Dissidente norte-coreano diz que regime de Pyongyang, bússola basilar para o conceito democrático “made in MPLA”, tem os dias contados. Que chatice, dizem os arautos do regime angolano. Acreditam, aliás, que com uma ajudinha de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, Kim Jong-un continuará no poder mais uns 50 anos.
Thae Yong-ho, antigo diplomata foi em tempos um entusiasta do líder Kim Jong-un. Agora, considera que a estrutura do regime está a ruir.
De Londres, onde foi representante diplomático da Coreia do Norte, para Seul, na Coreia do Sul, onde se assumiu como dissidente do regime de Kim Jong-un, Thae Yong-ho apresenta um prognóstico muito reservado da liderança norte-coreana. Como conta o jornal The New York Times, Thae Yong-ho diz que o sistema está a ruir, que os dias do regime estão contados e que o descontentamento compromete a tentativa de controlar informação sobre o poder no exterior.
Thae Yong-ho, uma espécie – grosso modo – de Luvualu de Carvalho do regime angolano, foi em tempos um entusiasta da família Kim e serviu como embaixador no Reino Unido, na Dinamarca e na Suécia. Hoje diz ter “a certeza que haverá mais dissidências entre colegas” seus. “A Coreia do Norte já entrou numa curva descendente”, disse numa conferência de imprensa em Seul. “As estruturas tradicionais do regime estão a ruir.”
Tal como nos habituámos nos últimos tempos a ouvir do embaixador itinerante Luvualu de Carvalho, Thae Yong-ho era conhecido pelos seus discursos entusiastas da família Kim, detentora do poder na Coreia do Norte nos últimos 70 anos. Aos jornalistas em Seul, confessou que tinha grandes expectativas relativamente a Kim Jong-un, que sucedeu a Kim Jong-il quando o pai morreu em 2011.
Porém, em vez de modernizar e capacitar o país empobrecido por décadas de ditadura, como era esperado pela elite do país, o novo líder prolongou o “reinado de terror” executando vários oficiais que podiam vir a comprometer a liderança – incluindo o próprio tio, Jang Song-thaek.
Sem revelar pormenores, o ex-diplomata explica que previu cada etapa do plano de deserção com muito cuidado, já que os diplomatas norte-coreanos são normalmente obrigados a deixar um dos filhos no Norte como medida para evitar a deserção. Antes de assumir a dissidência a partir da Coreia do Sul, Thae Yong-ho garantiu que os filhos e a mulher estavam com ele em Londres. Só depois fugiu, escreve ainda o jornal The New York Times.
Hoje pertence ao Instituto Nacional de Estratégia de Segurança, ligado aos serviços secretos da Coreia do Sul e promete passar o resto da sua vida a tentar derrubar o Governo norte-coreano.
O Produto Interno Bruto per capita é de cerca de 1800 dólares, um dos mais baixos do mundo, de acordo com o CIA World Factbook, que se baseia em projecções a partir de um estudo da OCDE de 1999. Os cálculos da ONU atiram a riqueza dos cidadãos para um valor ainda mais baixo, de 506 dólares, o que faria dos norte-coreanos uns dos cidadãos mais pobres do planeta, apenas ultrapassados pelos somalis.
Em termos práticos, isto significa que grande parte da população não tem sequer o mínimo suficiente para ter uma alimentação razoável. A dieta média dos norte-coreanos é 30% menor do que as 2100 calorias diárias recomendadas pelo Programa Alimentar Mundial da ONU.
Nos anos 1990, o colapso da União Soviético, associado a más colheitas e a uma gestão altamente centralizada da economia, que impedia a canalização eficiente dos recursos, provocaram uma tempestade perfeita. Entre 1994 e 1998, o país passou por uma grave crise alimentar, que terá causado a morte a milhões de pessoas.
A esmagadora maioria dos norte-coreanos consegue subsistir graças a uma economia paralela florescente. Cerca de dois terços da população activa não tem acesso ao sistema estatal de distribuição de bens – através do qual são distribuídos os produtos básicos à população, de acordo com o seu estatuto hierárquico na sociedade. Esse sistema, que funcionou até aos anos 1990, permitia, por exemplo, que, por uma pequena parte do salário, um funcionário de escalão médio recebesse 20 kg de arroz branco, quatro de porco e cinco de peixe todos os meses, explica o especialista da Universidade Kookmin de Seul, Andrei Lankov.
Privados deste sistema, a maioria dos norte-coreanos tentou adaptar-se. “Podem estar empregados em oficinas ilegais, onde produzem sapatos e roupas. Podem gerir as suas próprias bancas de comida ou lojas de reparações. Para estas pessoas, os salários oficiais são largamente ou totalmente irrelevantes”, escreve Lankov no site NK Daily News.