O cabeça-de-lista do MPLA, João Lourenço, às eleições gerais angolanas pediu hoje o foco para a identificação da bandeira do partido no boletim de voto, nos dias que antecedem o escrutínio, como forma segura de garantir a vitória. Não seria melhor dizer aos eleitores que estejam descansados que, no caso de dúvida, alguém preencherá o boletim de voto com o X no MPLA?
João Lourenço deslocou-se à província do Bié para um acto político, no âmbito da campanha para as eleições gerais de 23 de Agosto e, perante milhares de pessoas (são sempre milhares e milhares), o candidato do MPLA lembrou que chegou o mês de Agosto e o pleito eleitoral é já uma questão de dias. Lembrança oportuna, está bom de ver.
Segundo o também vice-presidente do MPLA, ainda há tempo para se realizar o que ainda não foi feito ou dar-se continuidade ao que já começou a ser feito, nomeadamente a educação para o voto.
“Esses 21 dias não façamos outra coisa senão ensinar os nossos cidadãos a votar bem, no quatro [posição no boletim de voto], no MPLA, na bandeira do MPLA”, disse João Lourenço, acrescentando que a maneira mais simples é com a identificação da bandeira. Cá para nós a maneira mais fácil, como aconteceu noutras eleições, é deixar essa tarefa a cargo dos funcionários do partido. Eles não se enganarão. E se, como no passado, aparecerem mais votos do que votantes inscritos… a farra continua.
“A nossa bandeira é bastante conhecida, ninguém pode dizer que não conhece a nossa bandeira, num desses comícios, a brincar, eu dizia que a nossa bandeira é mais conhecida que a Coca-Cola”, disse, numa alusão à bandeira nacional angolana que é uma réplica da bandeira do MPLA.
“Portanto, é a bandeira, os educadores para o voto devem agarrar-se à bandeira, o candidato, por muito que seja conhecido, não pode ser mais conhecido que a bandeira do MPLA, isso é impossível”, admitiu, reforçando que com a localização da bandeira, o MPLA tem “a vitória assegurada”. Tem, sim senhor. Aliás, é para isso que trabalha (isto é como quem diz) há 42 anos.
No seu discurso de quase uma hora, o candidato do MPLA referiu-se igualmente ao passado histórico da província do Bié, fortemente atingida no período de guerra civil, considerando que a mesma “deveria passar para a história como a cidade do perdão”. Perdão que o regime de João Lourenço confunde com submissão.
Para João Lourenço, a província do Bié e a sua capital, Cuito, são a “cidade do perdão, da tolerância”, por terem sabido “perdoar, serem tolerantes ao ponto de terem contribuído bastante para que a reconciliação nacional entre os angolanos vingasse”.
Reconciliação? Essa só contaram para João Lourenço que, como ministro da Defesa, deu o exemplo deque o mais importante para o regime é a razão da força e não a força da razão. Reconciliação pela força é como acontecia durante o colonialismo português, em que os chefes do posto apresentavam à sociedade os “voluntários devidamente amarrados”.
João Lourenço pediu o voto do povo do Bié, para acabar com a fome, pobreza e a miséria, que ainda grassa por algumas regiões do país, reactivando a agricultura e a indústria, promovendo milhares de empregos para a juventude. Isto é, o MPLA promete fazer agora o que o MPLA não fez durante 42 anos.
Sem citar nomes, deixando a identificação para os militantes, o cabeça-de-lista do MPLA recordou que o país já teve num passado recente um potencial de indústrias, no entanto, destruídas em tempo de guerra. Guerra em que, como todos sabemos, só as balas, as bombas, as minas da UNITA matavam o Povo. As do MPLA, inteligentes, paravam e perguntavam: és Povo? Se era… elas desviavam.
“Vamos repor as indústrias, não só para que voltemos a produzir os bens industriais, mas sobretudo para resolvermos um problema, que é o emprego. Aqueles que destruíram a indústria e, consequentemente, destruíram os postos de trabalho que a indústria oferecia são os mesmos que hoje vêm dizer que a juventude não tem emprego”, acusou.
Ora aí está. A culpa só pode ser daqueles que destruíram tudo e mataram quase todos. A UNITA, é claro. Aliás, um dia destes ainda se provará que os massacres do 27 de Maio de 1977 foram levados a cabo pela UNITA sob comando de Jonas Savimbi. Mas atrasado está o dossier em que o MPLA trabalha para provar que Savimbi também foi responsável pelo holocausto nazi.
“Hoje com maior descaramento vêm dizer que a juventude não tem emprego. Vamos criar milhares de postos de trabalho para a nossa juventude. Os que destruíram os postos de trabalho vão ser penalizados e duramente penalizados (…) vamos castigá-los no voto, é a melhor forma de os castigar”, frisou o candidato que, pelos vistos, nada tem a ver com o passado do MPLA pois, asseguram-nos fontes do regime, só ontem (ou terá sido hoje?) chegou a Angola.
Folha 8 com Lusa
Com toda razão que é muito mais fácil identificar pela bandeira, é assim que os militantes devem mostrar aos eleitores.