O ministro da Comunicação Social, João Melo, reiterou a necessidade de os jornalistas angolanos primarem por uma informação verdadeira, plural, equilibrada e isenta. Descobriu a pólvora ou está a tapar o Sol com uma peneira?
Por Orlando Castro
João Melo referiu que os profissionais de comunicação social não devem confundir o exercício de jornalismo com propaganda (esta é mesmo para rir) ou activismo político, ao mesmo tempo que pretende excluir a dicotomia de “imprensa pública” e “imprensa privada”.
Excluir a dicotomia entre “imprensa privada” e “imprensa pública”? Essa é boa. Se no ADN do partido de João Melo (o MPLA) está desde sempre que a “imprensa pública” é filha e a outra é enteada, ou até menos do que isso, porque razão o ministro teima em passar-nos atestados de menoridade intelectual e de matumbez?
João Melo fez estas declarações à margem da abertura da emissão experimental da Rádio Ecclésia em Malanje, onde orientou um curso regional (uma espécie de “educação patriótica”) sobre “Reportagem Jornalística”, promovido pelo seu pelouro, em parceria com o Centro de Formação de Jornalistas (CEFOJOR).
Para o governante, as responsabilidades sociais dos órgãos de comunicação social públicos e privados são as mesmas. Porém, pediu maior responsabilidade aos primeiros, “por serem os mais equilibrados, mais sérios e mais credíveis”. Mais quê? A Imprensa pública é mais “equilibrada, mais séria e mais credível”? Oh senhor ministro João Melo, deixe de brincar com coisas sérias. Se, no exercício das suas funções, não consegue contar até 12 sem se descalçar… então descalce-se.
Ao produzir e fornecer aos cidadãos uma informação correcta, completa, plural e bem-feita do ponto de vista jornalístico, os profissionais de comunicação social estarão a cumprir com o seu papel social, mencionou João Melo.
“Se todos fizermos a nossa parte, como ela deve ser feita, os cidadãos só terão a ganhar”, vincou o ministro, citado pela Emissora Católica de Angola. Todos, disse muito bem. E que tal o exemplo partir de quem tutela o sector?
5 de Agosto de 2015. João Melo escreve nesse dia, no Jornal de Notícias (Portugal), um artigo de opinião com o título “A presunção tem dois lados”. Em 2008, o jornalista (?), escritor, director de uma agência de comunicação e deputado do MPLA foi o vencedor da 16ª edição do Prémio Maboque de Jornalismo, tendo recebido 70 mil dólares.
João Melo dirigiu vários meios de comunicação angolanos, estatais e privados. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA), ocupou diversos cargos de responsabilidade nos respectivos órgãos sociais tais como secretário-geral, presidente da Comissão Directiva e presidente do Conselho Fiscal. Foi director de uma agência de comunicação e deu aulas em duas universidades privadas.
Como jornalista, ingressou na Rádio Nacional de Angola (RNA) e assumiu a direcção de diversos meios de Comunicação Social estatais, nomeadamente “Agência Angola – Press Angop”, “Jornal de Angola” e o semanário privado “Correio da Semana”.
No artigo então publicado no JN, diz que “a prisão, em Luanda, de 15 activistas acusados de prepararem uma sublevação popular de atentado ao Presidente da República está a ser usada como pretexto para reviver, sobretudo em Portugal, as velhas campanhas anti-MPLA do período da guerra civil em Angola, quando a UNITA pagava o salário de numerosos jornalistas, políticos e outras figuras portuguesas, que adoravam as visitas à Jamba”
João Melo, na velha tradição dogmática do seu partido, reedita velhas teses, segundo as regras – não menos dogmáticas – do seu “Jornal de Angola” (JA), desde sempre órgão oficial do MPLA, correia de transmissão do regime ditatorial que (des)governa Angola desde 1975.
De facto, no dia 12 de Maio de 2008, o Pravda (como é também conhecido o JA) ameaçou divulgar “as listas dos nomes dos quadrilheiros portugueses capturadas no bunker de Jonas Savimbi no Andulo”. Até hoje não o fez. E também, e mais uma vez, João Melo fala da questão mas não dá o nome aos bois. É pena.
Então, camarada e ministro João Melo, como mais vale tarde do que nunca, não será esta a melhor altura para divulgar essa lista de “jornalistas, políticos e outras figuras portuguesas”? Não será altura de pôr tudo em pratos limpos?
Continuamos à espera das listas de quadrilheiros portugueses e, já agora, também da imensa listagem dos oficiais das FAPLA e depois das FAA que trabalhavam para Savimbi, assim como dos políticos do MPLA, alguns com altos cargos no Governo e que também eram assalariados do líder da UNITA, e ainda dos jornalistas (portugueses e angolanos), hoje rendidos aos encantos do MPLA, e que também eram amamentados por Savimbi.
Certamente na linha “verdadeira, plural, equilibrada e isenta “ defendida por João Melo, e agora que tem nova Direcção, talvez o Jornal de Angola nos possa especificar quem são os “idiotas úteis” que estão ao serviço de “quadrilhas” que se serviram de “diamantes de sangue” em Angola.
Continuando os “diamantes de sangue” angolano a circular pelos areópagos da alta finança mundial, embora com outro nome, assim como o “petróleo de sangue”, seria bom que se soubesse (santa ingenuidade a nossa!) a que “quadrilhas” servem agora.
Por tudo isto, força camaradas do MPLA/regime, força João Melo. Se os tiverem no sítio (não têm, nunca tiveram e nunca terão, como é bom de ver) não devem esperar. Mandem cá para fora tudo o que têm. Tudo. Tudo. Tudo significa tudo. Percebem?