A Empresa Nacional de Diamantes de Angola (Endiama) facturou em 2016 menos 130 milhões de dólares, apesar de a produção anual nacional ter aumentado para nove milhões de quilates, mas que este ano deverá voltar a descer.
A informação foi transmitida, em Luanda, pelo presidente do Conselho de Administração da Endiama, Carlos Sumbula, durante as comemorações dos 36 anos da concessionária estatal, que se assinalam hoje, tendo adiantando que Angola “vai procurar produzir menos” em 2017, para “estimular o preço do diamante”.
“Quando nós tínhamos a meta de oito milhões de quilates por ano, arrecadávamos uns 1.200 milhões de dólares, agora, com a meta de nove milhões de quilates, arrecadamos apenas um 1.079 milhões de dólares. Perdemos cerca de 130 milhões de dólares à cabeça, mas ainda perdemos mais, perdemos também um milhão de quilates”, afirmou Carlos Sumbula.
Nesta altura decorrem estudos de viabilidade técnico-económica sobre a exploração do kimberlito do Luaxe, na província da Lunda Sul, que permitirá duplicar a produção angolana, que depende de uma “negociação entre os produtores”.
Carlos Sumbula deu a conhecer ainda que este ano a Endiama vai arrancar com a exploração de mais uma mina de diamantes.
“É uma pequena mina que nós chamamos CAT 42, uma pequena mina perto do Catoca, uma reserva pequena, mas efectivamente o nosso grande sonho é o Luaxe”, apontou.
A Endiama ultrapassou em 2016 a meta, fixada pelo Governo, de nove milhões de quilates, em mais 21 mil quilates, apesar da quebra da cotação.
“Este acto de ultrapassar a meta que nos foi fixada demonstra a performance dos trabalhadores da Endiama e isso nos orgulha e também o facto de termos descoberto o kimberlito Luaxe”, sublinhou.
A diamantífera angolana, Endiama, foi fundada a 15 de Janeiro de 1981.
A mina de Luaxe será “o maior kimberlito” descoberto no país e poderá duplicar a produção nacional a partir 2018.
Juntamente com os restantes parceiros do contrato de investimento mineiro do Luaxe, a Endiama e os russos da Alrosa prevêem investir mil milhões de dólares naquela concessão, que poderá garantir uma produção anual de cerca de dez milhões de quilates.
A mina de Luaxe deverá representar reservas à volta de 350 milhões de quilates e conta com uma previsão de exploração de mais de 30 anos.
Cooperativas de garimpeiros
Carlos Sumbula diz que a criação de cooperativas artesanais diamantíferas no leste do país reduziu “drasticamente” a entrada de estrangeiros ilegais, para o garimpo.
“As cooperativas estão efectivamente a fazer com que os estrangeiros não tenham espaço no nosso território, está a reduzir drasticamente a entrada de estrangeiros no nosso país. Achamos que deveríamos meter em prática as orientações do executivo, no sentido de fazer com que aquelas áreas que de alguma forma funcionavam como chamariz dos estrangeiros deviam ser outorgadas aos angolanos, sob forma de cooperativa. E isso está a dar resultados”, disse Sumbula.
Em causa estão sobretudo cidadãos da vizinha República Democrática do Congo que entram em Angola pelas fronteiras das províncias diamantíferas da Lunda Norte e Lunda Sul, para o garimpo ilegal de diamantes.
“Com essas cooperativas conseguimos travar o fluxo de congoleses que pretendem vir em Angola. Assim sendo, vamos fazer com que aquelas cooperativas com melhor performance se transformem em pequenas empresas”, assegurou.
A cotação… presidencial
O Presidente José Eduardo dos Santos considera “aceitável” a actual cotação dos diamantes no mercado internacional, mas defende medidas para assegurar a estabilidade e evitar quebras bruscas nos preços, como aconteceu com o barril de crude.
A posição de sua majestade o rei de Angola está expressa numa nota enviada, em Junho de 2016, ao Folha 8 pela Casa Civil do Presidente da República, referindo-se à reunião mantida, em Luanda, com Ahmed Bin Sulayen, presidente do Processo Kimberley e presidente executivo da Dubai Multi Commodities Center (DMCC), a maior zona franca dos Emirados Árabes Unidos, que congrega cerca de 12.000 empresas.
Segundo a mesma informação, o chefe de Estado e também Titular do Poder Executivo salientou que os diamantes “estão com uma cotação aceitável no mercado internacional”, tendo solicitado ao dirigente daquela entidade internacional que tenta travar o negócio dos ‘diamantes de sangue’ para “ajudar a assegurar a estabilidade do seu preço”.
“Evitando-se que ocorra sobre o preço dos diamantes o contágio do preço do petróleo, nomeadamente a sua drástica redução e alta volatilidade”, lê-se na nota.
Carlos Sumbula afirmou há um ano que os países produtores diamantíferos estão a reduzir a quantidade de pedras preciosas no mercado para travar a quebra nos preços.
“Em cooperação com todos os países produtores do mundo, estamos a reduzir a quantidade de diamantes no mercado para fazer com que a procura aumente e isso também aumentará o preço”, apontou na altura o PCA da Endiama.
“Apesar de estamos em crise na comercialização, podemos dizer que temos estado a gerir esta crise com bastante mestria, em colaboração com todos os outros países. Pensamos que no decorrer de 2016 podemos inverter a situação [quebra nos preços]”, disse na altura o presidente do Conselho de Administração da Endiama, apontando a falta de publicidade dos diamantes a nível mundial como justificação para a “crise” actual.
Folha 8 com Lusa