Mais de 10,5 milhões de euros desapareceram dos cofres públicos da Gâmbia na sequência da partida do ex-Presidente Yahya Jammeh para o exílio, após 22 anos no poder, indicou à BBC um assessor do novo Presidente, Adama Barrow.
Mai Ahmad Fatty acrescentou que peritos em finanças estão ainda a tentar avaliar a quantia exacta em falta.
Por outro lado, carros de luxo e outros objectos foram, alegadamente, levados para bordo de um avião de carga chadiano quando Jammeh abandonou o país.
Jammeh, que aceitou ir para o exílio após 22 anos no poder, não comentou ainda as acusações que foram feitas pela equipa do actual Presidente gambiano.
Yahya Jammeh chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1994 e foi acusado de graves violações dos direitos humanos, entre as quais detenções arbitrárias, tortura e assassínio de opositores no pequeno país de 1,9 milhões de habitantes.
Inicialmente, aceitou a derrota no escrutínio de 1 de Dezembro e felicitou publicamente o vencedor, Adama Barrow, candidato da oposição coligada, mas depois mudou de ideias, ordenando ao exército que invadisse a sede da comissão eleitoral e contestando os resultados eleitorais junto do Supremo Tribunal.
Na semana passada, Jammeh decretou o estado de emergência na Gâmbia, numa tentativa de inviabilizar a tomada de posse de Barrow, que acabou por acontecer, mas na embaixada gambiana em Dacar. Após uma ameaça de intervenção militar da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), especialmente do Senegal e da Nigéria, Yahya Jammeh acabou por renunciar ao poder, no sábado.
Mai Ahmad Fatty afirmou ainda à BBC que as contas públicas da Gâmbia estão em muito mau estado.
“Os cofres estão virtualmente vazios. (…) Isto já foi confirmado pelos técnicos do Ministério das Finanças e do Banco Central da Gâmbia”, realçou.
Nas duas últimas semanas, disse Fatty, Jammeh levou quase 500 milhões de dalasis (10,555 milhões de euros).
“Isso é muito dinheiro, tendo em conta que nós pagamos cerca de 200 milhões de dalasis em gastos relacionados com os salários dos funcionários públicos”, disse Fatty.
O mesmo assessor acrescentou que os responsáveis do principal aeroporto da Gâmbia receberam ordens para não deixar sair do país quaisquer objectos do Presidente Jammeh.
Ainda assim, dois Rolls-Royces e um Bentley (todos carros de luxo) foram levados de avião durante o fim-de-semana, e 10 outras viaturas estão no aeroporto à espera de sair, reportou o correspondente da BBC na Gâmbia, Umaru Fofana.
O ex-Presidente gambiano estará exilado na Guiné Equatorial. A BBC deu conta que alguns dos bens de Jammeh estariam na Guiné-Conacri, onde o ex-Presidente terá parado a meio da viagem.
As autoridades da Guiné Equatorial não confirmaram ainda que Jammeh vai estar em exílio no país.
A Guiné Equatorial não reconhece o Tribunal Penal Internacional (TPI) e é governado por Teodoro Obiang Nguema desde 1979, considerado um líder autoritário, à semelhança de Jammeh.
O ex-Presidente gambiano é suspeito de deter posições negociais importantes na Guiné Equatorial, um país rico em petróleo e gás natural.
A Guiné Equatorial integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).