Basta olhar, apenas olhar e perceber o puzzle montado. “O Presidente da República eleito, ficará de fora no controlo do dinheiro para sustentar a governação. Isto é ponto assente. Por um lado, estará afastado do dinheiro e por outra a espada de Démocles apontada à garganta, caso o novo inquilino não seja submisso. O cerco está montado e cabe ao novo inquilino da Cidade Alta obedecer as regras de jogo estabelecidas.
Por Fernando Farrapos
Dúvidas, estas já não existem, militante de verdade, sensato, atento, gente séria, intelectuais e até mesmo simples zungueiras, sabem que teremos um Presidente da República (PR) “Mário Anete”, melhor, marionete, assim mesmo em letras garrafais, marionete, vulgo comandado, sem liberdade de fazer o que quer sobre a governação.
Sem dinheiro ninguém governa, ninguém dirige por muito boas que sejam as intenções por detrás da sua iniciativa, da sua criatividade e do colectivo que o rodeia. Como exemplos muito simples, na economia familiar, os parcos salários a que somos submetidos, leva-nos a condição de indigentes e somos obrigados a abrir a cada mês mais um buraco nos nossos cintos, pois perdemos cada vez mais o poder de compra.
Com a encenação de um relatório estratosférico e místico da Sonangol, soa a aviso ao novo inquilino, equipa que ganha não se mexe e esta equipa será de dupla subordinação com maior pendor para as orientações do pai Arauto.
No fundo soberano, nem pensar, ver ouvir e calar será o lema para o novo PR, o inverso piscará a lâmpada amarela e subsequentemente a vermelha com reprimenda ou bloqueio. Aquilo é uma caixinha de brinquedos para o filho fazer e desfazer o que bem entender, a seu gosto e passar a informação ao seu pai apenas.
Nos diamantes, nem que a porca suplique, Sumbula é uma peça intocável e insubstituível, peão da Rainha Isabel e do pai, representa os interesses da família, sobretudo quando os achados são de grande quilate, o seu rumo é a Grisogno. O Kimberlito do Luaxi será a nova “reentré” para a aposta da família e só o Sumbula pode tramar a jogada, razão pela qual vai ao terceiro mandato.
Por junto e por atado, o controlo das grandes receitas do estado proveniente da sonangol, como o motor da economia, o fundo soberano e as receitas dos diamantes, estarão sob controlo do pai Arauto que com sua orientação e influência os disponibilizará conforme seu critério e julgamento. Ao novo PR caberá apenas aguardar e implorar pelas receitas do estado provenientes deste trio de entidades públicas do Estado.
Fazendo uma analogia simplista, quais as outras empresas acima destas que contribuem para as receitas gordas do Estado? Nenhuma. Ao que se sabe, as grandes empresas privadas, as dos generais, comissários de polícias, a dos testas de ferro do PR, dos familiares, amigos e magistrados judiciais, não contribuem para a Administração Geral Tributária (AGT) e se o fazem, são elas a taxarem o que acham conveniente oferecer ao estado, sem pressão, sem datas, sem avisos prévios etc., aliás nenhum funcionário da AGT se atreve a fazê-lo sob risco de perder o pão, ninguém quer prescindir do pão das crianças. Para os funcionários da AGT o melhor é prostrar-se para sobreviver.
Assim, nenhum PR eleito estará em condições de financiar a sua governação ou dar o show ao seu antecessor, demonstrando-lhe como se Governa com lisura, transparência, inclusão, valorização e preservação dos direitos humanos, eliminar as assimetrias regionais e aumentar o crescimento e desenvolvimento para a melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país e tornar este país, um belo lugar para se viver.
Como combater a corrupção em Angola se os comandos das forças castrenses (Defesa e Segurança) estarão sob tutela do pai Arauto? Os comandos destas mesmas forças, vão gozar da clientela pela sua nomeação e confiança e vão de certeza executar qualquer orientação sombria proveniente do pai Arauto, caso seus interesses estejam em causa, mormente se forem mexidos os seus peões no trio económico e financeiro das grandes empresas públicas. A reacção será imediata e fulminante.
De ideias brilhantes estamos cansados, depois de 38 anos de governação, só agora caiu a ficha do iluminismo de que os mandos das forças de defesa e segurança devem cumprir seus mandatos sem incómodo do titular do poder executivo? Pois, estes mandos na verdade, são a espada de Démocles para a coerção psicológica e moral ao novo e futuro PR, qualquer passo em falso, cairá nas garras destas mesmas forças que na sombra continuarão a receber orientações patronais do pai Arauto.
Para se sair da cabala desenhada e preparada para a sucessão, o futuro PR, terá três direcções a observar:
1- Revogar a lei que fixa os mandatos das forças de defesa e segurança e pautar-se apenas pela lei Magna e rever uma nova lei ordinária que não o amarre, prenda ou fragilize a sua condição de Comandante em Chefe das Forças Armadas angolanas;
2- Substituir as lideranças actuais da Sonangol, da Endiama, do Fundo Soberano de Angola e de Empresas e Institutos estratégicos;
3- Abster-se de Governar com personalidades/individualidades impostas, o que nunca aconteceu com o seu antecessor. Evitar que os indivíduos que já tiveram mais de 2 mandatos como Ministros, Presidentes dos Conselhos de Administração das Empresas públicas, deputados, governadores provinciais, magistrados etc. voltem ao Governo, pois ninguém nasce ministro ou dirigente. Quem foi bom dirigente também pode ser bom gestor das suas empresas, bom assessor, bom consultor, conselheiro. Aliás, as escolas onde eles se formaram nunca fecharam.
No cenário económico e financeiro actual, nenhum presidente eleito dará o show de uma excelente governação, superando os níveis desastrosos do seu antecessor que levou as famílias angolanas ao descalabro e indigência extrema, mesmo com o petróleo a atingir a fasquia de $140 dólares por barril ao longo de 12 anos consecutivos (2002/2014).
Demonstração de boa governação, transparência, o saber ser e fazer, distribuição relativamente equitativa, bem-estar social e económico para todos no campo e na cidade, só depois da morte de JES. Enquanto vivo não se permitirá que isso aconteça, razão pela qual a chave do dinheiro está sob sua alçada e reforçada com a coerção das forças de defesa e segurança, caso algum intruso queira passar a barreira da sua visão.
O pano caiu, a cabala e a cama estão feitas, as eleições deram para a mesma direcção, uma eleição para inglês ver. A participação cancerígena dos “hackers” estrangeiros sempre vai permitir que o leme não mude de direcção, apenas adicionando e subtraindo mais um deputado aqui e acolá. Mas não baixamos a guarda, quem tem orgulho de si mesmo e do seu povo, não ficará impávido e nós estamos aqui para ver como vai acontecer o possível divórcio, sereno ou sangrento.
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