos 100 anos da Universidade do Porto (UP) uma delegação angolana visitou esta Universidade. Deram-se passos importantes ao nível da cooperação. Mas muito, muito mesmo, ficou por fazer. Continua por fazer. Ao que parece, Luanda quer – por exemplo – formar (entre outros) engenheiros mecânicos em Cuba que, nesta matéria, é uma verdadeira (im)potência mundial…

Na sequência da criação de oito regiões académicas em Angola, deslocaram-se à UP alguns dos reitores dessas novas universidades, assim como técnicos ligados ao ministério que tutela o ensino superior em Angola. Foram pedir ajuda e solicitar cooperação entre a UP (de facto fizeram um périplo por Portugal e visitaram diversas universidades) e essas novas universidades.

“Naquela altura tinha algum tempo disponível e ao ver a notícia do pedido de ajuda dos meus patrícios (sou natural de Luanda) conversei com o Presidente do Departamento de Engenharia Mecânica (DEMEC) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e fomos falar com o Vice-Reitor da UP que tratava da Cooperação”, contou (em 2015) ao Folha 8 Carlos Pinho, professor da FEUP, acrescentando que “ele disse-nos que o assunto iria muito certamente ser tratado a nível central, nomeadamente do CRUP (Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas).”

Continua Carlos Pinho: “Eu disse ao Vice-Reitor da UP para a Cooperação que ele iria esperar sentado, porque daquela rapaziada do CRUP e de Lisboa não sairia nada de jeito em tempo oportuno, e pedi-lhe autorização para, como professor da FEUP e na condição de natural de Angola, tentar por minha iniciativa, responder a pelo menos duas dessas universidades. Expliquei-lhes, ao Vice-Reitor e ao Director do DEMEC, que do pondo de vista da Engenharia Mecânica interessava-nos o corredor do Lobito”.

“Mas não só à Engenharia Mecânica pois aquilo combinava tudo o que dissesse respeito à engenharia: Agronomia (Huambo e Bié), Portos (Engenharia Civil – Lobito), Benguela (CFB- Engenharias Mecânica e Electrotécnica), no futuro Engenharia Química (porque se previa a construção de uma refinaria do Lobito), etc.”, explica Carlos Pinho, acrescentando que “tive luz verde do Vice-Reitor e do Director do DEMEC e posteriormente do Director da FEUP.”

Habituado a meter mãos á obra, Carlos Pinho escreveu aos Reitores da Universidade José Eduardo dos Santos – UJES (Huambo) e Katyavala Bwila – UKB (Benguela) “a propor os nossos préstimos na elaboração dos planos de estudo dos vários cursos de engenharia que desejassem.”

Tudo corria bem: “Tive respostas positivas das duas universidades mas principalmente da UKB”.

Foram então criadas equipas na FEUP e propostos planos de estudos para vários cursos, Mecânica, Civil e Química e mais tarde Electromecânica.

Carlos Pinho conta (como o Folha 8 revelou no início de Fevereiro de 2015) que “o que interessava mais à UKB (e concretamente ao Instituto Politécnico do Lobito – IPL) de imediato, era o curso de Mecânica. Trabalhamos em conjunto e o pessoal do IPL da UKB conseguiu ter pronto no início de 2012 um plano de estudos que enviou para aprovação, para o ministério competente em Luanda.”

“As coisas correram tão bem com esta interacção entre a FEUP e a UKB (e em certa medida com a UJES) que as duas universidades convidaram uma equipa da UP a deslocar-se às duas cidades, o que aconteceu em Dezembro de 2011, quando um grupo de professores da UP passou uma semana em Angola.”

Mas…

“O problema é que o dossier que foi enviado para Luanda ficou perdido lá pelo ministério, de tal modo que já foram enviadas pelo menos mais três cópias do mesmo, a ver se a maldita aprovação acontece. Mas nada até hoje”, lamentava Carlos Pinho.

Nada porque os nossos decisores continuam, nesta como em outras matérias, a ver Cuba como um oásis que não é. Isto para além de terem de pagar velhas contas…

Folha 8 com Lusa

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