A Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) reivindicou hoje a morte de dois operacionais do Exército angolano, em confrontos com as Forças Armadas de Cabinda (FAC), afirmando ainda ter apreendido armas e munições.
Num “comunicado de Guerra» da FLEC/FAC enviado ao Folha 8, assinado por “Ngoma” – Chefe Operacional da FLEC/FAC – refere-se que o ataque a um grupo de “dezenas de militares” das Forças Armadas Angolanas (FAA) aconteceu na segunda-feira pelas 15:40, na área de Chibango, região de Massabi, junto à fronteira com a República do Congo.
Os confrontos, de que resultaram a morte de dois soldados – identificados pela FLEC/FAC no comunicado -, aconteceram quando os militares das FAA “procediam à construção de um muro ao longo da fronteira entre o enclave de Cabinda e a República do Congo”.
A FLEC/FAC, que reclama a independência do enclave de Cabinda, afirma ter recolhido os corpos dos dois soldados das FAA e que “recuperou quatro fuzis de assalto AK-47 e muitas munições”.
A operação, refere-se, resultou ainda em ferimentos noutros quatro militares, assim como num combatente daquela força de guerrilha.
O Governo angolano tem vindo a negar, por várias vezes, a ocorrência de conflitos armados no enclave de Cabinda. Contrariando esta tese do regime, em Cabinda, o comandante do aeródromo de manobras da Força Aérea Nacional, tenente-coronel António Victorino, apelou recentemente aos efectivos para manterem a “prontidão combativa com vista a enfrentar os próximos desafios”.
O oficial da FAN falava no acto comemorativo dos 41 anos da criação da Força Aérea Nacional, e sublinhou “ser necessário reflectir o futuro com vista ao cumprimento da missão e na defesa e protecção do espaço aéreo nacional e em particular da Região Militar de Cabinda”.
O último caso de confrontos mortais entre os guerrilheiros e militares das FAA foi divulgado pela FLEC/FAC a 8 de Dezembro passado, que na altura reivindicou a autoria da morte de seis militares do exército angolano.
Na mesma ocasião, a FLEC/FAC afirmou que o Governo angolano deixou “perfeitamente clara a sua intenção de prosseguir as operações militares” em Cabinda e de “recusar conversações”, pelo que pretende “intensificar as actividades da guerrilha contra o regime angolano e seus aliados” naquele território.
Além disso, referia-se que como as autoridades angolanas “não reconhecem a existência de instabilidade e de combates com a FLEC/FAC”, devem “ser responsáveis pela segurança dos estrangeiros”.
No `offshore` e `onshore` de Cabinda garante-se a maior da produção angolana de petróleo, país que por sua vez é actualmente o maior produtor de África, com mais de 1,7 milhões de barris de crude. Isso não impede que Cabinda seja das regiões mais ostracizadas pelo régie do MPLA.
Antes, a 28 de Novembro, a FLEC/FAC tinha reivindicado a autoria da morte de outros nove operacionais das FAA, em dois ataques em Cabinda. A 19 de Setembro, a organização anunciou a morte de mais 18 militares angolanos.
O ministro do Interior de Angola afirmou em Outubro que a situação em Cabinda era estável, negando as informações das FAC, que só entre Agosto e Setembro tinham reivindicado a morte de mais de 50 militares angolanos em ataques naquele enclave.
“Em Cabinda, o clima de segurança é estável, é uma província normal, apesar de algumas especulações e notícias infundadas sobre pseudo-acções militares que se têm realizado”, afirmou o ministro Ângelo da Veiga Tavares.
Aquela organização separatista afirma que “a guerra existe em Cabinda e que os confrontos vão continuar” até que o Governo angolano “se comprometa» em negociar com “uma solução pacífica e uma paz duradoura”.
O chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas também desmentiu em Agosto, em Luanda, a ocorrência dos sucessivos ataques reivindicados pela FLEC/FAC, com dezenas de mortos entre os soldados angolanos na província de Cabinda.
Geraldo Sachipengo Nunda disse então que a situação em Cabinda é de completa tranquilidade, negando qualquer acção da FLEC/FAC, afirmando que aqueles guerrilheiros “estão a sonhar”.
A FLEC luta pela independência de Cabinda, alegando que o enclave era (e ainda é à luz do Direito Internacional) um protectorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte do território angolano.
Criada em 1963, a organização independentista dividiu-se em diferentes facções, efémeras, com a FLEC/FAC a manter-se como o único movimento de resistência armada contra a administração de Luanda.