A roda da República

A liberdade de pensamento e expressão, nem sempre flui, de acordo com o posicionamento da bússola, principalmente se desviada por um repentino tsunami de ondas solidárias, com o novo alimento espiritual. Tsunami esse que, por regra, é mais emocional do que racional.

Por William Tonet

A essa maioria pouco importa a natureza do cardápio, por acreditarem, poder, finalmente, alimentar-se de proteínas e calorias, até então negadas, pelo ancião fazendeiro.

E, quando alguém, no pedestal da diferença democrática, optar pela cautela e prudência, corre o risco de colher mimos, por vezes exagerados, de condenação.

Humildemente, estou blindado a essa visão e respeito-a, exigindo o inverso, pois a refundação de Angola só será possível no respeito pela diferença de opiniões, visões, vontades e quereres.

Não acredito em novos paradigmas, através de paliativos, nem com sentimentos de ódio e raiva incubados, pois cegos os autores, causam mais prejuízos à estabilidade dos caboucos, que à sustentabilidade dos pilares.

O momento político actual, para uns, parece superar a descoberta da roda, ocorrida na época do neolítico, pese esta continuar um mistério, sobre o torrão inventor.

Mas, ninguém avisado, pode acreditar numa revolução idêntica à máquina a vapor, pelo intricado labirinto em que assenta a estrutura de um regime, cujos caboucos iniciais assentaram no programa e visão de um partido político, que infundiu a Constituição e leis do novo Estado, desde 1975.

Ao longo de 42 anos de independência, houve mudanças (Agostinho Neto) que nada mudaram (José Eduardo dos Santos), a perspectiva de vida dos milhões de autóctones pobres, que nasceram com fome, cresceram com fome e morreram de fome, enquanto os sobreviventes vegetam alegres, por carreiros e vielas ao receberem o “ópio partidocrata”: Álcool e Kuduro.

A ilusão óptica do MPLA assenta numa forte política de marketing e ilusionismo político, alfabetizadora de incautos segmentos populacionais de ser mais importante a tecnologia de ponta, para as fábricas de bebidas alcoólicas, que equipar laboratórios hospitalares e as bibliotecas escolares.

E, agora, na nova aurora, emerge de entre os mesmos do partido regimental, João Lourenço em estonteantes ousadias, catapultando a euforia popular, com medidas exonerativas contra o “clã Eduardista” e paliativos normativos, que estão a matar à sede, contra 38 anos de falta de Menos Pão Luz e Água.

Em sã consciência, ao ter sido eleito, pelo anterior monarca, detentor, à época, de todos os poderes: da República e do MPLA, partido no poder, o segundo inimigo a abater, nunca mais posso aplaudir a concentração excessiva de poder num homem só, por alimentar, logo depois a apetência para a ditadura. Ditadura que, ao não me conseguirem vergar, nem alistar no seu exército de bajulação, me despojou de todos os títulos académicos e profissionais (excepto a nacionalidade), visando lançar-me ao desemprego, à fome e à indigência, para, se vingasse esta nefasta e humilhante tese, ajoelhasse e fosse a rastejar, até aos pés do poderoso presidente.

Resisti, resistirei. Sei o que é sofrer com dignidade, logo, 42 anos depois, jamais aplaudirei, a bicefalia e, mesmo reconhecendo alguns feitos do Presidente João Lourenço, contra as amarras do passado, não apoio a ideia dele controlar a presidência do MPLA, sob pena de se tornar, num outro ditador…

A mais recente mudança nos Tribunais Superiores com a passagem do presidente em funções do Tribunal Supremo (Manuel Aragão, faltam-lhe três anos de mandato) para o Tribunal Constitucional, contraria a interpretação linear e substantiva do art.º 181.º da Constituição.

Ora, o controlo dos órgãos do poder do Estado, com base na militância e critérios partidocratas, não garantem a neutralidade e imparcialidade do Presidente da República, que Angola carece: PRESIDENTE DE TODOS ANGOLANOS E NÃO PRESIDENTE DOS ANGOLANOS DO MPLA.

Não vou deixar de lutar pela despartidarização do Estado, da refundação de Angola e do emergir de uma verdadeira República cidadã, onde a corrupção não seja uma instituição, mas classificada como crime contra a humanidade, imprescritível e insusceptível de amnistia. Uma República onde o Presidente seja capaz de agir e não reagir, cada despacho presidencial de nomeação deve infundir segurança e confiança aos cidadãos, de os mesmos, provocarem, igualmente, alterações no paradigma legal e não suspeição de continuação da bandalheira, roubalheira e corrupção.

O Estado angolano não pode continuar refém da roda do MPLA, que gira à volta de um clã de 250 militantes, muitos dos quais, incompetentemente alojados, como se este torrão fosse a coutada da mamã Joana.

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