Angola pretende levar à 5ª cimeira da União Africana e União Europeia a realizar-se de 29 a 30 deste mês, em Abidjan, a sua experiência sobre políticas e programas ligados à juventude e ao desenvolvimento do país. Em termos práticos há, como no resto dos “escalões” etários, duas juventudes. A do MPLA e a outra.
Veja-se que o Dia 14 de Abril é o Dia da Juventude do MPLA a que o regime chame de Angolana. E porquê? Porque foi nesse dia, em 1968, que morreu em combate José Mendes de Carvalho, mais conhecido por Hoji-ya-Henda, comandante das FAPLA.
Angola estará representada na cimeira pelo Presidente João Lourenço, segundo afirmou o director para Europa do Ministério das Relações Exteriores de Angola, Francisco da Cruz.
Francisco da Cruz realçou que a participação de Angola vai ser “muito activa”, não só no quadro da União Africana, como membro daquela organização, mas também com uma série de encontros e contactos bilaterais, com as várias entidades presentes.
“É uma cimeira muito centrada nas questões da juventude, emprego e desenvolvimento. Angola vai partilhar a sua experiência no que concerne à políticas e programas ligados à juventude e ao desenvolvimento do país”, explicou Francisco da Cruz.
A cimeira vai decorrer em Abidjan, Costa do Marfim, dez anos após a adopção da Estratégia Conjunta das duas organizações.
Durante o encontro, os líderes e governantes dos dois continentes terão a oportunidade de debater as relações entre UA-UE, sendo o centro dos debates o investimento na juventude, ao qual se juntam ainda temas como a paz e segurança, governação, democracia, direitos humanos, migração e mobilidade, investimento, comércio, desenvolvimento de competências e criação de empregos.
Juventude angolana ou da JMPLA?
A JMPLA enquanto mero instrumento do partido está, e tem razões para isso, preocupada com o comportamento que os jovens angolanos apresentam nos últimos tempos. Isto porque, ao contrário do que era habitual, a juventude começa a pensar pela própria cabeça, recusando a regra de ouro do regime que sempre visou formatá-la e domesticá-la.
Há uns anos, Tomás Bica, primeiro secretário da JMPLA na capital, disse que a organização juvenil do MPLA, partido que só está no poder desde 1975, pretendia levar a cabo uma série de debates, presume-se que – como é hábito – enquadrados na necessidade ancestral e atávica de reeducar a população.
“A estabilidade familiar é a estabilidade que se pretende, porque as famílias constituem a primeira e a mais antiga instituição de toda sociedade, razão pela qual famílias estáveis significam Estados estáveis, de tal ordem que pedimos à sociedade que o país seja estável, mas é preciso que, primeiramente, as famílias estejam estáveis”, disse Tomás Bica numa tirada filosófica que, só por si, é paradigma do estado actual de alguns dos jovens… do MPLA.
Por sua vez a directora do Gabinete de Cidadania e Sociedade Civil do MPLA, Fátima Viegas, entendia que “um dos remédios está na educação e outro está no papel que a família, enquanto esfera socializadora, deve fazer, porque estes jovens saíram de uma família. Se desta família eles não receberem, eles também não podem dar”.
Certo é que, reiteradamente, a JMPLA necessita de mostrar serviço no âmbito da formação político-patriótica, de modo a inculcar na sociedade que sem o MPLA seria o desastre total.
Os meninos do regime ainda não atingiram a fase de pensarem livremente. Quando lá chegarem, se chegarem, só não vão zarpar da JMPLA porque ainda não se sabe se, como no passado recente, as balas e os jacarés estão prontos para satisfazer os ávidos apetites sanguinários dos que matam primeiro e perguntam depois. Quer os jovens autómatos do regime queiram ou não, nem todos os jovens concordam que o dia 14 de Abril, que consagra o dia da juventude do MPLA, em memória de Hoji Ya Henda, o patrono da JMPLA, seja igualmente considerado o Dia da Juventude angolana.
Será, com certeza, difícil ou até mesmo inexequível encontrar uma data que gere unanimidade. Em democracia o melhor que se consegue, quando se consegue, é um consenso. Encontrar, ou até mesmo criar de raiz, um dia que esteja equidistante das datas assinaladas pelos diferentes partidos seria, cremos, a melhor solução para homenagear todos os jovens angolanos que, de facto, merecem ter um dia que assinale o seu contributo em prol do país.
Desde a independência que Angola tem comemorado – com um enorme abuso de poder e unicidade só aceitável nos países de partido único – o 14 de Abril como o Dia da Juventude Angolana. Com a suposta, vacilante e talvez morta à nascença, abertura protagonizada por João Lourenço, urge que se pense e actue com a abertura de espírito necessária para implantar um sistema político que albergue a diversidade de opiniões como uma mais-valia de incalculável valor patriótico.
Não é sério, muito menos legítimo e democrático, que se continue a subjugar toda a juventude, bem como todo o resto da população, às teses do partido reinante. De facto, a comemoração com toda a pompa e mordomias inerentes do 14 de Abril era (e poderá continuar a ser) aceitável como marco interno do MPLA e não como algo que possa representar toda a juventude de um país que, também nesta matéria, pretende respeitar e enquadrar-se nas regras de um Estado de Direito, passada que tende a ser a fase em que Angola é o MPLA e o MPLA é Angola.
Embora nem todos tenham consciência disso, o país é hoje outro, amanhã será ainda um outro, pelo que não pode haver receitas unilaterais feitas à medida, e por medida, de um regime que só conhece a razão da força.
Importa que o regime compreenda, embora a isso seja alérgico, que em democracia quem mais ordena é o Povo. E esse Povo não pode estar sujeito a regras que mais não são do que perpetuar o culto sabujo e bajulador a valores e pessoas que em vez de o servirem se servem dele.
De facto, os governo não têm tido vontade, embora tenham os meios, para resolver problemas do Povo, sejam eles da fome, da miséria, da água, da luz, do lixo, da saúde ou da educação da população em geral. No que tange à juventude, esta não tem casa, não tem educação (embora seja educada), não tem emprego e não tem futuro.
Por tudo isto, e não só, a juventude quer mais do que nunca ser ouvida e ter, para além de uma voz gritante e activa, possibilidade de dizer de sua justiça, de participar na vida do seu país. O regime ao obrigar os jovens a aceitar como única a lei do mais forte está a atirar a juventude para as margens da sociedade. E, muitas vezes, demasiadas vezes, quando se está na margem escorrega-se para a marginalidade como antecâmara da violência, da criminalidade ou até da guerra.
Ao contrário do que eventualmente podem pensar os dirigentes do regime, a juventude está atenta a tudo isto e é sobretudo isto que a preocupa. Nós temos jovens que, como nos ensinou Nelson Mandela, são heróis não porque não sintam medo, mas porque o vencem.