Uma sociedade pobre
com alguns bem ricos

O número de Terminais de Pagamento Automático (TPA) em Angola diminuiu seis por cento de Dezembro a Janeiro, para menos de 64.000 equipamentos em todo o país, a primeira quebra registada nos dados da empresa gestora da rede interbancária.

Em apenas um mês, a informação da Empresa Interbancária de Serviços (EMIS), que gere o multicaixa angolano, a rede interbancária do país, refere a diminuição de 4.011 TPA activos. São equipamentos utilizados tradicionalmente para pagamento electrónico no comércio, restauração e outros estabelecimentos comerciais, mas também por vendedores de rua, no mercado informal.

No final de 2016 estavam activos em Angola um total de 67.946 terminais de pagamento, que realizaram, segundo a EMIS, quase um milhão de operações, equivalentes a compras no valor de 995.163 milhões de kwanzas (5,6 mil milhões de euros).

O total de TPA activos no país, fornecidos pelos próprios bancos, nunca parou de crescer (desde 2011), mas em Janeiro deste ano reduziu-se para 63.485 equipamentos, os quais realizaram 92.513 operações, representando compras no valor de 92.315 milhões de kwanzas (525 milhões de euros).

A EMIS não adianta explicações para esta redução, que pode no entanto estar relacionada com decisões dos bancos angolanos, muito dos quais em processos profundos de reestruturação, o que implicou, também no mesmo período e pela primeira vez, a diminuição do número de caixas ATM da rede multicaixa em funcionamento no país.

O número dessas caixas, que permitem levantamentos de dinheiro e pagamento de compras e serviços, entre outros, caiu em Janeiro para 2.889, menos 22 face a Dezembro.

Estas quebras verificam-se numa altura em que a EMIS está a ultimar o lançamento, a partir de Julho, do serviço de levantamento de dinheiro nas caixas ATM sem necessidade de cartão multicaixa.

A implementação deste serviço, permitindo o levantamento de dinheiro na rede multicaixa com recurso apenas a um telemóvel, surge depois da aprovação, a 22 de Fevereiro, em reunião do Conselho de Ministros, da estratégia do sistema de pagamentos móveis.

Em declarações à imprensa no final da reunião, o ministro das Telecomunicações de Angola, José Carvalho da Rocha, disse que o decreto presidencial que viabiliza o sistema de pagamentos móveis de Angola foi aprovado com o objectivo de se colocar à disposição da população (no total cerca de 26 milhões, sendo que 20 milhões vivem na pobreza) mais um sistema de pagamento assente nas redes de telemóveis.

O sistema, de acordo com informação da EMIS, consiste na selecção do envio de dinheiro de um utilizador para outro, recorrendo à rede multicaixa, em que apenas o primeiro tem de ter conta bancária, na qual será debitado o valor da transferência.

A operação obrigará à introdução do número do telemóvel do destinatário da transferência, que posteriormente receberá um código da EMIS, com o qual poderá concretizar o levantamento da quantia enviada, sem necessidade de conta bancária ou cartão multicaixa.

A EMIS, que gere toda a rede interbancária angolana, terminais ATM e de pagamento, garante que o sistema deverá estar operacional até ao início do terceiro trimestre deste ano, aguardando apenas a regulamentação por parte do Banco Nacional de Angola.

No final de 2015, as conclusões de um estudo do Observatório Angola revelavam que cerca de cinco milhões de angolanos eram – de acordo com a bitola do trabalho – considerados como pertencendo à classe média. Ou seja, auferiam mais de quatro dólares… por dia.

Do ponto de vista técnico, o trabalho envolveu a “combinação de vários contributos” que procuraram cobrir toda a sociedade e foi consubstanciado através de entrevistas a um universo de 2.058 pessoas, permitindo concluir que a classe média e a classe média emergente no nosso país, registava rendimentos acima dos quatro dólares (3,7 euros) por dia e per capita, ultrapassando os cinco milhões de habitantes, sendo que o total da população era, nesse ano, de 24 milhões de pessoas.

“A consolidação de uma classe média com poder de compra contempla um enorme mercado de consumo e representa um agente de mudança social e económico que é urgente reconhecer”, apontavam as conclusões do estudo.

O Observatório Angola é um projecto de “consumer & market research” que tem como objectivo compreender a nova sociedade de consumo angolana. Foi lançado em 2014 com o alto patrocínio do Banco Privado Atlântico e tendo como parceiros a Ipsos Apeme e a GDS Mercados.

O projecto nasceu em Angola para que as marcas possam adequar progressivamente a sua proposta de valor às dinâmicas da procura e para que se possam antecipar aos exigentes desejos e às melhores expectativas de milhões de consumidores que gostam muito de pensar e pressentir o futuro.

O estudo revelou igualmente que 92% dos inquiridos tem telemóvel, 60% possui computador e 61% tem acesso à Internet através do telemóvel. Dos inquiridos, 80% tem conta bancária, 40% utiliza o cartão multicaixa regularmente, 41% tem automóvel e 74% tem uma televisão de ecrã plano.

“Sinais mais do que evidentes da consolidação crescente de uma classe média Angolana com poder de compra”, referia ainda este estudo.

Folha 8 com Lusa

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