O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, reúne-se na terça-feira, em Luanda, com o Presidente da República, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo angolano, João Lourenço, encontro que acontecerá no segundo e último dia da sua visita oficial a Angola.
Com o líder do executivo português viajam também os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e da Agricultura, Capoulas Santos, e os secretários de Estado Teresa Ribeiro (Negócios Estrangeiros e Cooperação), Eurico Brilhante Dias (Internacionalização) e Ricardo Mourinho Félix (Adjunto e das Finanças).
A parte institucional e política da visita oficial do primeiro-ministro acontecerá na terça-feira – dia que António Costa inicia com uma deslocação ao Memorial Agostinho Neto (o herói nacional do MPLA e primeiro Presidente de Angola), onde deporá uma coroa de flores.
Antes ainda da reunião a sós com João Lourenço, António Costa estará presente na abertura do Fórum Empresarial Portugal/Angola, na qual vai discursar, tal como o ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social de Angola, Manuel Nunes Júnior.
Já no Palácio Presidencial, o primeiro-ministro será recebido com honras militares, tendo a aguardá-lo o chefe de Estado angolano. Em paralelo com o encontro a sós entre António Costa e João Lourenço, haverá uma reunião plenária entre os membros dos executivos dos dois países, seguindo-se a assinatura de acordos bilaterais e uma conferência de imprensa.
O primeiro dia de presença de António Costa na capital angolana, que coincidirá com um feriado (o Dia do Herói Nacional do MPLA), terá sobretudo uma componente económica, estando previsto um encontro à porta fechada com empresários portugueses que operam no mercado angolano.
Além do encontro com empresários, o primeiro-ministro terá também visitas com significado histórico, como a deslocação à Fortaleza de Luanda, onde está o recém recuperado Museu Nacional de História Militar.
O primeiro-ministro tem ainda previsto um passeio pela Baia de Luanda (não tomará um banho de mar como Marcelo Rebelo de Sousa nem fará “jogging” como o seu – agora ostracizado – mentor socialista José Sócrates) e termina o dia com um encontro com a comunidade portuguesa residente na capital angolana.
Um encontro que decorrerá no Centro Cultural Português e que ocorrerá depois de visitar a obra do hospital materno-infantil da Camama – uma obra a cargo da empresa portuguesa Casais, num projecto avaliado em 194 milhões de dólares.
Quanto ao resto siga a banda, o bordel está a funcionar em pleno e a orgia promete ser de arromba. O que preocupa os portugueses não respeita aos angolanos e que preocupa os angolanos não respeita aos portugueses.
As relações entre Estados são mesmo isso. Preocupação em aumentar os lucros dos poucos que têm milhões, roubando aos milhões que têm pouco ou… nada. Em Angola, segundo a FAO, “23,9% da população passa fome”, o que equivale a que “6,9 milhões de pessoas não tenham acesso mínimo a alimentos”. Além disso, existem 20 milhões de angolanos pobres.
Mas se nem os governos do MPLA, que estão no poder ininterruptamente desde 1975, se preocupam com isso, por que carga de chuva deveriam ser os políticos portugueses a preocupar-se?
Se Portugal subiu uma posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas, passando para 41º lugar, e mantém-se na base do grupo dos países com o índice mais elevado, não há razões para se preocupar com Angola que, por sinal, está na posição 147 (de 189).
António Costa, talvez em coro com João Lourenço, poderá até dizer: “Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor maior alto se alevanta!”. E esse outro valor tem a ver com as relações promíscuas entre os dois irmãos socialistas (PS e MPLA), onde a regra é – como se sabe – todos a monte e fé nas negociatas, na corrupção, na roubalheira, na cleptocracia, na impunidade e por aí fora.
Angola e a Guiné-Bissau estão no grupo de países com piores taxas de mortalidade infantil até aos cinco anos, segundo um relatório divulgado no final do ano passado pela UNICEF.
Na Guiné-Bissau, morreram 88 crianças por cada mil que nasceram. Em Angola, o número de crianças que morreram foi de 83, especifica o documento.
A Somália, com 133 mortes por mil nascimentos, tem o pior resultado do mundo. Seguem-se o Chade (127), a República Centro Africana (124), a Serra Leoa (114), o Mali (111), a Nigéria e República Democrática do Congo, (94), o Benim (98), o Níger e a Guiné Equatorial (91).
Outros países lusófonos africanos têm um resultado mais positivo: Moçambique regista 71 por mortes por mil crianças, enquanto em São Tomé e Príncipe são 34 e em Cabo Verde são 21.
No Brasil, registam-se 15 mortes e em Timor Leste 50. Em Portugal, o número é de quatro mortes por cada criança que nasce.
Mais uma vez, nada que tire o sono a António Costa e a João Lourenço. As crianças que morrem não são da sua família. As pessoas pobres e as que passam fome também não são. E assim sendo, nada como um jantar de gala com trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005.
E o Povo anfitrião estará solidário e comungará a amizade mútua com a sua nobre refeição de fuba podre, peixe podre, panos ruins, 50 angolares e porrada se refilarem.
Folha 8 com Lusa